Crivella manda retirar livro com personagem gay, mas Bienal se recusa
Nesta manhã, após repercussão da censura, a obra "Vingadores - A Cruzada das Crianças" se esgotou em meia hora no evento
Clara Cerioni
Publicado em 6 de setembro de 2019 às 10h47.
Última atualização em 6 de setembro de 2019 às 17h32.
São Paulo — O prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella , determinou na noite desta quinta-feira (05), que a Bienal do Livro recolhesse uma história em quadrinhos por "conteúdos impróprios para menores".
A obra em questão é Vingadores - A Cruzada das Crianças, da Marvel Comics. O livro, lançada em 2010, não é destinado ao público infantil, e tem dois personagens, Wiccano e Hulkling, que são namorados. Na HQ, há apenas uma cena de beijo entre eles.
Em vídeo publicado em seu Twitter, Crivella, que também é bispo pela Igreja Universal, de Edir Macedo, afirma que "não é correta que elas [as crianças] tenham acesso precoce a assuntos que não estão de acordo com suas idades".
Ele diz, ainda, que "livros assim precisam estar em um plástico preto, lacrado, avisando o conteúdo”. Na postagem o prefeito não esclarece com base em qual norma legal emitiu a determinação.
Em nota enviada à reportagem, a Bienal afirmou que não vai retirar de circulação o livro, mas que "caso um visitante adquira uma obra que não o agrade, ele tem todo o direito de solicitar a troca do produto, como prevê o Código de Defesa do Consumidor".
Afirma, ainda, que o evento "dá voz a todos os públicos, sem distinção, como uma democracia deve ser" e que não irá lacrar ou embalar a obra, porque ela não contém conteúdo "pornográfico ou impróprio".
Segundo a nota, "este é um festival plural, onde todos são bem-vindos e estão representados. Inclusive, no próximo fim de semana, a Bienal do Livro terá três painéis para debater a literatura Trans e LGBTQA+".
Nesta manhã, após a repercussãoda censura da obra, todos os exemplares do livro que estavam à venda em diferentes estande se esgotaram em pouco mais de meia hora, de acordo com a assessoria do evento.
No fim da tarde desta sexta, a Bienal do Rio de Janeiro entrou com um pedido de mandado de segurança preventivo no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro com o intuito de garantir o funcionamento do evento e o direito dos expositores em comercializar suas obras.