Ministério começa regulamentar Marco Civil da Internet
Regulamentação do Marco Civil da Internet passa por consulta pública no Ministério da Justiça, já que há pontos que dão margem a interpretações diferentes
Da Redação
Publicado em 28 de janeiro de 2015 às 16h03.
Rio de Janeiro - Modelos de negócios já adotados pelas operadoras de telecomunicações podem ser proibidos no país dependendo da regulamentação do Marco Civil da Internet , espécie de constituição da web que passa por consulta pública iniciada nesta quarta-feira pelo Ministério da Justiça .
Apesar de a lei já ter entrado em vigor, alguns pontos precisam ser regulamentados porque dão margem a interpretações.
Entre os temas a serem regulamentados está a neutralidade da rede, princípio segundo o qual provedores de conteúdo devem ter acesso igualitário às redes das operadoras.
Para a pesquisadora do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV-RJ, Marília Maciel, haverá uma disputa pelo entendimento jurídico e técnico da neutralidade da rede, já que a lei aprovada pelo Congresso no ano passado aborda princípios gerais.
"Existem modelos de negócios que não estão sendo explorados (pelas operadoras) no Brasil e outros sim; mas dependendo da regulamentação podem não ser permitidos", declarou.
Um exemplo são as parcerias firmadas entre operadoras e redes sociais para acesso grátis via Internet móvel. No Brasil, a Claro, do grupo América Móvil, já fechou parcerias com Twitter e Facebook para acesso grátis.
A TIM Participações também oferece pacotes exclusivos para acesso ilimitado ao Whatsapp.
Na opinião do centro de pesquisas da FGV-RJ, essas parcerias ferem o princípio da neutralidade de rede. "O princípio prevê que o acesso às plataformas seja igualitário. Esse tipo de parceria desestimula o usuário a sair da plataforma", disse Marília. "Ainda tem o problema de livre acesso à informação. O acesso à Internet fica mais pobre porque as pessoas ficam desestimuladas a acessar outro tipo de produto. Esse é um debate muito forte na Europa", completou.
Para o advogado e presidente do Conselho de Tecnologia da Informação da Fecomercio-SP, Renato Ópice Blum, as parcerias não ferem a neutralidade. Segundo ele, os acordos não discriminam o acesso de determinados conteúdos à Internet, o que infringiria a neutralidade.
"A neutralidade bane dar mais velocidade para um (conteúdo) e menos para outro. Mas essas parcerias são meramente comerciais, não mexem em sistemas, configuração, nada. E o Marco Civil não trata de questões comerciais", declarou.
Outro modelo de negócios já adotado no exterior e que deve ser alvo dos debates são as parcerias financeiras entre provedores de conteúdo e operadoras.
Nos Estados Unidos, a operadora Comcast passou a cobrar o serviço de streaming de vídeo Netflix por acesso mais rápido às suas redes.
O serviço também teve de pagar a AT&T para garantir melhor entrega do conteúdo aos usuários de Internet. O acordo gerou polêmica e foi alvo de campanha pública do próprio Netflix, que pediu à Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês) para rever o mercado.
O regulador norte-americano está trabalhando em novas regras sobre como as operadoras podem administrar o tráfego da web em suas redes, que serão votadas em 26 de fevereiro. O próprio presidente Barack Obama disse em novembro que os provedores de Internet deveriam ser regulados como serviços públicos para garantir acesso igualitário a todos os conteúdos.
O Ministério da Justiça no Brasil prevê que a consulta pública dure 30 dias, prorrogáveis, e diz que a regulamentação será feita de maneira colaborativa, seguindo o padrão de debate público usado quando o Marco Civil ainda era um anteprojeto.
Os debates também envolvem o anteprojeto para proteção de dados pessoais, um marco legal sobre padrões mínimos de segurança e privacidade para o cidadão.
Um dos efeitos que deve se intensificar ainda mais com a expansão da internet é a aproximação e a cooperação entre pesssoas de diversas partes do mundo. "Veremos mais amizades, romances, equipes e trabalhos em grupo globais", afirma Bryan Alexander, do Instituto Nacional para Tecnologia na Educação Liberal, dos EUA.
Além de influenciar as decisões, a coleta constante de dados por meio de dispositivos online terá outro efeito colateral. Ela permitirá a detecção precoce da propensão a certas doeças. Nesta missão, os gadgets de computação vestível ou wearables (como o Google Glass) terão papel essencial. É esperar para ver.
"Tudo - rigorosamente tudo - vai estar à venda online", afirmou ao PRC Llewellyn Kriel, editor da TopEditor International Media Services. A consequência disso é um mundo menos seguro, no qual preservar a própria privacidade pode se tornar difícil. Muitos especialistas acreditam que a internet deve seguir esta tendência.