Crescem mortes por câncer de mama em regiões pobres
No outro extremo, regiões mais ricas observam estabilização ou queda na variação da taxa
Da Redação
Publicado em 28 de setembro de 2015 às 11h59.
São Paulo - A variação anual da taxa de mortalidade por câncer de mama é até 11 vezes maior em áreas pobres do país, em comparação com regiões ricas.
É o que mostra estudo inédito da Sociedade Brasileira de Mastologia, feito em parceria com pesquisadores da Rede Goiana de Mastologia.
A dificuldade de acesso a métodos de detecção e de tratamento em áreas do Norte e Nordeste do país é a principal razão apontada para a diferença.
A pesquisa avaliou as taxas de mortalidade por esse tipo de tumor em um intervalo de dez anos, entre 2002 e 2011, em todos os Estados e relacionou os dados com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de cada local.
Embora o Sul e Sudeste tenham taxa de mortalidade maior do que as demais regiões do país, a velocidade de crescimento das mortes pela doença é significativamente maior nas áreas mais pobres.
De acordo com o estudo, no período analisado, a variação anual da taxa de mortalidade por câncer de mama chegou a 11,2% no Maranhão, Estado com o maior aumento porcentual e com um dos piores IDHs do país. Situação semelhante foi observada nos Estados do Piauí e Paraíba, com variações anuais de 9,8% e 9,3%.
No outro extremo, regiões mais ricas observam estabilização ou queda na variação da taxa. São Paulo, por exemplo, teve variação negativa média de 1,7% ao ano. Paraná, Rio Grande do Sul, Rio e Distrito Federal, todos Estados com IDHs altos, também tiveram queda na variação das taxas de mortalidade.
O artigo, publicado no periódico BMC Public Health, aponta como razões para os resultados a falta de recursos disponíveis para o tratamento nos Estados menos desenvolvidos e a dificuldade de acesso a esses recursos para a maioria da população.
"Em alguns casos, a situação seria comparável à encontrada na Nigéria, onde não há programas específicos de rastreamento do câncer dentro do sistema nacional de saúde e só existem dois hospitais que oferecem o tratamento terciário para a doença (radioterapia e quimioterapia)", diz o estudo.
Para Ruffo de Freitas Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia e um dos autores do estudo, embora o sistema de saúde tenha melhorado nas últimas décadas, a estrutura ainda é insuficiente, sobretudo nas regiões mais pobres.
"O crescimento ou a queda das taxas de mortalidade dependem muito das ações de saúde que estão sendo implementadas em cada local. É no Norte e Nordeste exatamente onde temos as menores coberturas mamográficas", diz ele.
Espera
Foi esse o drama vivido pela cabeleireira aposentada Maria do Rosário Almeida Martins, de 60 anos. Em novembro do ano passado, ela percebeu um caroço no seio e passou na ginecologista no mês seguinte para fazer um ultrassom.
"Em janeiro, a médica já viu um nódulo, mas disse que o resultado do exame estava escuro e que eu tinha de fazer outro. Como ia demorar, paguei R$ 89 para fazer particular porque estava desesperada", conta ela, moradora de São Luís, no Maranhão.
A paciente ainda foi encaminhada para a mastologista e teve de passar por outros exames antes de iniciar o tratamento. Só fez a cirurgia de retirada do tumor em agosto, oito meses após o diagnóstico.
"A mastologista disse que no primeiro exame o tumor aparecia bem pequenininho, e que cresceu bastante desde então. E só não demorou mais a cirurgia porque eu paguei do meu bolso parte dos exames pré-operatórios. No SUS, eu estava na lista de espera", conta ela, que agora faz quimioterapia.
O Ministério da Saúde afirma que ampliou o acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento do câncer de mama, "em especial nas Regiões Norte e Nordeste".
Entre 2011 e 2014, o número de exames do tipo realizados em mulheres de 50 a 69 anos aumentou 66,3% no Nordeste e 125,6% no Norte, de acordo com a pasta.
O ministério afirma ainda que, no período, cresceu o número de cirurgias oncológicas e de sessões de radioterapia e quimioterapia nessas regiões.