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Lula se reúne na terça-feira com presidentes sul-americanos para traçar novo marco de integração

Ideia da "retiro" proposta pelo presidente brasileiro é de que os países possam discutir com franqueza problemas comuns

Lula e Fernandez: primeira viagem internacional do terceiro mandato foi à Argentina (Ricardo Stuckert/PR/ Divulgação/Site Exame)
AFP

Agência de notícias

Publicado em 28 de maio de 2023 às 10h33.

Os governantes da América do Sul se reunirão na terça-feira (30) em Brasília, no que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva apresenta como um "retiro" para reativar a integração de uma região com divergências ideológicas e crises internas.

Com exceção da presidente peruana Dina Boluarte, os outros 10 líderes foram confirmados e começam a chegar a Brasília na segunda-feira para a primeira reunião regional de alto nível em quase uma década.

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O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, viajará ao Brasil, após ser impedido pelo ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro (2019-2022).Mas o governo brasileiro ainda não anunciou se Lula terá um encontro bilateral com Maduro ou algum dos outros líderes convidados.O evento acontecerá principalmente no Palácio do Itamaraty.

Depois de serem recebidos um a um por Lula, os presidentes se reunirão em duas sessões - primeiro com pronunciamentos individuais e depois para debate informal -, seguidas de um jantar no Alvorada, residência oficial do presidente brasileiro. Todas as discussões serão a portas fechadas e uma declaração final com uma posição comum ainda não está garantida.

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Sem agenda pré-estabelecida e com formato reduzido - estarão na sala apenas os presidentes, seus chanceleres e alguns assessores -, a ideia da "retiro" proposta por Lula é que os países possam discutir com franqueza problemas comuns. Isso dará à reunião um ar "despojado", "com o máximo de conversa possível", disse à AFP uma fonte do Ministério das Relações Exteriores.

Segundo a secretária brasileira para América Latina e Caribe, Gisela Maria Figuereido, o encontro terá três objetivos. Os dois primeiros são "retomar o diálogo" para buscar uma "visão comum" e acertar uma agenda de cooperação em temas como saúde, infraestrutura, energia, meio ambiente e combate ao crime organizado.

Por exemplo, o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, deu impulso na semana passada ao chamado "corredor bioceânico", uma iniciativa para movimentar cargas entre os oceanos Atlântico e Pacífico, e que Peru, Chile, Brasil, Argentina, Paraguai e Bolívia discutem há anos.

O terceiro objetivo parece mais complicado: encontrar um caminho para um novo mecanismo de integração sul-americana.

Além da Unasul

Um encontro entre os líderes sul-americanos não ocorria desde 2014 em Quito, durante a cúpula da Unasul,instância criada seis anos antes por Lula (2003-2010) e pelo venezuelano Hugo Chávez durante a primeira onda de governos de esquerda.

Mas após uma virada conservadora nas urnas, um Brasil sob instabilidade política após o "impeachment" de Dilma Rousseff em 2016 e as divergências entre países sobre a crise venezuelana, o bloco regional ficou praticamente paralisado, sem orçamento e sem sede.

Atualmente apenas sete dos doze membros da Unasul continuam na organização (Bolívia, Guiana, Suriname, Venezuela e Peru - que nunca saíram dela - além de Brasil e Argentina, que retornaram este ano). O governo brasileiro não descarta, porém, que a nova entidade seja construída do zero.

"Esperamos, também, poder dar início a um diálogo entre todos para que possamos voltar a contar com um mecanismo de concertação inclusivo, eficaz e permanente, que possa estar acima das orientações dos governos de turno", disse Vieira esta semana.

Para Jason Marczak, do Atlantic Council em Washington, o encontro "é potencialmente uma primeira tentativa de Lula para ver o que pode ser alcançado" na integração sul-americana. "Lula busca como fazer" sua terceira presidência servir para "inserir ainda mais o Brasil como um líder e avançar nas mais diversas questões globais", disse à AFP.

Mas sem discussões técnicas prévias entre os países, o encontro será "meramente simbólico", opina Eduardo Mello, internacionalista da Fundação Getulio Vargas. "Há problemas estruturais, a região passa por crises políticas e econômicas há mais de uma década, os principais projetos de desenvolvimento econômico sul-americanos fracassaram", disse à AFP. "São fatores estruturais que não se resolvem com vontade, conversando", acrescentou.

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