Barroso: Reação ao combate à corrupção vem de quem quer seguir desonesto
Para o ministro, a corrupção no Brasil ao longo dos últimos anos não foi fruto de falhas individuais, mas resultado de processos sistêmicos
Reuters
Publicado em 10 de abril de 2018 às 15h38.
Rio de Janeiro - O ministro Luís Roberto Barroso , do Supremo Tribunal Federal ( STF ), disse nesta terça-feira que há no Brasil movimentos de reação ao combate à corrupção por dois grupos: os que não querem ser punidos e os que querem se manter desonestos.
"Hoje, no Brasil, nessa reação às transformações (no combate à corrupção), há dois lotes. O lote dos que não querem ser punidos pelos malfeitos que fizeram, o que consigo entender, é da natureza humana", disse ele em palestra feita num seminário no Rio de Janeiro.
"Tem um lote pior, o dos que não querem ser honestos nem daqui pra frente e gostariam que tudo permanecesse como está. É gente que não sabe viver sem que seja com o dinheiro dos outros, sem que seja com dinheiro desviado", disparou.
Para o ministro, a corrupção no Brasil ao longo dos últimos anos não foi fruto de falhas individuais, mas resultado de processos sistêmicos e endêmicos, uma vez que no Brasil há "quase um fenômeno profissional de arrecadação de dinheiro".
O STF pode se reunir na quarta-feira para discutir ações que questionam a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância, apontada como importante pelos investigadores da operação Lava Jato.
Se ocorrer na quarta, a análise será feita dias depois da prisão, no sábado, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva , após condenação em segunda instância no processo sobre o tríplex no Guarujá.
Barroso destacou que as transformações no combate à corrupção no Brasil estão atingindo pessoas que até então se sentiam imunes à Justiça.
"A reação é muito evidente. As transformações estão atingindo pessoas que sempre se julgaram imunes e impunes, e, por essa razão, achavam que o direito penal nunca ia chegar a elas... que cometeram uma quantidade inimaginável de delitos", avaliou o ministro.
Segundo ele, o que se viu no Brasil nos últimos anos foi um modo estarrecedor de fazer política. No entanto, o ministro disse acreditar que a sociedade brasileira está menos passiva e "parou de varrer a poeira para debaixo do tapete".