Óleo de palma: setor deve enfrentar desafios no próximo ano, diz consultoria
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 30 de dezembro de 2025 às 08h45.
A produção global de óleo de palma pode sofrer uma queda significativa em 2026. Segundo relatório da Fastmarkets, consultoria de commodities, a Indonésia – maior produtor mundial – deve perder entre 2 e 5 milhões de toneladas de óleo de palma bruto (CPO) no próximo ano, diz o analista Sathia Varqa, autor do estudo.
As projeções decorrem do impacto de desapropriações de terras agrícolas, incertezas fundiárias e mudanças na política de biocombustíveis no país asiático.
O óleo de palma é um dos óleos vegetais mais utilizados no mundo. De baixo custo e alta versatilidade, está presente em cerca de 50% dos produtos processados encontrados em supermercados — de margarinas e biscoitos a chocolates, cosméticos, sabonetes e detergentes.
No setor energético, o óleo também é um insumo estratégico na produção de biocombustíveis, especialmente o biodiesel.
A Indonésia vinha de uma forte recuperação em 2025, com alta de 11% na produção nos primeiros nove meses do ano, totalizando 39,6 milhões de toneladas. Ainda assim, Varqa alerta que os riscos permanecem.
“O confisco de terras pelo governo e a revisão do mandato de biodiesel criam uma nova camada de incerteza para a produção em 2026”, afirma o analista.
Até o momento, o governo indonésio desapropriou 3,3 milhões de hectares, sendo 1,5 milhão já transferido para a estatal PT Agrinas e 1,8 milhão em processo de verificação.
“O impacto sobre a produção dependerá de como o Estado vai administrar essas áreas recém-adquiridas”, diz.
Além da Indonésia, a Malásia, segundo maior produtor mundial da commodity, projeta uma leve retração na produção de CPO, estimada em 19,6 milhões de toneladas — 400 mil toneladas a menos do que em 2025.
Apesar de um desempenho recorde no último trimestre de 2025, a entrada das palmeiras na fase de repouso, a falta de replantio com cultivares mais produtivas e a alta dependência de mão de obra estrangeira limitam o crescimento.
A área plantada permanece estagnada em cerca de 5,6 milhões de hectares, e o ritmo lento de mecanização compromete a expansão produtiva.
Mesmo diante dos entraves na oferta, a demanda por óleo de palma segue aquecida, especialmente nos setores de alimentos e energia. O mandato de biodiesel B50 da Indonésia — que mistura 50% de óleo de palma ao combustível fóssil — foi adiado para o fim de 2026, com a mistura B45 sendo mantida ao longo do ano.
Ainda assim, os preços do CPO permanecem firmes, sustentados pela demanda robusta. Segundo a Fastmarkets, a Índia continuará como maior compradora mundial de óleo de palma em 2026, sustentando os preços globais.
A China, embora relevante, deve manter uma demanda mais moderada em função dos altos estoques de óleo de soja.
Na União Europeia, o novo Regulamento sobre o Desmatamento (EUDR), previsto para entrar em vigor em dezembro de 2026, deve afetar diretamente os fluxos comerciais.
O texto estabelece critérios ambientais rigorosos para a importação de óleo de palma, elevando os custos de conformidade.
Atualmente, o óleo de palmiste bruto (CPKO) é negociado entre US$ 350 e US$ 400 por tonelada, reflexo das exigências da nova regulação europeia, que pode redirecionar exportações e impactar a dinâmica do mercado global, alerta a Fastmarkets.