Jornais brasileiros acham positivo ter saído do Google News
"Passado um ano desde que tomamos esta iniciativa, consideramos que foi uma decisão acertada", declarou Ricardo Pedreira da ANJ
Da Redação
Publicado em 26 de outubro de 2012 às 16h40.
São Paulo - A decisão de jornais brasileiros de abandonar o serviço Google Notícias por não receberem remuneração foi boa, apesar da queda no tráfego, um preço pequeno que pagaram para proteger seu conteúdo, e que poderá abrir um precedente para outros meios de comunicação mundiais.
"Passado um ano desde que tomamos esta iniciativa, consideramos que foi uma decisão acertada", declarou à AFP Ricardo Pedreira, diretor-executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), que em 2011 recomendou que seus 154 jornais associados saíssem do Google News.
"Representou uma pequena queda no tráfego dos sites destes jornais, inferior a 5%, mas consideramos que é um preço muito pequeno pelo gesto que fizemos", destacou.
A ANJ, que reúne 90% dos jornais brasileiros, recomendou a medida depois de negociações sem êxito com o Google , líder mundial em buscas pela internet, nas quais pediam remuneração pelos conteúdos divulgados.
A decisão - que não foi adotada em bloco, mas por um número indeterminado de jornais - foi gradual: primeiro foram reduzidos de três para uma linha os conteúdos reproduzidos pelo Google News, mas depois a ANJ considerou que muitos leitores se sentiam satisfeitos com isso e não iam ao periódico oficial buscar mais informações.
"A Google tem uma posição muito fechada neste aspecto. Considera que não deve pagar pelos conteúdos, que pode utilizá-los livremente", criticou Pedreira.
O grupo americano afirma que não tem razões para pagar, já que seu serviço beneficia os jornais dirigindo leitores aos seus sites.
"É verdade que gera tráfego", reconheceu Pedreira, mas "para nós não interessa esse leitor geral que dá uma 'olhadinha', e sim o leitor fiel que sabe buscar informação e acredita em cada marca".
O diretor-executivo da ANJ assegura que os jornais estão abertos a novos diálogos com o Google, mas sempre e quando "isso puder gerar remuneração para os meios de comunicação".
A Google Brasil, que também diz estar aberta ao diálogo, afirmou, por sua vez, que seu compromisso é apresentar conteúdos de qualidade "da maneira mais rápida e simples possível".
"Por isso é que nos associamos com valiosos meios de comunicação no mundo que escolhem aparecer no Google News", afirmou Newton Neto, gerente de alianças do Google Brasil.
A recomendação da ANJ data de 2011 e foi ratificada há duas semanas na reunião da Sociedade Interamericana de Imprensa, em São Paulo, onde teve grande repercussão.
A Google ameaçou recentemente deixar de fazer referência aos meios de informação franceses se o país resolver finalmente aplicar um imposto aos motores de busca em benefício dos editores de imprensa.
Embora no Google Notícias brasileiro ainda apareçam conteúdos de jornais locais, sites ou de revistas, os principais jornais brasileiros - O Globo, O Estado de São Paulo e Folha de São Paulo - saíram.
A tendência é tentar proteger seus conteúdos através de diversos sistemas de pagamentos e torná-los mais atraentes com vídeos, imagens e muitos outros recursos.
"Muitos jornais estão fazendo movimentos para cobrar por seus conteúdos on-line, como o The New York Times, que adotou o 'paywall'. Tudo está na lógica da valorização dos conteúdos para que as empresas possam ser modelos sustentáveis de negócios", disse Pedreira.
Judith de Brito, superintendente da Folha de São Paulo, afirmou à AFP que abandonar o Google Notícias "foi uma boa decisão" e que isso não impactou o tráfego de visitas à página do jornal nem ao site UOL, que é parte do Grupo Folha.
"Folha e UOL decidiram deixar de ser indexados pelo Google News porque o impacto sobre a audiência é insignificante e não há remuneração por esta indexação", declarou à AFP.
O site UOL registra 24 milhões de visitas diárias, enquanto o site da Folha contabiliza 50 milhões de visitas ao mês, segundo números de diferentes consultoras divulgadas pelo grupo.
Ricardo Gandour, diretor de Conteúdo do Grupo Estado, que edita O Estado de São Paulo, concordou.
"Depois de um ano nossa avaliação é positiva. Tínhamos dúvidas sobre se o Google Notícias trazia ou não tráfego para os nossos sites, e embora tenha ocorrido uma pequena queda de audiência nessa época, foi rapidamente recuperada porque começamos a utilizar outras ferramentas, como vídeos, para fortalecer nosso produto", explicou à AFP.
"Esta notícia foi muito divulgada, causou muito interesse" após a reunião da SIP porque "acredito que os jornais no mundo inteiro buscam uma maneira de perpetuar o valor de sua oferta, do que produziram", afirmou.