Tecnologia

GE, a startup de software

Steve Lohr © 2016 New York Times News Service Talvez essa não tenha sido a sacada mais rápida do mundo, mas Jeffrey R. Immelt, executivo-chefe da General Electric, se lembra do dia em junho de 2009 em que se deu conta do problema. Ele estava conversando com os cientistas da GE sobre os novos motores […]

TURBINA EM FÁBRICA DA GE: método de trabalho semelhante ao usado nas empresas do Vale do Silício acelerou o desenvolvimento de novos produtos / Jeremy M. Lange/The New York Times

TURBINA EM FÁBRICA DA GE: método de trabalho semelhante ao usado nas empresas do Vale do Silício acelerou o desenvolvimento de novos produtos / Jeremy M. Lange/The New York Times

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Da Redação

Publicado em 14 de setembro de 2016 às 16h14.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h46.

Steve Lohr © 2016 New York Times News Service

Talvez essa não tenha sido a sacada mais rápida do mundo, mas Jeffrey R. Immelt, executivo-chefe da General Electric, se lembra do dia em junho de 2009 em que se deu conta do problema. Ele estava conversando com os cientistas da GE sobre os novos motores a jato que estavam construindo, repletos de sensores para gerar dados a partir de cada voo – mas com qual finalidade?

Um dia os dados poderiam ser tão valiosos quanto os próprios motores, se não mais. Mas a GE não conseguia encontrar uma finalidade para eles.

“Tínhamos de aumentar nossa capacidade de criar software”, decidiu Immelt. Talvez a GE – fabricante de turbinas elétricas, motores a jato, locomotivas e equipamentos médicos de imagem – tivesse de pensar na Amazon e na IBM como concorrentes daquele momento em diante.

Na época, a GE buscava voltar para suas origens no setor de maquinários pesados para resistir à crise financeira internacional, depois de abrir mão de boa parte de sua subsidiária financeira, a GE Capital. O processo demorou anos, à medida que bilhões de dólares em ativos foram vendidos, até que este ano a GE Capital foi retirada da pequena lista de instituições financeiras consideradas “grandes demais para falir” pelo governo norte-americano.

Mas em 2011, a empresa também inaugurou discretamente um centro de software em San Ramon, Califórnia, 39 quilômetros a leste de San Francisco, do outro lado da baía.

Atualmente, um dos projetos mais importantes de San Ramon é criar um sistema operacional para computadores, mas em escala industrial – uma espécie de Microsoft Windows ou Google Android para fábricas e equipamentos industriais. O projeto é fundamental para a iniciativa da GE de se tornar uma das “10 maiores empresas de software” até 2020, nas palavras de Immelt.

Os veteranos do Vale do Silício não acreditam na possibilidade.

“A GE está tentando fazer isso do jeito que todas as empresas de grande porte tentam fazer, empregando bilhões de dólares e a mão de obra de milhares de pessoas. Mas os software não são a praia deles”, afirmou Thomas M. Siebel, empreendedor de tecnologia e atual executivo-chefe da C3 IoT, startup que já fez trabalhos para a GE.

O complexo de San Ramon, lar da GE Digital, emprega 1.400 funcionários atualmente. Os prédios foram construídos de forma a permitir o estilo de trabalho dos desenvolvedores de software: andares sem paredes, quadros brancos, sofás para reuniões improvisadas, sacadas com vista para o terreno e cozinhas com lanche para todos.

Naturalmente, muitas empresas veem uma ameaça digital. Entretanto, o escopo do desafio é especialmente grande na GE, uma empresa de 124 anos de idade que também é a maior indústria manufatureira dos EUA, com mais de 300 mil funcionários espalhados pelo mundo. Funcionários de vários setores da empresa têm ido até San Ramon para participar de reuniões de tecnologia e também para se adaptar à nova cultura. A ordem do dia é tentar trazer a magia digital e os hábitos apressados do Vale do Silício ao mundo industrial da GE.

O sucesso ou fracasso da GE ao longo da próxima década depende dessa transformação, de acordo com Immelt. “Essa é provavelmente a coisa mais importante na qual eu trabalhei em toda a minha carreira”, afirmou.

Aparentemente não há plano B. “Ou isso dá certo, ou estamos fritos.”

O próximo campo de batalha

A tecnologia digital – sensores de baixo custo, computadores poderosos e software inteligentes – já caminha há anos em direção ao mundo das indústrias, sob a égide da “internet industrial”. Esse é o próximo campo de batalha das empresas em busca do desenvolvimento de um software que conecte as máquinas.

O setor promete ser um mercado gigantesco para novos produtos, melhores serviços e ganhos de eficiência em setores como o de energia, transporte, e saúde. Até 2020, o mercado da internet vai alcançar os US$ 225 bilhões, de acordo com uma previsão dos executivos da GE em uma reunião recente com analistas do setor.

