Sem banheiro ou água, jornalistas relatam restrições em posse de Bolsonaro
Profissionais afirmaram também que foram impossibilitados de entrevistar autoridades durante a cobertura em Brasília
Janaína Ribeiro
Publicado em 1 de janeiro de 2019 às 18h30.
Última atualização em 1 de janeiro de 2019 às 18h45.
Restrições à atuação da imprensa durante a cobertura de posse do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), foram divulgadas por jornalistas e pela Abraji - Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, nesta terça-feira, 1.
Segundo os relatos, os profissionais ficaram em média sete horas fechados, sem poder se deslocar entre pontos de Brasília, com acesso limitado a água e banheiros.
Sob o título "Um dia de cão", a jornalista da Folha de S.Paulo, Mônica Bergamo, descreveu como "algo jamais visto depois da redemocratização do país, em que aestreia de um novo governoeleito era sempre uma festa acompanhada de perto, e com quase total liberdade de locomoção, pelos profissionais da imprensa".
O salão nobre do Palácio do Planalto foi liberado para um jornalista de cada veículo, porém vetando o acesso às autoridades. Movimentos bruscos a exemplo dos fotógrafos que costumam levantar suas câmeras também foram vetados pela assessoria no novo governo, já que poderia levar a um sniper (atirador de elite) abater o "alvo".
Os jornalistas também teriam de embarcar em um ônibus às 8 horas rumo ao Congresso. A posse presidencial estava marcada para começar às 15 horas (sete horas de espera). Foi vetado a distribuição de cafezinhos e as cadeiras foram retiradas, levando aos profissionais trabalharem sentados no chão. Lanches deveriam ser levados em sacos transparentes, e maçãs deveriam ser cortadas - já que inteiras causariam alguma lesão no presidente "se lançadas".
Em nota publicada no Twitter , a Abraji diz que "um governo que restringe o trabalho da imprensa ignora a obrigação constitucional de ser transparente. Os brasileiros receberão menos informações sobre a posse presidencial por causa das limitações impostas à circulação de jornalistas em Brasília".
A jornalista Miriam Leitão também sinalizou seu descontentamento, publicando artigo pelo jornal O Globo. "Cubro posse desde o general João Figueiredo. Nunca houve nada tão restritivo".
Ainda segundo O Globo, profissionais de imprensa da China e França abandonaram a posse reclamando do tratamento dado aos jornalistas que foram colocados em uma sala sem janelas e apenas com uma televisão. Eles teriamficaram irritados quando souberam que não conseguiriam capturar imagens da população nas ruas.
Segundo o Itamaraty, quem quisesse sair não poderia voltar.