Dia dos solteiros não empolga na China e Alibaba relata crescimento em vendas mais tímido
O desinteresse pela data comercial é o mais novo sinal de que o consumidor chinês está pressionado pela política de covid zero do país
André Lopes
Publicado em 14 de novembro de 2022 às 14h52.
Última atualização em 17 de novembro de 2022 às 16h34.
O maior festival anual de compras da China, o Dia dos Solteiros, teve o crescimento mais fraco desde que o gigante do comércio eletrônico Alibaba o lançou em 2009. A percepção é o mais novo sinal de sentimento deprimido do consumidor chinês sob a rigorosa política de covid-19 do país.
No detalhe, essa foi a primeira vez o Alibaba não divulgou os números exatos obtidos na data e se ateve apenas em dizer que eles estavam alinhados com o desempenho do ano passado. