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Formar professor é peça-chave da base curricular, diz pesquisador

Especialista afirma que a nova Base só vai chegar às salas de aula se houver apoio financeiro do governo para os programas de treinamento dos professores

Escolas: Base Nacional Comum Curricular foi aprovada na última sexta-feira (Germano Luders/Site Exame)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 18 de dezembro de 2017 às 14h34.

São Paulo - A aprovação da Base Nacional Comum Curricular , na última sexta-feira, pode ser uma oportunidade para que, finalmente, o Brasil invista na formação dos seus professores.

É o que pensa o pesquisador da Universidade de Stanford, David Plank, que estuda o documento brasileiro em comparação ao Common Core, norma semelhante que está em vigor nos Estados Unidos desde 2010.

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Mas, para o especialista, a Base só vai chegar às salas de aula se houver apoio financeiro do governo federal para os programas de treinamento dos professores, principalmente para os Estados e municípios mais pobres.

"Aprovar a Base é uma grande vitória para o Brasil, dedicou-se muito tempo, foram muitas discussões para se chegar a isso, mas agora é que o trabalho duro começa", diz.

Plank é americano, já foi professor da Universidade Federal da Bahia e atualmente dirige o Lemann Center, centro financiado pela Fundação Lemann em Stanford.

Por que é importante um país ter uma Base Curricular?

Eu digo que a Base simultaneamente traça objetivos e é uma alavanca. Os novos padrões de aprendizagem dão um rumo para o sistema educacional, especificam o que os estudantes precisam aprender em cada nível de ensino.

E dão um direcionamento do que os professores têm que fazer, do que as escolas têm que fazer.

Mas também exigem que o sistema faça outras mudanças, como redesenhar o sistema de avaliação.

Porque você precisa testar os estudantes de acordo com os novos objetivos. Os Estados e municípios também precisam desenvolver currículos que vão ajudar seus professores a entenderem os novos padrões.

E, para isso, precisam de novos livros didáticos. Os professores brasileiros, e os americanos também, dependem muito de livros didáticos. É preciso dar a eles guias claros sobre quais objetivos eles devem atingir e que passos precisam dar para chegar lá.

Qual o momento certo para se começar a avaliar os estudantes conforme a Base?

Não existe um momento mágico. Avaliações não te dizem nada interessante a não ser que elas estejam alinhadas ao que está sendo ensinado pelos professores. Senão, você tem um falso resultado do que os estudantes estão fazendo.

Em Nova York, os professores estavam ensinando de acordo com os padrões antigos porque não sabiam quais eram os novos, mas as avaliações estavam cobrando os novos, que os estudantes nunca tinham visto e os professores nunca tinham ensinado (a polêmica descontentou pais e professores e fez com que NY desistisse de seguir o Common Core).

Realmente, foi muito cedo. Mas outra questão é os professores começarem a aprender os novos objetivos e você manter as avaliações antigas.

E, de novo, você tem um alinhamento errado entre avaliações e ensino. Eu diria que dois ou três anos são necessários para introdução dos novos padrões, para dar o tempo para os professores mudarem sua forma de ensinar.

Os professores são ponto principal da implementação?

Com certeza. O papel central tem que ser feito pelos professores. Eles precisam se sentir consultados, incluídos.

Eles precisam entender que esses são os padrões que eles acreditam e que, assim, vão fazer um trabalho melhor e os estudantes vão aprender mais.

Mas eles sozinhos não podem fazer as mudanças que a Base prevê. Eles precisam de muita ajuda. A coisa mais importante que deve ser feita é a formação dos professores.

Os novos professores precisam estar educados sobre os novos parâmetros e sobre como educar os estudantes para eles atingirem os objetivos.

E o maior foco deve ser o trabalho com os professores que estão já nas salas de aula. Eles estão mais familiarizados com os padrões antigos ou nenhum padrão e vão continuar a fazer assim a não ser que sejam treinados para fazer diferente.

Para isso, é preciso tempo e dinheiro.

Sim, tudo isso é muito caro. Se o governo federal quiser que a Base faça diferença, ele vai ter que dar ajuda financeira para Estados e municípios para financiar os programas de treinamento principalmente dos professores que estão nas salas de aula.

A Base em si não significa muito. É uma coisa legal, boa, mas se você não investe os recursos necessários para implementação, ela pode não ter resultado nenhum.

Agora é o momento de dar tempo e dinheiro para que os professores aprendam os novos padrões.

Isso pode levar a grandes avanços na educação brasileira.

Há críticos da Base que dizem que ela vai favorecer empresas que produzem livros didáticos, que vão vender para o governo esse material novo.

Uma implementação bem-sucedida da Base exige novos livros didáticos, novos materiais, guias de estudo. A Base sozinha não tem nenhum sentido sem essas coisas.

A questão aqui é como vamos produzir essas coisas. E não se precisamos dessas coisas ou se alguém vai ganhar dinheiro com isso.

O governo, se quiser, pode produzir esses materiais, alguns países fazem isso. Nos Estados Unidos, a produção é uma coisa de mercado.

O Brasil não é um país socialista, Estados Unidos também não. Alguém vai ganhar dinheiro e tudo bem.

O governo só precisa ter certeza de que o contrato é justo, que haja competição, que a empresa que produzir os melhores materiais será escolhida.

O Common Core tem apenas as áreas de inglês e matemática. Aqui, a Base tem todas as áreas e até ensino religioso, que causou muita polêmica. Qual o melhor modelo?

Nos Estados Unidos, foi uma decisão estratégica focar em inglês e matemática porque são as duas disciplinas vistas como fundamentais para as outras. Você precisa ler para entender história e geografia e precisa de matemática para ciências.

No Brasil, você está vendo a Base com ensino religioso, história, outras disciplinas que podem ter mais discordâncias.

O que devemos ensinar aos estudantes sobre história? Muita gente discorda sobre como contar a história.

O que nós decidimos foi: isso não é problema nosso. Deixem que os Estados decidam, as escolas decidam.

Não quisemos focar em coisas que causariam discussões políticas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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