De volta ao Brasil, Bolsonaro precisará encarar crise com Moro
Problemas iniciaram com a vontade do presidente em tirar poderes do seu ministro mais popular. Com a repercussão negativa, Bolsonaro voltou atrás
Da Redação
Publicado em 27 de janeiro de 2020 às 06h56.
Última atualização em 27 de janeiro de 2020 às 07h18.
São Paulo — A viagem de volta da Índia do presidente Jair Bolsonaro está marcada para hoje. Comercialmente, a viagem foi promissora, com 15 acordos bilaterais assinados. Mas Bolsonaro foi constantemente cobrado por um tema sobre o qual deve se debruçar agora, na volta para casa: a nova crise com o ministro da Justiça, Sérgio Moro.
Na semana passada, ao afirmar que o Ministério da Justiça poderia ser fatiado para que a pasta da Segurança Pública pudesse ser recriada, Bolsonaro deixou claro o seu descontentamento com o seu ministro mais popular – com aprovação em pesquisas superior à do próprio presidente.
Como os índices de violência vêm diminuindo, a manobra foi vista como uma forma de retirar parte dos poderes de superministro de Moro – tido como um possível rival em 2022 pelo clã Bolsonaro. Após a repercussão negativa (e de um aceno do próprio Moro de que sairia do governo com a mudança), Bolsonaro voltou atrás e negou que o Ministério da Justiça seria fatiado.
Além de uma eventual disputa nas urnas, o presidente não teria gostado da participação de seu ministro no programa Roda Viva, da TV Cultura, e também do avanço das investigações do Ministério Público a possíveis irregularidades cometidas pelo senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) na época de deputado estadual.
Essa não é a primeira vez que Bolsonaro coloca Moro na fritura. Em agosto, segundo o livro “Tormenta – Governo Bolsonaro, crises intrigas e segredos”, escrito pela jornalista Thaís Oyama, o presidente estava decidido a demitir o ministro.
O motivo foi que Moro pediu a Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, que reconsiderasse uma liminar que parou as investigações baseadas nos dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Entre elas, a que envolve Flávio Bolsonaro.
De acordo com a obra, o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, demoveu Bolsonaro da ideia. De lá pra cá, os próprios militares perderam peso dentro do governo.
De volta à crise com Moro, resta saber se Bolsonaro recuará mais uma vez ou continuará em rota de colisão com um dos nomes mais fortes de seu governo.