Covas vence nos mesmos lugares que Bolsonaro; Boulos avança 2 distritos
O prefeito reeleito em São Paulo venceu nas regiões do centro expandido e na zona norte. Boulos teve dois distritos a mais que Haddad em 2018
Carolina Riveira
Publicado em 30 de novembro de 2020 às 10h01.
Última atualização em 30 de novembro de 2020 às 16h35.
Dois anos se passaram, mas não tanta coisa mudou. O prefeito reeleito em São Paulo Bruno Covas (PSDB) venceu na capital paulista nos mesmos lugares que deram vitória ao presidente Jair Bolsonaro em 2018, segundo os dados por distrito do TSE.
Covas teve vitórias fortes sobretudo no centro expandido e na zona norte de São Paulo, mesma região onde Bolsonaro teve os melhores resultados em 2018.
Já o opositor Guilherme Boulos (PSOL) repetiu quase todas as vitórias de Fernando Haddad (PT), tendo vencido em seis zonas eleitorais, todas na periferia -- no extremo sul de São Paulo, áreas onde o PT é forte, e em distritos da zona leste mais afastados do centro. Em 2018, Haddad tinha vencido em quatro zonas eleitorais das 52 de São Paulo, com as demais ficando para Bolsonaro.
A proporção de votos na disputa Covas/Boulos também foi muito similar à de Bolsonaro/Haddad. Em 2018, Bolsonaro venceu com 60,38% dos votos (Covas, com 59,38%), ante 39,63% de Haddad (Boulos teve 40,62%).
Apesar da proporção parecida, Covas teve em 2020 menos votos absolutos do que Bolsonaro (Bolsonaro teve 3,69 milhões de votos, contra 3,17 milhões de covas). A redução é em parte devido ao recorde de abstenção em São Paulo neste segundo turno, quando Covas também teve menos votos do que a soma de brancos, nulos e abstenções.
Em 2018, as maiores vitórias de Bolsonaro em São Paulo foram em Indianópolis, Santana, Mooca e Tatuapé, todas com mais de 70% dos votos. Neste ano, essas áreas voltaram a dar vitórias acima de 70% a Covas. Em Indianópolis, o prefeito venceu com quase 76% a 24% de Boulos.
Já o PSOL comemorou a adição de duas zonas eleitorais em relação a 2018: Campo Limpo, na zona sul (e onde Boulos mora) e São Mateus, área periférica da zona leste. Assim, o psolista consolidou o melhor desempenho da esquerda em São Paulo desde 2012, quando Fernando Haddad ganhou a prefeitura.
No centro da cidade, a maior votação percentual de Boulos foi na Bela Vista, que abarca regiões como a Santa Cecília: por lá, ficou com 44% dos votos, mais próximo de Covas do que nas outras áreas da região central.
Em outras regiões da periferia, Boulos também se aproximou de Covas, como em Guianases, na zona leste, onde Covas levou por só dois pontos percentuais. Ainda assim, na maior parte da cidade Covas venceu com folga, mais de cinco ou dez pontos de diferença.
Boulos teve apoio de uma frente de esquerda neste segundo turno, que nomes mais próximos ao centro, como a Rede de Marina Silva e a deputada Tabata Amaral (PDT). O PSOl também teve apoio do próprio PT e de seu candidato, Jilmar Tatto. Já Covas teve apoio de nomes como Celso Russomanno (Republicanos) e de Joice Hasselmann e do PSL, partido em que o presidente Jair Bolsonaro ganhou em 2018.
O PSOL sai da eleição nacionalmente com sua segunda capital na história do partido fundado em 2005, após a vitória de Edmilson Rodrigues em Belém. Já Boulos também termina com maior visibilidade às pautas de moradia defendidas pela campanha, e com mais projeção nacional. Na Câmara paulistana, o PSOL triplicou o número de vereadores, de dois para seis.
A campanha psolista foi elogiada por um bom uso das redes sociais, frente em que Bolsonaro dominou praticamente sozinho em 2018. “As urnas de 2020 mostram uma esquerda brasileira mais diluída entre PSB, PDT e PSOL”, disse Maurício Moura, do Ideia, em entrevista anterior à EXAME após os resultados.
Já a vitória do PSDB em São Paulo era vista como crucial para o partido, que é o que mais perdeu prefeituras em 2020 na comparação com a legislatura anterior. Ainda assim, analistas apontam que as pautas de centro e centro-direita defendidas pelo PSDB saem vitoriosas, em meio à derrota dos candidatos defendidos pelo presidente Jair Bolsonaro, como Marcelo Crivella no Rio e Russomanno em São Paulo. Juntos, PSDB, DEM e MDB terão prefeitos de metade da população brasileira.
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