Filha de Queiroz enviou ao pai 77% de seu salário no gabinete de Bolsonaro
Dados obtidos pelo jornal "Folha de S. Paulo" a partir da quebra de sigilo de Nathália confirmam relatório do Coaf revelado pelo GLOBO no ano passado
Agência O Globo
Publicado em 13 de agosto de 2020 às 11h10.
Última atualização em 13 de agosto de 2020 às 12h01.
Filha do ex-assessor de Flávio Bolsonaro , a personal trainer Nathália Queiroz repassou a maior parte de seu salário para o pai, Fabrício Queiroz, quando ainda trabalhava no gabinete do presidente Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Dados da quebra do sigilo de Nathália obtidos pelo jornal "Folha de S. Paulo" corroboram a revelação feita pelo GLOBO, em março do ano passado, de um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que apontou transferências bancárias de 80% de seus vencimentos para Queiroz quando trabalhava para Bolsonaro.
De acordo com a reportagem, Nathália transferiu R$ 150,5 mil para a conta do pai no período em que esteve lotada no gabinete de Bolsonaro, de janeiro de 2017 a setembro de 2018 - o equivalente a 77% do que recebeu na Câmara dos Deputados.
O nome de Nathália veio à tona pela primeira vez quando um relatório do Coaf apontou que seu pai movimentou R$ 1,2 milhão de entre 2016 e 2017. O documento identificou que ela fez repasses a Queiroz em um total de R$ 97,6 mil ao longo do ano de 2016, quando ainda era assessora de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj).
Com a quebra de sigilo, os promotores, dia a "Folha", identificaram repasses de Nathália de ao menos 82% de seus vencimentos para Queiroz quando ela trabalhava no gabinete de Flávio, na Alerj, de dezembro de 2007 a dezembro de 2016. Nesse período, foi da liderança do PP, do setor de notas taquigráficas e, a partir de 2011, passou a trabalhar com Flávio.
O relatório do Coaf obtido pelo GLOBO no ano passado classificou a movimentação financeira de Nathália no período como “aparentemente incompatível com a capacidade financeira da cliente”. Além disso, o órgão apontou como ocorrência ainda o “uso do dinheiro em espécie” para “inviabilizar a identificação da origem e real destino dos recursos”. Nesse período, ela efetuou 23 saques em dinheiro no total de R$ 11.950.
Por meio de nota enviada à "Folha", a defesa de Queiroz afirmo que os repasses seguiam a lógica de “centralização das despesas familiares na figura do pai”. A Presidência da República não quis comentar o caso.
Queiroz é investigado pelo Ministério Público do Rio (MP-RJ) sobre a prática de “rachadinhas” na Alerj — quando servidores devolvem parte dos salários aos deputados que os nomearam. Ele foi preso em junho deste ano , mas teve prisão domiciliar concedida pelo presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro João Otávio de Noronha.
Na segunda-feira, a defesa de Queiroz protocolou seu primeiro habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF), distribuído ao ministro Gilmar Mendes, pedindo a revogação da prisão domiciliar dele — ou seja, que ele fique sem nenhuma restrição em sua liberdade.