Logo do aplicativo russo de mensagens Telegram (SOPA Images / Colaborador/Getty Images)
O Telegram hoje é o principal aplicativo de mensagens na Rússia, Ucrânia e outras antigas repúblicas soviéticas. Com a capacidade de criar grupos de até 200 000 usuários, o app de meio bilhão de contas é a ferramenta de distribuição de informações para o leste europeu mais ativa no momento, reunindo desde governos, jornais e e até movimentos sociais.
Mas como Putin ordenou uma ação militar no leste da Ucrânia, onde estão as regiões separatistas que ele reconheceu como independentes, nesta quinta-feira, 18, surgem dúvidas de como ficará o funcionamento do aplicativo para ambos os lados, mas principalmente para a Ucrânia, considerando que o aplicativo tem origem russa.
Quer saber tudo sobre a invasão da Ucrânia e como isso impacta o Brasil e você? Leia na EXAME
Do ponto de vista político, o Telegram nem sempre foi visto com bons olhos por Putin. O líder russo entendia a rede social como uma plataforma livre para opositores políticos se comunicarem sem que o Kremlin pudesse interceptar o fluxo de mensagens.
As rusgas com a plataforma duraram até 2020 e só foram afrouxadas em meio a pandemia, quando o Serviço Federal de Supervisão de Comunicações, o Roskomnadzor, anunciou, em conjunto com o ministério público, que o app, até então funcionando na informalidade e sofrendo bloqueios, se tornaria um canal oficial do governo na divulgação de informações sobre a covid-19.
O fato é que a Rússia nunca conseguiu bloquear o serviço por um todo. Toda vez que ocorria um investida para impedir o acesso ao Telegram, o governo acabava por bloquear o acesso aos serviços de centenas de companhias, que usavam servidores e nuvens em comum com o mensageiro.
Como não pode vencer a batalha, a Rússia subverteu a lógica e transformou o app em aliado. Com a alegação de se tornar um canal oficial, passou a utilizá-lo junto do aparato de influência ideológica do Kremlin, principalmente, na distribuição de desinformação.
Um exemplo de como funciona o app nessa nova ordem foi o envio de uma mensagem de separatistas apoiados pela Rússia na sexta-feira, 18, na qual se exibia uma enxurrada de tiros e bombardeios por sabotadores de língua polonesa.
Mais tarde, os metadados do arquivo de vídeo que circularam na rede social revelam que a data do suposto ataque era de 8 de fevereiro, dez dias antes de ser compartilhado no Telegram, e três dias antes da alegada data do ataque. Indicando ser uma provável fake news para tensionar o conflito em favor da Rússia.
Do lado ucraniano, dificilmente o acesso do app ocorreria, e pela mesma razão que a Rússia no passado não conseguiu torná-lo inacessível.