Brasil vota contra resolução da ONU que critica medidas de austeridade
Na resolução, pede-se "gastos públicos consistentes para garantir as obrigações dos governos com os direitos humanos"
Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de março de 2018 às 19h23.
Última atualização em 22 de março de 2018 às 22h43.
Genebra - O Brasil vota contra uma resolução na ONU que critica medidas de austeridade e que aponta como reformas econômicas podem levar ao desmantelamento de serviços sociais e direitos básicos.
A resolução, mesmo sem o voto do Brasil, foi aprovada no Conselho de Direitos Humanos . Ela contou com 27 votos a favor, com 16 países votando contra e quatro optando por se abster.
Promovida por Cuba, a resolução repete uma iniciativa do mesmo governo que, no ano passado, também colocou o tema na agenda. Naquele momento, o Brasil também votou contra o texto e que renovava o mandato de um relator independente com a função de percorrer o mundo para avaliar o impacto de reformas econômicas nos direitos humanos.
Na resolução deste ano e que teve o apoio ainda da China, pede-se "gastos públicos consistentes para garantir as obrigações dos governos com os direitos humanos". O texto ainda pede que essas políticas levem em conta principalmente os mais pobres e vulneráveis.
O texto ainda insiste que reformas econômicas não devem violar direitos econômicos e sociais, nem podem gerar medidas que possam ir contra conquistas adquiridas.
A resolução ainda pede que os governos colaborem com o relator independente da ONU sobre o assunto. Neste ano, porém, o Brasil cancelou a visita da missão da entidade, indicando apenas que uma nova data lhe seria oferecida. Até agora, porém, não houve qualquer tipo de sinalização nessa direção.
Em discurso para apresentar o projeto, Cuba lamentou que alguns países ainda não reconhecem a relação da dívida externa e direitos humanos. Havana também criticou políticas de austeridade.
Ao explicar seu voto, a embaixadora do Brasil na ONU, Maria Nazareth Farani Azevedo, indicou que alguns pontos da resolução chegaram a ser modificados para atender aos pedidos do governo brasileiro. Mas, ainda assim, não foi suficiente para que o Brasil mudasse de posição.
"O Brasil continua preocupado com a ideia de base de que reformas econômicas afetam a realização das obrigações de direitos humanos", disse a embaixadora. "Pelo contrário, o Brasil acredita que uma economia fora dos trilhos não pode promover a realização dos direitos humanos. Depois de herdar uma recessão severa, principalmente causada por gastos descontrolados, o governo promoveu uma agenda de reformas para garantir a sustentabilidade dos programas sociais atuais", disse.
"Um ano depois, a inflação está sob controle, desemprego cai e a economia cresce de novo", afirmou a diplomata. "Estamos convencidos de que sem responsabilidade fiscal, políticas sociais não passam de promessas vazias", completou.
Além do Brasil, o governo do Reino Unido também criticou a aprovação da resolução, alegando que o Conselho de Direitos Humanos não é o "local correto" para debater a questão da dívida externa. "Isso não está no mandato do Conselho", disse.