EXAME Agro

Argentina caminha para uma safra recorde de trigo — se o La Niña deixar

Aumento na estimativa é atribuído a produtividades excepcionais, impulsionadas pelo clima favorável e chuvas abundantes

Colheita de trigo: chuvas favorecem o plantio do cereal na Argentina (Freepik)

Colheita de trigo: chuvas favorecem o plantio do cereal na Argentina (Freepik)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 12 de dezembro de 2025 às 16h06.

Última atualização em 12 de dezembro de 2025 às 16h08.

A Argentina está a caminho de uma safra recorde de trigo na temporada 2025/2026, com uma projeção de 27,7 milhões de toneladas, o maior volume já registrado na história agrícola do país.

A previsão foi divulgada pela Bolsa de Comércio de Rosário (BCR), que revisou para cima suas estimativas anteriores, ajustando a produção de 23 milhões para 24,5 milhões de toneladas em novembro.

O aumento na estimativa é atribuído a produtividades excepcionais, impulsionadas pelo clima favorável e chuvas abundantes.

“Os dados de 2025/26 continuam a surpreender. À medida que a colheita avança, os rendimentos registrados são prova de uma campanha sem precedentes, com condições quase ideais”, afirmou a BCR em nota.

A região central da Argentina, que concentra a maior parte da produção de trigo, alcançou um recorde de 220 mil hectares semeados, a maior área dos últimos 16 anos.

“As chuvas de maio foram fundamentais para o cultivo. Com volumes acima da média, elas garantiram que 80% da região tivesse reservas de umidade no solo adequadas ou até excessivas, especialmente na província de Buenos Aires, no nordeste do país”, acrescentou a BCR.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) também revisou suas projeções para a produção de trigo da Argentina, estimando agora 24 milhões de toneladas, com um aumento de 2 milhões de toneladas em relação à previsão anterior.

Além disso, o USDA prevê que a Argentina exporte 14,5 milhões de toneladas de trigo na temporada 2025/26. O Brasil é um dos principais compradores do trigo do país vizinho.

Um La Niña no caminho

A confirmação de que o La Niña pode persistir até fevereiro de 2026 tem gerado preocupações entre os produtores, já que o fenômeno climático pode impactar a produção agrícola do país, sobretudo a soja e o milho de segunda safra.

Embora a previsão de um La Niña curto e fraco sugira efeitos climáticos menos intensos, o padrão de chuva tradicional pode não se concretizar, criando incertezas para o setor, avalia Willians Bini, meteorologista e Head de Novos Negócios da METOS Brasil.

"O problema é que, por ser curta e fraca, a atmosfera pode não ter tempo suficiente para se ajustar a essa condição climática global, o que pode impedir que os efeitos tradicionais ocorram como esperado — ou seja, com menos chuva no sul e mais no norte e nordeste. Esse é um dos principais pontos a ser considerado", afirma Bini.

Na semana passada, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) anunciou uma probabilidade de 55% de que um La Niña fraco se concretize a partir deste mês até fevereiro do próximo ano.

Em meados de novembro de 2025, os indicadores oceânicos e atmosféricos mostraram condições limítrofes de La Niña, e a OMM acrescentou que há uma chance de 65% a 75% de que condições neutras prevaleçam de janeiro a março e fevereiro a abril de 2026.

Embora o padrão La Niña envolva o resfriamento temporário das temperaturas no Oceano Pacífico central e oriental, muitas regiões ainda devem registrar temperaturas mais altas que o normal, o que aumenta as chances de enchentes e secas, impactando as colheitas, segundo a entidade.

O La Niña é um fenômeno climático caracterizado pelo resfriamento das temperaturas no Oceano Pacífico tropical, que desencadeia uma série de efeitos climáticos, como chuvas mais intensas na Ásia e condições mais secas em algumas regiões da América do Sul.

Na Argentina, os impactos típicos do La Niña incluem uma redução significativa nas chuvas, especialmente nas principais áreas produtoras de trigo, como Buenos Aires, Córdoba e Santa Fe, o que, até o momento, não se concretizou.

Além disso, o La Niña costuma trazer temperaturas mais altas do que o normal, acelerando o ciclo de maturação do trigo. Isso reduz a capacidade de armazenamento do grão e afeta a qualidade da farinha produzida, já que o trigo colhido antes do tempo pode não atingir o padrão ideal para a moagem.

Segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires (BCBA), 60% do trigo projetado para a safra 2025/26 da Argentina já foi colhido.

Acompanhe tudo sobre:ArgentinaTrigoSafras agrícolas

Mais de EXAME Agro

UE e Mercosul: por que o agro está em alerta com as restrições do acordo

São Paulo aposta em Rota da Cachaça para impulsionar setor de R$ 15 bilhões

Com La Niña, Conab reduz projeção da soja para 177 milhões de toneladas

Rumo aos 550: Brasil mira 50 novos mercados do agro até junho de 2026