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Vazamentos sobre Afeganistão mostram desafio da segurança digital

Após divulgação de documentos secretos em site, cresce discussão sobre como manter arquivos secretos longe do público

O site Wikileaks foi o responsável por divulgar milhares de documentos da guerra do Afeganistão (AFP/Getty Images/Joe Raedle)

O site Wikileaks foi o responsável por divulgar milhares de documentos da guerra do Afeganistão (AFP/Getty Images/Joe Raedle)

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Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h11.

Washington  - O vazamento de inúmeros documentos do Pentágono no site Wikileaks deixou em evidência os desafios da segurança que existem na era digital, quando enormes quantidades de informações delicadas podem ficar expostas com um simples clique.

"Veja o caso dos 'Papéis do Pentágono'", exemplifica James Lewis, especialista em cibersegurança do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), aludindo ao vazamento para a imprensa de documentos sobre a guerra do Vietnã, divulgados em 1971 por Daniel Ellsberg, um alto funcionário do Pentágono.

"A diferença em relação aos 'Papeis do Pentágono' é que Daniel Ellsberg pegou uma grande quantidade de documentos e os entregou a um jornalista", explicou Lewis à AFP. "Agora qualquer um pode pegar uma quantidade maior de documentos e distribui-los ao mundo inteiro".

O Wikileaks não identificou sua fonte, mas suspeita-se de Bradley Manning, um analista de inteligência do exército dos Estados Unidos, atualmente preso numa penitenciária militar do Kuwait.

Manning foi capturado em maio depois que Wikileaks obteve e divulgou um vídeo em que um helicóptero militar americano ataca e mata civis iraquianos. Ele é acusado de ter repassado informações sobre defesa a uma parte não autorizada.

O Pentágono anunciou em junho que estava investigando a possibilidade de Manning ter transferido outros 260.000 dados diplomáticos secretos a Wikileaks.

James Lewis disse que o departamento de Defesa dos Estados Unidos vai ter que, como qualquer outra organização, enfrentar "maus atores" - empregados que se voltam contra seu empregador -, "mas agora é muito mais fácil fazer coisas como essa".

"Tudo está digitalizado agora, tudo está na rede", comentou Tom Conway, diretor para o desenvolvimento de negócios em nível federal da empresa de cibersegurança McAfee.


O caso da Wikileaks parece ser um "clássico caso de ameaça interna", afirmou, enfatizando que salvaguardar informações digitalizadas é um desafio muito particular para uma instituição "do tamanho e complexidade" das forças armadas dos Estados Unidos.

O especialista cita que, entre as medidas para evitar tais vazamentos, estão o bloqueio do acesso à internet, a inutilizarão dos leitores de DVD nos computadores, a compartimentação da informação delicada e a observação de condutas fora da norma.

"Se alguém por acaso fizer o donwload de 50 megabytes por dia, isso já deve lançar um alerta", afirma. "Talvez não seja nada de mais, e talvez haja uma explicação para isso, mas talvez não".

Um ex-funcionário do Pentágono, que pediu para não ser identificado, disse que a proliferação dos meios digitais e do software social certamente aumentará os riscos de que ocorram coisas como esta.

"A segurança sempre será um balanço entre conveniência e segurança", explicou a fonte. "Sempre há uma negociação entre a funcionalidade e a segurança e o pêndulo se moveu bastante para o lado da funcionalidade".

Lewis estima, por sua parte, que é preciso repensar a segurança da informação.

"No mundo do papel, tenho um documento selado com 'secreto' e o governo confia que não vou compartilhar esse papel. Talvez isso seja suficiente no mundo do papel, mas não o é para o mundo digital", explicou.

"A forma com que controlamos esse acesso é baseada no velho modelo, que nada mais é que uma questão de confiança pessoal. O Pentágono confia em seus funcionários, o que é algo bom, mas não é suficiente", enfatiza Lewis.

Don Jackson, da SecureWorks, resume o desafio: "um jornal não pode publicar 90.000 documentos, mas a Wikileaks pode fazer isso em questão de segundos".

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