Brasil assume presidência do G20 pela 1ª vez nesta sexta-feira; saiba o que esperar
O mandato brasileiro terá duração de um ano e se encerrará em 30 de novembro de 2024
Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 1 de dezembro de 2023 às 06h01.
O Brasil assume nesta sexta-feira, 1, a presidência temporária do G20, o grupo que reúne as 19 principais economias do mundo, a União Europeia e, a partir deste ano, também a União Africana.
O mandato brasileiro terá duração de um ano e se encerrará em 30 de novembro de 2024. Será a primeira vez que o país ocupa essa posição na história do grupo no formato atual.
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Para Denilde Holzhacker, professora de Relações Internacionais da ESPM e cientista política, apesar do G20 ter perdido relevância nas relações globais nos últimos anos, a presidência do grupo será uma oportunidade para o Brasil influenciar outros países.
“Seráuma forma não só de demonstrar o que o governo brasileiro está fazendo e o que entende como importante para o resto do mundo, mas também uma oportunidade de vitrine importante sobre a liderança do Brasil junto a outros países”, disse Holzhacker em entrevista à EXAME.
Os três principais eixos da presidência brasileira do G20 anunciados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva serão: o combate à fome, à pobreza e à desigualdade; as três dimensões do desenvolvimento sustentável (econômico, social e ambiental); e a reforma da governança global.
No âmbito da governança global, o Brasil quer aproveitar o fórum para discutir a mudança no conselho de segurança da ONU. No campo do desenvolvimento sustentável, a ideia do governo é colocar o país como líder da transição energética.
O Brasil vai criar ainda duas forças-tarefa no âmbito do G20 para ampliar o combate à desigualdade ao longo da Presidência brasileira: a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e a Mobilização Global contra a Mudança do Clima.
Holzhacker acrescenta ainda que o Brasil no comando do grupo pode ser positivo também para empresas e sociedade civil, além de atrair investimentos.
Segundo o Palácio do Planalto, durante o comando do bloco, o Brasil organizará mais de 100 reuniões de grupos de trabalho, que serão realizadas de forma virtual e presencialmente, e cerca de 20 reuniões ministeriais, culminando com a Cúpula de Chefes de Governo e Estado que será realizada no Rio de Janeiro, entre os dias 18 e 19 de novembro de 2024.
Noa última quinta-feira, dia 23 de novembro, durante a reunião de instalação da comissão que organizará os eventos da presidência brasileira, o presidente Lula falou sobre a expectativa pela cúpula em solo brasileiro.
“Possivelmente esse será o mais importante evento internacional que nós iremos organizar. A gente vai ter uma reunião histórica no país e uma reunião que espero que possa tratar de assuntos que nós precisamos parar de fugir e tentar resolver os problemas. Não é mais humanamente explicável o mundo tão rico, com tanto dinheiro atravessando o Atlântico, e a gente ter tanta gente ainda passando fome”.
Entre as primeiras ações do Brasil como presidente do grupo estará assumir a administração do site oficial e as redes sociais do G20. A página será disponibilizada em três idiomas (português, inglês e espanhol) e vai conter, além de informações sobre o grupo e sua história, detalhes sobre os grupos de trabalho, grupos técnicos, forças-tarefa, reuniões e demais iniciativas da Presidência brasileira do G20.
Além disso, no fim da tarde de sexta-feira, uma projeção será feita no Museu da República, em Brasília, com as principais mensagens da Presidência brasileira do G20. Também haverá, entre os dias 4 e 18 de dezembro, uma campanha de mídia nos aeroportos de Guarulhos (São Paulo), Galeão (Rio de Janeiro) e Juscelino Kubitschek (Brasília), dando as boas-vindas a quem chega ao país.
O que é o G20? Quais países fazem parte do grupo?
Criado em 1999, o grupo é uma forma de coordenação entre os países-membros no nível ministerial, após uma sequência de crises econômicas internacionais: a crise do México de 1994, a crise dos tigres asiáticos de 1997 (que atingiu especialmente Tailândia, Indonésia e Coreia do Sul), a crise da Rússia de 1998 e, em menor medida, a desvalorização do Real em 1998 e 1999.
Em 2008, no auge da crise causada pela quebra do banco Lehman Brothers, os países fizeram a primeira cúpula de chefes de Estado e governo do G20, em Washington, nos Estados Unidos.
Nos dois anos seguintes, as cúpulas foram realizadas semestralmente: em Londres, no Reino Unido e Pittsburgh, nos EUA em 2009, e em Toronto, no Canadá e Seul, na Coreia do Sul, em 2010. A partir de Paris, na França, em 2011, a cúpula passou a ser realizada anualmente, em cidade designada pelo país que ocupa a presidência.
O G20 responde por cerca de 85% do PIB mundial, 75% do comércio internacional e 2/3 da população mundial.
O grupo é formado por:
- África do Sul,
- Alemanha,
- Arábia Saudita,
- Argentina,
- Austrália,
- Brasil,
- Canadá,
- China,
- Coreia do Sul,
- Estados Unidos,
- França,
- Índia,
- Indonésia,
- Itália,
- Japão,
- México,
- Reino Unido,
- Rússia,
- Turquia,
- União Europeia,
- União Africana, que recebeu condição de membro na Cúpula de Nova Delhi, em setembro.
Como funciona a atuação do G20?
A atuação do grupo é dividida em duas linhas: a Trilha de Sherpas e a Trilha de Finanças. A Trilha de Sherpas é comandada por emissários pessoais dos líderes do G20, que supervisionam as negociações, discutem os pontos que formam a agenda da cúpula e coordenam a maioria do trabalho. O sherpa indicado pelo governo brasileiro é o embaixador Maurício Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty.
A Trilha de Finanças trata de assuntos macroeconômicos estratégicos e é comandada pelos ministros das Finanças e presidentes dos Bancos Centrais dos países-membros. A coordenadora da Trilha de Finanças é a economista e diplomata Tatiana Rosito, secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda.
A Trilha de Sherpas é composta por 15 grupos de trabalho, duas forças-tarefa (Para o Lançamento de uma Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e Para a Mobilização Global contra a Mudança do Clima) e uma Iniciativa sobre Bioeconomia. Na Financeira, os ministros da área e presidentes dos bancos centrais se encontram ao menos quatro vezes por ano (duas delas paralelamente às reuniões gerais do Banco Mundial e do FMI) e são sete grupos técnicos, além da Força-Tarefa Conjunta de Finanças e Saúde.