Diretor do Butantan pede que Bolsonaro tenha dignidade para agilizar envio de insumos da China
Há incertezas sobre o que vai acontecer quando as doses da CoronaVac acabarem no Brasil, que com 211,8 milhões de habitantes, já soma mais de 211 mil mortos pela pandemia
AFP
Publicado em 20 de janeiro de 2021 às 07h42.
Última atualização em 20 de janeiro de 2021 às 11h42.
O presidente do Instituto Butantan, responsável no Brasil pela única vacina contra o novo coronavírus usado até agora no país, pediu nesta terça-feira (19) ao presidente Jair Bolsonaro que "tenha a dignidade" de ajudar a agilizar o envio de insumos do imunizante da China.
Bolsonaro criticou em várias ocasiões a vacina promovida pelo governador de São Paulo, João Doria (um de seus principais adversários políticos), e fabricada na China, um país do qual o presidente alinhado com o americano Donald Trump buscou tomar distância.
Apesar disso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou no domingo o uso emergencial da CoronaVac, vacina produzida pelo laboratório chinês Sinovac em colaboração com o Butantan, subordinado ao estado de São Paulo, assim como do imunizante britânico da AstraZenevca/Universidade de Oxford, elaborado em cooperação com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), vinculada ao ministério da Saúde, que ainda não chegou ao Brasil.
A imunização começou com a distribuição de seis milhões de doses da CoronaVac e o Butantan solicitou a autorização para outras 4,8 milhões de doses, reservadas a grupos de risco, como idosos, profissionais de saúde e comunidades indígenas.
Há incertezas sobre o que vai acontecer quando as doses acabarem no país de 211,8 milhões de habitantes e que soma mais de 211 mil mortos pela pandemia.
Tentando recuperar terreno diante de Doria, Bolsonaro proclamou na segunda-feira que "a vacina é do Brasil, não de nenhum governador".
O presidente do Butantan, Dimas Covas, interpretou a declaração ao pé da letra.
O Instituto Butantan tem um acordo com o laboratório Sinovac para receber uma quantidade suficiente do principal insumo da vacina, chamado IFA, para fabricar 40 milhões de doses da CoronaVac, informou o Instituto à AFP.
Esse envio só aguarda a autorização do governo chinês, acrescentou.
O Brasil aguarda, também, a chegada de 2 milhões de doses da vacina da AstraZeneca/Oxford da Índia, onde é fabricada. O governo brasileiro havia anunciado que a carga chegaria na semana passada, mas o país asiático não autorizou o envio e por enquanto não há data para o transporte.
Após a importação destas doses, a Fiocruz tem previsto começar a fabricar esta vacina no Brasil, mas os insumos, que também são importados da China, enfrentam o mesmo atraso para chegar ao país e isto poderia afetar o cronograma, informou a instituição nesta terça.