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56% das mulheres do agro ganham menos que os homens, diz pesquisa

Levantamento, realizado pela Agroligadas e Corteva, também aponta menor facilidade de acesso ao crédito por conta da desigualdade de gênero, mas autonomia de decisão vem crescendo

Carminha Maria ­Gatto Missio administra 6.000 hectares de soja na Bahia (Calan Sanderson/Divulgação)
CA

Carla Aranha

Publicado em 14 de outubro de 2021 às 07h50.

Última atualização em 15 de outubro de 2021 às 10h33.

Hoje, cerca de 1 milhão de mulheres administra negócios rurais no país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Ministério da Agricultura. As propriedades sob a batuta das gestoras somam 30 milhões de hectares. Mas elas ainda são minoria: 80% das fazendas são administradas por homens. As diferenças aparecem também em relação ao salário e ao acesso a financiamento, de acordo com uma pesquisa exclusiva realizada pela Agroligadas, entidade de mulheres do agronegócio, a multinacional Corteva Agriscience, a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e o Sicredi.

O levantamento, feito com 408 mulheres que atuam no agronegócio, mostra que 56% das representantes femininas do setor acredita ganhar menos do que os homens. E um terço afirma ter menos facilidade para obter empréstimos bancários do que seus pares masculinos. “A mulher costumava ficar escondida e não se achava tão capaz”, diz Geni Caline, presidente da Agroligadas. “O salário é só consequência, mas isso está mudando”.

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Proprietária rural em Campo Verde, no Mato Grosso, Caline criou a associação há dois anos, ao assumir a gestão do negócio ao lado do marido. Juntos, cultivam soja, algodão e milho. “A chegada de novas gerações ao campo tem contribuído positivamente na questão da desiguidade de gênero”, afirma.

Hoje, 93% das trabalhadoras da área rural dizem ter orgulho em atuar no campo e para 79% a situação das mulheres no agro é melhor do que há dez anos. Para dar mais visibilidade à atuação feminina no setor e acabar com a desigualdade de gênero, 90% acreditam que é necessário dar mais visibilidade a projetos de sucesso e às contribuições das mulheres para a agricultura.

Em alguns polos do agronegócio, esse cenário já vem se concretizando. Em Cáceres, no Mato Grosso, as mulheres vêm aumentando a participação no setor. Presidente do sindicato rural de Cáceres, a pecuarista Ida Beatriz Machado de Miranda Sá, da quarta geração de produtores rurais da região, administra 1.300 cabeças de gado em uma área de 3.600 hectares. “As mulheres vêm levantando bandeiras importantes, com uma visão mais completa do negócio e um olhar voltado à sustentabilidade”, diz.

Sá implementou um programa de sustentabilidade, criado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e sindicatos rurais, voltado a fazendas de gado da região. O objetivo é preservar a cobertura vegetal em meio à atividade produtiva. Na propriedade da fazendeira, os resultados já são palpáveis. “Hoje, temos 87% de vegetação nativa, em um sistema em que o pasto é dividido em áreas para que algumas possam ficar descansando e reflorescendo”, diz Sá. “Iniciativas como essa me dão orgulho e mostram que é possível elevar os índices de sustentabilidade em meio a atividades produtivas”.

A fazendeira está longe de ser uma voz isolada no que se refere à satisfação com o trabalho – 97% das entrevistas dizem estar mais felizes hoje com esse aspecto, diante de 57% em 2018, quando a pesquisa também foi realizada. O grau de reconhecimento das habilidades das mulheres também aumentou, segundo elas, passando de 45% em 2018 para 77% neste ano.

Além disso, 60% das entrevistadas percebem um maior grau de autonomia na tomada de decisões e 40% acreditam que existe as mesmas oportunidades de trabalho atualmente no setor para homens e mulheres. “Tenho conseguido bons resultados com uma gestão pró ativa e focada em sustentabilidade”, diz Carminha Maria ­Gatto Missio, uma das maiores produtoras de soja do oeste da Bahia.

No ano passado, a produtividade média de sua fazenda, de 6.000 hectares, foi de 63 sacas de soja por hectare (a média nacional foi de 55 sacas). Neste ano, ela deve faturar cerca de 36 milhões de reais, 12,5% mais do que em 2020.

A propriedade de Carminha é considerada uma das vitrines dos programas de sustentabilidade de entidades como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Desde 2017, a agricultora utiliza micro-organismos desenvolvidos pela instituição no controle de doenças – trata-se de uma alternativa aos agrotóxicos.

Em 2019, antes da pandemia, ela recebeu uma comitiva de 15 embaixadores, em um programa organizado pela Confederação Nacional de Agricultura (CNA), interessados em conhecer iniciativas como o reflorestamento das margens das nascentes dos rios e da vegetação local. “Precisamos nos colocar mais na liderança do agro e mostrar os bons projetos”, diz.

 

 

 

 

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