Brasil está pronto para ter seu Macron, diz Guillaume Liegey
Estrategista da campanha do presidente francês acredita que há espaço no Brasil para aliar tecnologia e diálogo e renovar a forma de mobilizar os eleitores
Luiza Calegari
Publicado em 31 de janeiro de 2018 às 15h28.
Última atualização em 31 de janeiro de 2018 às 15h33.
São Paulo – Uma campanha eleitoral eficiente, que use big data para aproximar o político da população, como a que elegeu Emmanuel Macron na França, pode ser replicada no Brasil. Quem diz isso é Guillaume Liegey, presidente da Liegey Muller Pons, empresa de tecnologia que coordenou a campanha do mais jovem presidente francês.
Liegey esteve em São Paulo nesta quarta-feira (31) para a Latin America Investment Conference do banco de investimentos Credit Suisse. E fez considerações sobre alguns dos principais candidatos à presidência no Brasil: “Em relação ao Bolsonaro, eu não conheço suas ideias, mas sei que ele é radical, e um radical é muito bom em animar as próprias bases, mas terá muita dificuldade em mobilizar qualquer outra pessoa num segundo turno”.
“O Alckmin certamente sabe muito sobre campanhas políticas, e não dá para menosprezar o tempo que ele vai ter na TV. E, por fim, eu acredito, sim, que alguém como Luciano Huck poderia ter uma chance. Tudo pode acontecer”, avalia.
Segundo VEJA, ele já se encontrou com representantes do movimento Agora!, que tem entre seus quadros um possível pré-candidato à presidência, o apresentador Luciano Huck . O apresentador voltou a articular uma candidatura após a divulgação do Datafolha nesta quarta, segundo a coluna da jornalista Vera Magalhães no Estadão.
O caminho das pedras
Em sua fala, Liegey destacou que Brasil e França têm muitas diferenças, mas que o país vive, em 2018, um cenário muito parecido com o francês no ano passado: uma desconfiança generalizada da política, e um contexto em que partidos grandes e consolidados estão reticentes em adotar novas estratégias de campanha.
Para a plateia de investidores e empresários, Liegey detalhou a chave do sucesso da campanha de Macron, que se espelhou na estratégia bem-sucedida e pioneira de Barack Obama nos Estados Unidos, da qual o estrategista francês participou como coadjuvante.
“Quando eu coloquei meu nome na lista para participar da campanha de Obama, algumas horas depois um completo desconhecido me ligou perguntando se eu estaria disposto a bater de porta em porta em algum lugar de Nova York. Eu pensei: ir de porta em porta, em pleno século 21? E por que Nova York, se estou em Boston?”, narra.
Mas ele aceitou a proposta mesmo assim, e pôde aprender em primeira mão sobre o que funcionou para Obama: Nova York era um dos chamados “swing states”, estados que não têm uma preferência política histórica definida, e que, portanto, são cruciais nas eleições nacionais.
A visita às casas dos eleitores tinha dois propósitos: um deles era incentivar as pessoas a votarem, dar a elas informações sobre como fazê-lo (já que nos EUA o voto não é obrigatório). A outra era escutar o eleitor, e isso fez toda a diferença, diz Liegey, já que os políticos costumam falar muito e escutar pouco.
Aplicando o que aprendeu com Obama na campanha de Macron, a empresa de Liegey mapeou, com auxílio de tecnologia, os lares onde os eleitores não tinham uma opinião formada sobre seus candidatos, e enviou voluntários com um questionário de oito perguntas sobre suas principais demandas, medos, sonhos e esperanças. Esse movimento ficou conhecido como a "grande marcha" de Macron e seus apoiadores pelo país.
“Eu me espanto com o número de afiliados que os partidos têm no Brasil, e mesmo assim não existe esse tipo de mobilização. Quando você faz um discurso, um comício, você só está falando com quem já vai votar em você, é um desperdício de dinheiro. O François Hollande gastou quase um terço do seu orçamento de campanha em uma estratégia que não lhe trouxe um voto sequer”, pontua o estrategista.
Ele afirma que, para uma campanha desse tipo funcionar, é preciso aceitar que haverá fatores fora do controle do candidato, mas acreditar que é possível mudar o que estiver ao seu alcance. "É preciso descobrir os 20% a 30% dos eleitores que mudam de ideia, e focar sua estratégia neles. Não garanto que é isso que vai levar o candidato a vencer a eleição, mas garanto que isso aumenta o número de votos".