Exclusivo: Carlos Brito assume presidência da Nutrien na América Latina, de olho no varejo do agro
Brito, que já estava interinamente no cargo desde abril, fala sobre a estratégia de ampliação da companhia e a relevância do Brasil no segmento do varejo de insumos
Repórter de Agro
Publicado em 9 de agosto de 2023 às 11h52.
A carreira experiente na área de recursos humanos atrelada à dedicação ao segmento do agronegócio foi a fórmula de sucesso que levou Carlos Brito à presidência da Nutrien Soluções Agrícolas na América Latina. Desde abril à frente da companhia, o engenheiro agrônomo apresenta um currículo de mais de 20 anos na extinta Monsanto, adquirida pela multinacional alemã Bayer. Foi Brito, inclusive, quem cuidou da integração dos times quando aconteceu a fusão entre ambas na América Latina.
Em entrevista exclusiva à EXAME, e a primeira como presidente da Nutrien, Brito conta que circulou entre as áreas de vendas, negócios, marketing e RH, ocupando cargos executivos desde 2009. Observador e ponderado, ele diz que foi esta experiência em gestão que trouxe a maturidade necessária para assumir a Nutrien e os cerca de 31 mil hectares atendidos pela marca.
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Responsável por nortear o trabalho de mais de 3.000 colaboradores no Brasil, a fórmula de Carlos Brito para chegar ao mais alto cargo da companhia é construir relacionamentos, equilibrando a alta performance dos colaboradores em um ambiente multicultural, que respeite as diferenças existentes entre os produtores no país.
“Eu não quero focar apenas no fornecimento de insumos e o simples transacional, mas quero ampliar a capacidade de atender esse cliente. Nosso desafio, como time de liderança na América Latina, é que os escritórios estejam conectados com a necessidade do agricultor”, afirma Carlos Brito.
Dividido entre a gestão urbana e os clientes rurais, Brito assume a Nutrien após a aquisição da Casa do Adubo, no final do ano passado. Na prática, isso significa que a companhia passou de cinco para 13 estados onde atua, levando a um público de 120 mil agricultores no país. “Tem muitas estratégias que vínhamos mirando ao médio agricultor e, com as aquisições, abriu-se um leque para novos perfis, o que nos possibilita olhar para o Brasil de forma mais ampla”, diz.
Confira a seguir trecho da entrevista sobre o cenário do varejo de insumos e a estratégia da Carlos Brito para comandar a empresa.
Por que o perfil do varejo de insumos está mudando de pequenas revendas para grandes marcas?
Existe uma oportunidade de negócio, porquea distribuição de insumos no agro ainda é muito granular, pulverizada. A profissionalização da agricultura puxa uma rede de distribuição para ser compatível ao nível de investimento do produtor em crescer e continuar sendo atendido com alto nível tecnológico. Fala-se de um número significativo de distribuidores no Brasil, o que torna possível uma rede de distribuição nacional. [Segundo a Associação Nacional dos Distribuidores de Insumos Agrícolas e Veterinários, são mais 2.500 empresas de distribuição]. A gente acredita que, em escala nacional, você vai ter uma riqueza de informação que vai dar oportunidade para individualizar sua oferta em algum momento. Como criar uma oferta que seja relevante, e não uma solução padrão para a região.
Dentro desta estratégia, o quanto a logística é determinante para ampliar esta capilaridade?
Se você sabe que vai ter entre 250 localidades operando no Brasil, isso dá oportunidade de estudar a malha logística e decidir os melhores locais para ter o centro de distribuição, onde estão os produtores, e quais os desafios regionais a partir deste mapeamento. Existem posições geográficas estratégicas no Brasil em relação à infraestrutura, mas existem regiões desafiadoras, cujo custo logístico é maior, e nós temos que olhar rotas alternativas. Uma das coisas que a gente detectou é uma oportunidade de eficiência, como por exemplo diminuir o número de traslados e até facilitar a rastreabilidade da carga.
Para além desta ampliação atrelada à logística, qual outra oportunidade de mercado segue no seu radar?
Impulsionar soluções biológicas é parte da estratégia do portfólio da Nutrien na América Latina. Na safra 2022/23, a empresa lançou uma marca proprietária e tem sete produtos de biocontrole focados na cultura de soja e milho. Temos uma estrutura que olha para esse pipeline de inovação, o que vem lá de fora, o que se encaixa e os biológicos se conectam com essa visão da agricultura sustentável. Em 2022, vendemos mais de 200 mil sacas de sementes de soja, todas tratadas com soluções biológicas exclusivas da Nutrien, superando as metas estabelecidas. O objetivo é multiplicar a receita e alcançar mais de 20% do portfólio de defensivos agrícolas nos próximos anos.Para além disso, os biológicos podem ser porta de entrada para conversar sobre a agenda sustentável. Eu entendo que o Brasil tem tudo para criar agricultura sustentável. Do ponto de vista de legislação, de Código Florestal, já temos tudo o que se precisa para suportar essa agenda.
Você já trabalhou nos Estados Unidos e passa a comandar a Nutrien na América Latina. O que o Brasil tem de especial em relação a estes mercados?
A oportunidade do Brasil é imensa, a gente tem tudo para ser visto como a agricultura mais sustentável do globo, a exemplo da reciclagem de embalagens, nosso Código Florestal, projetos de recuperação de matas ciliares. Há espaço para tudo e todos: monocultura, agrofloresta, orgânicos, desde que seja sustentável. Pensa um país com área geográfica bacana, clima, recurso natural, área tropical e temperada. Com investimentos em infraestrutura corretos, não existe lugar melhor para se estar do que no agro no Brasil.