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Mundo dos androides, futuro cada vez mais presente no Japão

Robôs já executam diversas tarefas humanas como cozinhar, dar palestras e auxiliar em trabalhos de limpeza em Fukushima

O cientista japonês Hiroshi Ishiguro (d) e uma de sua invenções, Otonaroid, em Tóquio (Yoshikazu Tsuno/AFP)
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Da Redação

Publicado em 17 de julho de 2014 às 15h24.

Tóquio - A impossibilidade de diferenciar um homem de uma máquina está cada vez mais perto, dizem os cientistas, após os recentes avanços da robótica no Japão , onde os androides podem se tornar o mais novo membro da família.

"Os computadores já superaram as capacidades humanas. Os robôs também serão mais inteligentes dentro de pouco" tempo, explica à AFP Hiroshi Ishiguro, um dos grandes especialistas japoneses do setor, que inclusive conta com uma cópia robótica de si próprio.

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O dublê de Ishiguro dá palestras no exterior no lugar de seu gêmeo de carne e osso. "Ele me faz ganhar tempo", diz o pesquisador.

"A parte superior do corpo e a inferior cabem em duas grandes malas, mas a cabeça é muito frágil. Vai como bagagem de mão", afirma.

Os robôs já executam várias tarefas no país do sol nascente: cozinham pratos como um talharim, participam de sessões de psicoterapia com pacientes e, inclusive, juntaram-se aos trabalhos de limpeza após a catástrofe nuclear de Fukushima, em 2011.

O primeiro-ministro, Shinzo Abe, quer organizar olimpíadas de robôs em 2020, junto com os Jogos Olímpicos de Tóquio e cerca de 300 empresas se associaram para criar antes do evento robôs amigos ou assistentes ultra-sofisticados.

Humanos versus 'Replicantes'?

Mas essas réplicas realmente parecem pessoas?

Ishiguro criou seu dublê com sistemas eletrônicos complexos, partes móveis, borracha de silicone e cabelo de seu próprio couro cabeludo.

"Se tivermos conhecimentos suficientes sobre os humanos, poderemos criar mais robôs com aspecto humano", explica este professor da Universidade de Osaka, considerando que, se os humanos e os robôs chegarem a ser amigos, a fronteira entre os dois desaparecerá.

O desaparecimento dessa fronteira foi, durante muito tempo, fonte de temores futuristas, frequentemente refletidos na cultura popular ou nos clássicos da ficção científica.

O filme cult "Blade Runner - O Caçador de Androides" (1982), ambientado em 2019, é um de seus maiores expoentes.

Neste longa-metragem hollywoodiano, o protagonista, interpretado por Harrison Ford, deve matar os replicantes: robôs visualmente idênticos às pessoas, mas fisicamente superiores e capazes de suportar a dor.

Esta visão catastrófica da vida em comum entre humanos e androides também tem seus contrapontos cinematográficos.

Em um recente filme de Hollywood, aclamado pela crítica, "Ela" (Her), de 2013, o protagonista, interpretado por Joaquin Phoenix, se apaixona por um sistema operacional com voz de mulher (emprestada pela atriz Scarlett Johansson).

Atualmente, os robôs antropomórficos ainda podem se diferenciar das pessoas, como é o caso de Pepper, um humanoide criado pela empresa de telecomunicações SoftBank, que garante que a máquina é capaz de compreender emoções humanas e de 70% a 80% das conversas espontâneas.

Pepper, que vai começar a ser vendido em fevereiro por 2.000 dólares, tem traços humanos - como cabeça e braços -, mas está preso em um corpo antisséptico de plástico branco, criado exatamente para destacar sua natureza robótica.

Vale inquietante

Para Masahiro Mori, outro especialista japonês, quanto mais a máquina se parece com o homem, mais confortáveis as pessoas se sentem, mas até um certo ponto, chamado de "vale inquietante", no qual os robôs se tornam tão parecidos com os humanos que causam repulsa.

O Instituto Japonês de Ciências e Tecnologias Avançadas (AIST) estuda esse fenômeno. Seus estudos analisam as reações das pessoas diante de uma réplica antropomórfica e os resultados são muito positivos.

"Utilizamos androides em sessões com crianças que sofrem de transtornos do espectro autista", conta Yoshio Matumoto, chefe do Departamento de Robótica do AIST. "Só quatro indivíduos entre 85 disseram que sentiam medo" dos robôs, acrescenta.

Para Ishiguro, o "pai orgulhoso" de suas duas filhas androides - Kodomoroid e Otonaroid - futuras funcionárias do Museu Nacional de Ciências e Tecnologia de Tóquio (Miraikan), não há lugar para dúvidas: em um futuro, que ele não especifica, todos terão um androide no Japão, como hoje têm um telefone celular.

"Todos terão um androide", insiste. "As pessoas com deficiência [física] precisarão de outro corpo. Teremos mais opções".

De acordo com o professor da Universidade de Osaka, à medida que as pessoas desenvolverem uma relação com seus robôs, eles serão um membro a mais na família, embora isso possa trazer problemas éticos e morais.

"Hesitaremos em desligá-los", diz Ishiguro, que vai além: "Imagine perder um filho em um acidente de trânsito e eu conseguir criar um androide à sua imagem e semelhança. Certamente vão amá-lo e aceitá-lo como um ser humano", desafia.

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