Eleições 2020: mulheres batem recorde em número de candidaturas
Há 170.000 mulheres disputando vagas nas câmaras municipais, 140% a mais do que em 2000. A proporção de aspirantes a prefeitas também dobrou no período
Carla Aranha
Publicado em 14 de novembro de 2020 às 13h24.
Última atualização em 14 de novembro de 2020 às 14h02.
Há mais mulheres disputando cargos nas câmaras municipais e prefeituras dos 5.568 municípios brasileiros nas eleições de 2020. Elas representam um terço dos postulantes ao cargo de vereador. São quase 174.000 candidatas em todo país, um aumento de 140% em comparação ao ano de 2000.
A proporção de aspirantes a prefeitas também dobrou, passando de 8,2% em 2000 para 15,5% neste ano. “Houve uma pressão da sociedade para que diferentes perfis de candidatos, incluindo de mulheres e negros, que correspondem a metade da população brasileira, tivessem mais representatividade na política”, diz a cientista política Flavia Birolli, da Universidade de Brasília.
É verdade também que há um imenso abismo entre o número dos que concorrem às eleições e os que são efetivamente eleitos: em 2016, 12% dos cargos de prefeito e 13% das vagas de vereadores foram ocupados por mulheres.
“O aumento da participação das mulheres na vida pública brasileira deve ser incentivado por duas razões. A primeira é uma questão de justiça de gênero: homens e mulheres dividindo equitativamente os espaços de poder”, disse à EXAME o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “A segunda é que as mulheres têm virtudes e características que agregam valor à vida pública. Não por acaso, alguns dos países que mais bem se saíram no combate à pandemia eram liderados por mulheres, como Nova Zelândia, Alemanha e Dinamarca.”
É fato também que os principais avanços no cenário eleitoral têm vindo a reboque de regras eleitorais que forçam mais diversidade — e transparência — nas urnas. A lei que estabelece que 30% das candidaturas deveriam ser de mulheres nas eleições proporcionais (ou seja, cargos de vereadores e de deputados estaduais e federais) data de 1997.
Duas décadas se passaram para que as candidatas tivessem acesso aos recursos das campanhas proporcional à sua participação nas urnas.
Em 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu a doação de empresas para campanhas eleitorais com o objetivo de coibir o toma lá dá cá envolvendo políticos e o meio corporativo, mas o que também permitiu concentrar recursos nos candidatos de maior potencial.
Em 2018, uma nova norma do Supremo estabeleceu que pelo menos 30% do fundo partidário — criado em 2017 para compensar o fim do financiamento privado — teria de ser destinado a candidaturas femininas.
Portanto, o atual pleito municipal é o primeiro em que as campanhas femininas terão um forte investimento dos partidos. De acordo com levantamento da EXAME, até o dia 13 de novembro as candidaturas femininas receberam em conjunto 441 milhões de reais, ante o 1 bilhão de reais recebidos pelos homens.
“Mesmo que ainda falte avançar em relação à equidade, essas mudanças e uma maior vontade de renovação política vem animando até as mais jovens a entrar na política”, diz Carol Gonçalves, de 24 anos, candidata a vereadora pelo MDB em Toritama, uma cidade de 45.000 habitantes no agreste pernambucano.
Gonçalves foi uma das selecionadas para integrar um grupo de cem candidatas de todo o Brasil apoiadas pela deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP) para dar visibilidade às mulheres que postulam um cargo na política, por meio do movimento Vamos Juntas e Acredito.
O programa oferece desde mentorias com parlamentares até consultas com juristas e sessões de terapia. “Participar de uma campanha política sendo mulher e com poucos recursos é um desafio”, diz a deputada de 26 anos, um dos símbolos do movimento de renovação política. “Precisamos de mais mulheres para tornar o cenário político mais representativo da realidade brasileira.”
Renovação política
Os movimentos de renovação política têm tido papel central em ampliar a participação feminina no cenário político. “Muitas vezes, mais importante do que os recursos financeiros é o apoio e a qualificação que recebemos dos movimentos sociais atentos à importância da renovação na política”, diz a advogada Isabela Souza, de 24 anos, de Salvador, candidata a vereadora pelo Cidadania.
Moradora de uma comunidade pobre da cidade, Souza procurou se preparar melhor para o papel que pode vir a exercer na Câmara de Vereadores até antes de se candidatar. Ela fez os cursos de capacitação em políticas públicas do RenovaBR, fundado em 2017 pelo empresário Eduardo Mufarej, ex-sócio da Tarpon Investimentos, que oferece aulas sobre busca de financiamento para campanhas, estratégia de comunicação com os eleitores e marketing político.
Outros movimentos, como o Acredito, também criado em 2017, ancoraram as bases para a renovação política por meio da criação de redes com líderes regionais para angariar o engajamento político de jovens. “Há um maior interesse pelo debate político”, diz Irina Bullara, diretora executiva do RenovaBR.
Dos 1.800 alunos que o RenovaBR teve neste ano, 1.032 resolveram se candidatar, um recorde. “São pessoas imbuídas de um interesse genuíno pelo bem-estar coletivo.” No domingo, 15 de novembro, as urnas irão mostrar se elas irão conquistar mais cadeiras na política municipal.