Joice alega R$ 491 mil de dinheiro público para ataques virtuais
Na CPMI das Fake News, deputada acusou filhos do presidente e apresenta um PowerPoint com mecanismo para disseminar a difamação online
Clara Cerioni
Publicado em 4 de dezembro de 2019 às 13h44.
Última atualização em 5 de dezembro de 2019 às 06h35.
São Paulo — A deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-líder do governo de Jair Bolsonaro no Congresso Nacional, prestou depoimento nesta quarta-feira (04) na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito das Fake News.
Ela iniciou sua fala com uma apresentação dePowerPoint sobre uma "investigação que começou a fazer após ter sido alvo de ataques coordenados". A parlamentar afirmou que, de acordo com suas apurações, as páginas do presidente Jair Bolsonaro e de seu filho Eduardo somam 1,87 milhão de contas falsas.
Segundo Joice, a rede bolsonarista utiliza "ao menos R$ 491 mil de dinheiro público por ano para espalhar" informações falsas e, cada disparo feito em redes de robôs (como hashtags), custa entre R$ 15 mil e R$ 20 mil.
A deputada denunciou que os funcionários recebem a ordem através do deputado Eduardo e para exemplificar como funciona o esquema, apresentou um slide sobre "o mecanismo".
"Estou usando as redes de Eduardo porque é uma das que mais influenciam nos ataques", começou a explicação, com a imagem abaixo:
"Eles escolhem quem será o da vez e essa pessoa é massacrada. Esse grupo não é WhatsApp. É um grupo fechado, que tem senha, dentro do Instagram", prosseguiu. "Esse grupo coordenável da internet alimenta os robôs e grupos de movimentos bolsonaristas, como o Direita SP, que se retroalimentam".
Essa foi a terceira sessão marcada para receber a parlamentar, que cancelou os dois primeiros agendamentos, nos dias 12 e 20 de novembro. Como o requerimento para ouvi-la foi um convite, ela não era obrigada a comparecer.
Joice foi convidada pelo senador Rogério Carvalho (PT-SE) quatro dias depois ser destituída da liderança do governo no Congresso, cargo que ocupava desde o início deste ano.
Na ocasião, Carvalho relatou que, depois de deixar a liderança, a deputada publicou em redes sociais que o presidente Jair Bolsonaro tem uma "milícia virtual" para intimidar críticos, opositores e dissidentes.
A parlamentar também tocou no assunto durante entrevista ao programa Roda Viva, em outubro: “Eu não fazia parte de time de fake news porque toda vez que fui para o ataque, eu coloquei meu rosto".
No ano passado, a parlamentar foi responsável por espalhar conteúdos enganosos que viralizaram, como a da urna que, ao apertar o número “1”, automaticamente mostrava o rosto de Fernando Haddad, candidato do PT em 2018.
A deputada afirmou, ainda, que está “mapeando” perfis que disseminam fake news que ela suspeita serem ligados aos filhos do presidente. Há ao menos 20 perfis do Instagram e 1,5 mil páginas no Facebook ligados a essa operação, segundo ela.
A deputada também disse que no início do governo ouviu falar em uma tentativa da parte de Carlos Bolsonaro de criar uma "Abin paralela", em referência à agência de inteligência, "para que houvesse grampo de celular, dossiês feitos. E isso teria criado um atrito. E o nome foi esse, uma Abin paralela"
Joice não implicou diretamente o presidente em nenhum dos esquemas citados.Em entrevista à tarde, Bolsonaro disse que não estava preocupado com a participação dela:
"Não, zero, chance zero. Inventaram gabinete do ódio e alguns idiotas acreditaram. Outros idiotas vão até prestar depoimento, como tem um idiota prestando depoimento uma hora dessas lá".
A CPMI das Fake News já ouviu duas outras pessoas que romperam com o governo Bolsonaro: o deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) e o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência.
Ambos criticaram a influência do círculo pessoal do presidente e questionaram as estratégias de comunicação do grupo.
CPMI
A CPMI das Fake News é presidida pelo senador Angelo Coronel (PSD-BA). A deputada Lídice da Mata (PSB-BA) é a relatora da comissão, que tem o deputado Ricardo Barros (PP-PR) como vice-presidente.
O colegiado foi criado para investigar os ataques cibernéticos que atentam contra a democracia e a utilização de perfis falsos para influenciar os resultados das eleições 2018.
A prática de cyberbullying sobre os usuários mais vulneráveis da rede de computadores e sobre agentes públicos, o aliciamento e a orientação de crianças para o cometimento de crimes de ódio e suicídio também estão entre os objetos de investigação da CPMI, que tem até o dia 13 de abril de 2020 para concluir seus trabalhos.
(Com informações da Agência Senado, Agência Câmara e Reuters)