nicolelis
Da Redação
Publicado em 30 de maio de 2014 às 17h05.
A 13 dias da abertura da Copa do Mundo, o neurocientista Miguel Nicolelis está com tudo pronto para inaugurar oficialmente, além da primeira rodada de jogos do torneio, a funcionalidade de um sistema de interação entre pacientes paraplégicos e um esqueleto através de sinais do cérebro.
"A maneira como distribuímos esses sinais na parte do corpo do paciente que ainda tem sensibilidade foi uma das grandes descobertas da pesquisa", avalia Nicolelis à Agência Efe.
O projeto faz parte da construção de uma nova tecnologia de mobilidade, a neuroreabilitação, conhecida como exoesqueleto (veste robótica que recebe e envia sinais cerebrais) controlado pela mente.
O pontapé inicial na Brazuca (bola oficial da Copa) com o chamado exoesqueleto vai preencher o gramado de esperança, que será palco também da copa da ciência brasileira com o projeto inédito "Walk Again" (Andar de Novo), que desenvolve as pesquisas desde janeiro de 2013 em São Paulo.
"Criamos um sistema de interação do paciente e o exoesqueleto que não existia até agora e vamos continuar trabalhando para aperfeiçoar esse sistema e o tornar mais real nas futuras versões do projeto", destacou à Agência Efe o coordenador da pesquisa, Miguel Nicolelis.
Ontem, o neurocientista e a equipe fizeram o último teste clínico do exoesqueleto, que se consolida com a demonstração pública do principal objetivo da pesquisa: o desenvolvimento de um sistema controlado pela atividade cerebral de um paciente paraplégico.
Segundo o pesquisador, a distribuição de sinais acontece através do "desejo do ser humano de se mover, que é transmitido para esse sistema, e o sistema, quando realiza movimentos, manda sinais de volta para o operador, informando como o movimento está sendo realizado".
"O exoesqueleto não é um robô, que é uma coisa que não tem o ser humano dentro e é controlado pelos sistemas de software. Nós temos um híbrido que permite que o ser humano interaja com esse esqueleto", explicou Nicolelis à Agência Efe.
Para ele, propor uma sensação real de voltar a andar é só o começo do que o projeto pode alcançar e, por isso, informa que mais testes serão feitos após o dia 12 de junho.
Foram 17 meses de trabalho concentrados em laboratório com oito voluntários escolhidos de acordo com "parâmetros médicos" e que continuaram nos próximos passos da pesquisa.
"O diferencial (do exoesqueleto) é que o paciente tem o controle do movimento e recebe sinais de volta, o que permite que o cérebro do paciente incorpore o exoesqueleto como extensão do corpo, o que só pertence à nossa pesquisa", comentou.
"Para mim é um sonho que se torna realidade de poder fazer uma pesquisa desse porte no país que eu nasci", afirmou.
Nicolelis voltou ao Brasil para desenvolver as pesquisas com o exoesqueleto depois de dez anos, quando havia fundado o Instituto de Neurociência, em Natal, Rio Grande do Norte, onde surgiu a ideia embriã do projeto.
O Projeto Andar de Novo é um consórcio formado por 156 cientistas, engenheiros, técnicos e pessoal de apoio de universidades e institutos de pesquisa distribuídos pelo mundo coordenados por Nicolelis.
O exoesqueleto é a primeira fase do consórcio, que tem como objetivo central impulsionar tecnologias baseadas no desenvolvimento entre cérebro e máquina para atingir pessoas que tenham mobilidade restrita.