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Quando as empresas de informática e telecomunicações vão parar para conversar?

O ex-presidente da Anatel Renato Guerreiro costumava dizer que o setor brasileiro de tecnologia da informação tem associações demais. Só na letra A, o abecedário das entidades reúne siglas como Abinee, Abecortel, Abes, Assespro, Abranet, Abeprest, Abraforte, Abrac, Abed, ABTA, AMI, Anprotec e Aberimest. Também tem Telcomp, SBC, SBIS, CDI, Câmara e-Net e um punhado […]

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h25.

O ex-presidente da Anatel Renato Guerreiro costumava dizer que o setor brasileiro de tecnologia da informação tem associações demais. Só na letra A, o abecedário das entidades reúne siglas como Abinee, Abecortel, Abes, Assespro, Abranet, Abeprest, Abraforte, Abrac, Abed, ABTA, AMI, Anprotec e Aberimest. Também tem Telcomp, SBC, SBIS, CDI, Câmara e-Net e um punhado de outras entidades.

Não é de espantar, portanto, que, num mês em que o governo cria uma secretaria especial para cuidar da pesca e quase extingue a estratégica Sepin, a secretária especial de informática do ministério da Ciência e Tecnologia, a chiadeira do setor fique diluída ao mar de siglas que pouca representatividade têm para exigir uma política tecnológica à altura do Brasil. Todos conhecem a gritaria de que é capaz uma Anfavea, da indústria automobilística, uma Abit, da indústria têxtil, ou um Sinduscon, da construção civil, mas ninguém viu uma entidade comum dos setores de informática e telecomunicações se levantar com legitimidade em defesa dos próprios interesses.

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Pois, hoje, ela não existe. "Mas um dia isso terá de acontecer", diz Paulo Cunha, gerente-geral da Intel do Brasil. "Acredito que o próprio mercado e a realidade dos balanços financeiros obrigará os mundos da informática e das telecomunicações a conversar." A tese de Cunha, na qual a própria Intel aposta a sua sobrevivência, não é nova. Ela se chama convergência. Cunha acredita que a própria evolução tecnológica obrigará as empresas a conversar. À medida que os aparelhos de telefone e celulares adquirem poder de processamento e que os computadores são usados sobretudo para comunicação, um mundo começa a invadir a área do outro. Microsoft e Nokia já disputam o mercado de software para celulares. Fornecedores de equipamentos de rede de computador estão hoje entre os principais fabricantes de centrais telefônicas. Mas a principal transformação, afirma Cunha, acontecerá por intermédio das redes sem fio, que funcionam com o padrão técnico IEEE 802.11b, mais conhecido como Wi-Fi.

Trata-se de um padrão de comunicação que permite aos dispositivos sem fio transmitir, com alcance de uns 100 metros, informações a uma velocidade de 11 milhões de bits por segundo (200 vezes mais rápido que os modems ligados aos PCs ou 20 vezes mais rápido que as melhores conexões de banda larga). Se você gastar uns 1 000 reais, pode transformar seu PC em uma estação retransmissora conectada à internet, acessível a qualquer computador munido de uma antena caseira ou de qualquer outra vendida por 350 reais em lojas de informática.

Em 1999, quando os engenheiros americanos lançaram esse padrão técnico, pensaram que o uso se restringiria a redes domésticas de computador. Jamais imaginaram que empresas como Starbucks, Scandinavian Airlines e mais de 500 hotéis ofereceriam acesso sem fio à internet por meio dessa tecnologia. No Brasil, Cisco e Cargill estão entre as usuárias. O fundador da Intel e capitalista de risco Leslie Vadasz, considera que o Wi-Fi causará uma explosão de tecnologias comparável à da web.

"Outro dia usei meu notebook para ler emails na rede sem fio do aeroporto e resolvi em cinco minutos um monte de problemas me fariam perder um tempão se eu tivesse de ir ao escritório", diz Cunha. "Isso representa um aumento enorme de qualidade de vida." Sem leilões de freqüências nem regulamentação, os aparelhos no padrão 802.11b pipocam como cogumelos. O grande problema é que, à medida que avança o uso da tecnologia, também tende a aumentar a pressão pela regulamentação. Será nesse momento, afirma Cunha, que a indústria perceberá a necessidade de conversar para evitar excessos e ações desnecessárias do governo. Só seria bom que as siglas se pusessem de acordo bem antes, se é que querem que a tecnologia da informação deixe de ser vítima de canetadas do Planalto e comece de fato a impulsionar a economia do Brasil.

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