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Análise: por que parte do PT aposta nas eleições municipais para influenciar no comando do Congresso

Mesmo com promessa de Lula de não interferir na sucessão de Lira, caciques do PT veem uma potencial vitória expressiva nos municípios como trunfo para impulsionar candidaturas governistas em 2025

Presidente Lula: eleições para as presidências da Câmara dos Deputados e do Senado Federal ocorrem em 2025, mas negociações já estão em curso (Ricardo Stuckert/Flickr)
Antonio Temóteo

Repórter especial de Macroeconomia

Publicado em 5 de março de 2024 às 11h56.

Última atualização em 5 de março de 2024 às 13h43.

Nas principais rodas de poder em Brasília, a promessa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de não interferir na sucessão dos presidentes da Câmara e do Senado é vista com certa ressalva. As articulações em curso apontam, de maneira inicial, para uma vitória do senador Davi Alcolumbre (AP) e do deputado Elmar Nascimento (BA), ambos do União Brasil. Os dois parlamentares são egressos do Democratas, que se fundiu ao PSL para criar a sigla agora presidida por Antonio Rueda e que tem Antonio Carlos Magalhães Neto como vice-presidente nacional.

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A ascensão de Alcolumbre e de Nascimento ao comando das casas legislativas representaria uma vitória das forças da centro-direita, avaliam espectadores governistas que acompanham com lupa esse processo.O controle da pauta do Congresso, com a votação de projetos econômicos, sociais e de costumes, tem potencial para influenciar nas eleições presidenciais de 2026, avaliam caciques petistas e auxiliares de Lula.

Entretanto, não seria a primeira vez que um único partido controlaria a Câmara e o Senado. Nos governos do PT, o senador Renan Calheiros (AL) e o ex-deputado Eduardo Cunha (RJ), ambos no antigo PMDB, eram os presidentes das casas. O próprio Alcolumbre e o ex-deputado Rodrigo Maia (RJ), ambos no DEM, também presidiram Senado e Câmara, respectivamente, durante a gestão de Jair Bolsonaro.

Além disso, há, nos bastidores do governo, incômodo com o "fator ACM Neto". O ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), ambos ex-governadores da Bahia, são adversários políticos de Neto no estado. Com o União Brasil no controle da Câmara e do Senado, o herdeiro do Carlismo tende a se fortalecer politicamente.

Eleições municipais

Apesar do diagnóstico das lideranças petistas e governistas apontar para riscos significativos para Lula com a vitória do União Brasil nas eleições da Câmara e do Senado, a disputa pelo comando dos municípios em outubro tem o condão de mudar essa balança de forças. A avaliação reservada entre eles é que uma vitória expressiva de correligionários e aliados de Lula pode trazer ao petistas mais capital político e poder de barganha na disputa eleitoral do Congresso — sobretudo na Câmara.

Caso Lula seja o grande vitorioso nas eleições municipais, o principal derrotado seria o Bolsonarismo, avaliam essas fontes, que hoje é a principal força motriz de boa parte dos parlamentares. É comum, por exemplo, a expressão de figuras do Centrão de que, em 2022, os eleitores escolheram um Congresso conservador e de direita. No cálculo político do governo Lula, confirmada uma vitória nas eleições municipais, haveria espaço para construir uma candidatura na Câmara mais próxima ao governo.

O raciocínio desses líderes é o de que o presidente da República ganharia ainda mais respaldo político para a sua agenda. Além disso, esses mesmos caciques entendem que deputados dependem de uma rede de prefeitos para se cacifar politicamente e garantir a própria reeleição no pleito seguinte. Com mandatos de oito anos, senadores ficam menos sujeitos a essa relação, mas ainda dependem desse apoio.

Articulação política

Como mostrou a EXAME, Lula sabe que 2024 será decisivo para suas pretensões políticas. As pesquisas divulgadas em dezembro acenderam um alerta ao mostrar que a popularidade do presidente não atingiu o patamar de seus governos anteriores e que o eleitorado continua dividido entre ele e Bolsonaro.

Dessa forma, Lula tem dado sinais de que não só fará a coordenação política com o Congresso, mas também atuará diretamente nos pleitos municipais de forma a garantir a eleição de um número expressivo de prefeitos de partidos da base para demonstrar força pessoal.

Ou seja, Lula pretende usar todo o poder de governante e de político hábil para se fortalecer para as eleições de 2026. A principal estratégia será apoiar candidatos com maiores chances de vitória, independentemente do partido. Com isso, vai impor que o PT se limite a lançar candidatos onde realmente tenha chances de ganhar ou onde possa ser fiel da balança em um segundo turno para enfraquecer o bolsonarismo.

A estratégia ficou cristalina quando do anúncio de Marta Suplicy como vice da chapa de Guilherme Boulos (Psol).“O partido precisa fazer alianças. Não adianta lançar candidato. Precisamos apoiar quem tem chances de vencer a eleição", disse Lula na ocasião.

Outra capital em que essa tática vigorará será  Salvador, na Bahia. Por lá, o PT desistiu de apresentar candidato próprio e vai apoiar o vice-governador do estado, Geraldo Júnior (MDB), na disputa pela prefeitura em 2024.

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