Até o momento, a principal aplicação tem sido na manutenção preventiva de equipamentos. O software analisa os dados gerados por um equipamento para identificar os sinais iniciais de que ele precisa de reparos, antes que corra o risco de quebrar.

O volume de dados não para de crescer, à medida que novas e velhas máquinas são equipadas com sensores. Até 2020, a empresa estima que o volume de dados gerados pelo maquinário industrial seja 100 vezes maior que o atual. Isso permitira uma análise mas detalhada, dando à GE a chance de vender não apenas máquinas, mas também “resultados de negócios”, como economia de combustíveis. Immelt acredita que essa é a forma de subir um degrau na cadeia alimentar da indústria.

Ainda assim, tudo isso expõem a GE a concorrentes diferentes de velhos rivais, como a Rockwell Automation, a Siemens e a United Technologies. Gigantes tecnológicas, incluindo Amazon, Cisco, Google, IBM e Microsoft também estão de olho no marcado da internet industrial, sem contar uma infinidade de startups.

Naturalmente, existe precedente para problemas em outros setores. Google e Facebook transformaram a imprensa e o marketing, a Amazon redefiniu o varejo e o Uber inventou um modelo de negócios completamente diferente para o transporte de passageiros, que não mudava há décadas.

“O verdadeiro perigo é que os dados e a análise passem a valer mais que o equipamento instalado. A única escolha da GE é tentar se adaptar”, afirmou Karim R. Lakhani, professor da Escola de Negócios de Harvard.

Convertendo os engenheiros

Recentemente, a GE atraiu engenheiros de software e cientistas de dados da Amazon, Apple, Facebook e Google. Porém, desde o início, a empresa enfrenta dificuldades para simplesmente contratar. Desde o ano passado, fez uma série de anúncios de TV autodepreciativos, exibindo funcionários jovens com o objetivo de fazer a empresa deixar de ser vista como uma gigante industrial, mas uma nanica digital.

Até este ano, Darren Haas nunca havia pensado sobre a GE, muito menos em trabalhar para a empresa. Para ele, ela não passava de uma fábrica de utilidades domésticas e lâmpadas. “Eu não fazia ideia”, afirmou Haas.

Contudo, ficou intrigado depois de se reunir com Harel Kodesh, especialista em computação móvel e na nuvem e que já liderou equipes na Microsoft e na VMware, uma fabricante de software para data-centers. Há menos de dois anos, Kodesh se juntou à GE e agora é o CTO da GE Digital.

O fato de alguém do calibre de Kodesh estar na GE foi o bastante para chamar a atenção de Haas. Em seguida, Haas começou a entender o papel que os equipamentos da GE têm na economia global – desde transporte, até hospitais. “É um mundo novo para mim, e achei isso muito, muito atraente.”

A outra coisa que Haas, de 41 anos, achou atraente foi o desafio da computação de larga escala no futuro da empresa. Em maio deste ano, ele deixou a Apple, onde fazia parte da equipe criadora da Siri, a startup que criou o assistente digital adquirido pela Apple em 2010, e se juntou à GE. Quando saiu da Apple, Haas era o chefe da engenharia na nuvem, fazendo a gestão dos computadores por trás da Siri, iTunes e iCloud.

Na GE Digital, Haas tem um título similar, chefe de engenharia de plataformas na nuvem, mas em um ambiente diferente. Ele descreveu seu emprego como a aplicação de software modernos – inteligência artificial, aprendizado de máquina e computação na nuvem – ao ambiente industrial. “O trabalho é perfeito para mim”, afirmou.

Haas trabalha na peça central da estratégia de software da GE, um produto chamado Predix. Sua evolução é similar às ambições de software da GE.

No início, a Predix não passava de uma marca de software utilizada pela GE para melhorar as vendas. Por volta de 2013, William Ruh, ex-executivo da Cisco Systems trazido para montar o centro de software de San Ramon, começou a expandir a Predix para outras áreas da GE.

Porém, pouco tempo depois o setor estava pequeno demais. O problema eram “fatores externos”, afirmou Ruh. Para ele, a GE é o exemplo de empresa com muitos ativos.

A outra ameaça é o interesse de outras empresas de tecnologia em trazer seu conhecimento em conectividade e tentar aplicá-lo ao setor industrial. Para se adiantar a tudo isso, a GE reimaginou o Predix como um sistema operacional baseado na nuvem para aplicações industriais.

Kodesh liderou a empreitada.

Quando entrou para a empresa em 2011, Ruh sabia que não seria fácil transformar uma empresa de maquinário pesado em uma potência dos software. Na época, falou para Immelt que aquela seria “uma jornada de 10 anos”. “Já estamos no meio do caminho.”

Parte disso depende de mudar uma cultura de engenharia que já dura gerações. “Se a GE realmente vai ser uma empresa digital-industrial, não podemos ficar separados”, afirmou Ruh a respeito de sua divisão de software. As “ferramentas e hábitos” digitais precisam fazer parte “do modo de trabalho das pessoas”, afirmou.

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