Brasil

Lula nega acordos ilícitos com Odebrecht e diz que Palocci mentiu

Demonstrando irritação em alguns momentos, Lula falou por cerca de duas horas nesta quarta-feira diante do juiz Sérgio Moro

Antonio Palocci: "O Palocci tem o direito de querer ser livre", disse o ex-presidente (Rodolfo Buhrer/Reuters)

Antonio Palocci: "O Palocci tem o direito de querer ser livre", disse o ex-presidente (Rodolfo Buhrer/Reuters)

R

Reuters

Publicado em 13 de setembro de 2017 às 19h35.

Última atualização em 13 de setembro de 2017 às 19h37.

Brasília - Em seu segundo depoimento ao juiz federal Sergio Moro, em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ter feito qualquer acordo ilícito com a Odebrecht e afirmou que seu ex-ministro Antonio Palocci mentiu ao envolvê-lo diretamente na compra de um terreno pela empreiteira para o Instituto Lula, em troca de manter um bom relacionamento com o governo.

Demonstrando irritação em alguns momentos, Lula falou por cerca de duas horas nesta quarta-feira no processo em que é acusado de ter recebido vantagens ilícitas da Odebrecht, incluindo a compra de um imóvel para sediar seu instituto, em São Paulo.

"A única pessoa que falou comigo desse prédio foi o presidente do instituto, Paulo Okamoto. Nós já tínhamos visitado outros para alugar ou para fazer oferta de compra", disse o ex-presidente. "Fui uma única vez e disse na hora 'não me interessa, é inadequado'", afirmou.

Em depoimento na semana passada no mesmo processo, o ex-ministro afirmou que Lula havia negociado pessoalmente com Marcelo e Emílio Odebrecht um pacote de vantagens ilícitas em troca de manter um bom relacionamento com o governo de Dilma Rousseff, que costumava ser mais dura com a empresa.

O pacote, segundo Palocci, incluiria o imóvel para o instituto Lula, a compra do sítio em Atibaia e uma conta com 300 milhões de reais a ser usada pelo ex-presidente e o PT.

Em sua fala, Lula acusa Palocci de mentir para obter os benefícios da delação e de ser frio, calculista e simulador e que seu depoimento foi "cinematográfico", armado para que o ex-ministro dissesse o que o Ministério Público queria ouvir.

"Eu conheço o Palocci bem. O Palocci, se não fosse um ser humano ele seria um simulador. Ele é tão esperto que ele é capaz de simular uma mentira mais verdadeira que a verdade. Ele é médico, calculista, é frio. Nada daquilo é verdadeiro. A única coisa que tem de verdade ali é ele dizer que está fazendo aquela delação porque ele quer o benefício da delação", disse o ex-presidente.

Lula, no entanto, disse não estar com raiva de Palocci.

"Muita gente achou que eu ia chegar com muita raiva do Palocci. Eu achei que o Palocci está preso há mais de um ano, o Palocci tem o direito de querer ser livre", disse. "O que não pode é se você não quer assumir a tua responsabilidade pelos fatos ilícitos que você fez, não jogue em cima dos outros."

O advogado de Palocci na negociação do processo de delação, Adriano Bretas, disse à Reuters que repudiava "com veemência" as declarações de Lula e que ele não tem condições de criticar quem opta pela colaboração.

"Eu devolvo para ele esses mesmos atributos. Dissimulado é o Lula, que nega tudo aquilo que o contraria, que quando falam alguma coisa contra ele é mentiroso, quando o documento é apresentado, é falso", disse.

Embate

Como em seu primeiro depoimento, o encontro de Lula com Moro teve momentos de embate entre o ex-presidente e o juiz. Lula chegou a acusar o juiz de ser "desrespeitoso" e mostrou irritação ao ser questionado sobre atos de sua esposa, dona Marisa, morta no início deste ano.

De novo, o juiz pediu que o ex-presidente não fizesse campanha ou discurso e se ativesse às perguntas, sem sucesso.

Lula criticou fortemente a Lava Jato e o Ministério Público, e chegou a citar o caso da delação do empresário Joesley Batista,

"Estamos vendo o que está acontecendo com (Rodrigo) Janot, o que está acontecendo com (Marcelo) Miller. E a força-tarefa da Lava Jato está tratando de destruir o MP contando inverdades", afirmou. "Eu poderia ficar zangado, nervoso, mas eu quero enfrentar o MP, sobretudo a força-tarefa, para provar minha inocência. Só quero que eles tenham a grandeza de um dia pedir desculpas."

Acompanhe tudo sobre:Antonio PalocciCorrupçãoLuiz Inácio Lula da SilvaNovonor (ex-Odebrecht)Operação Lava JatoSergio Moro

Mais de Brasil

Governo cria sistema de emissão de carteira nacional da pessoa com TEA

Governo de SP usará drones para estimar número de morte de peixes após contaminação de rios

8/1: Dobra número de investigados por atos golpistas que pediram refúgio na Argentina, estima PF

PEC que anistia partidos só deve ser votada em agosto no Senado

Mais na Exame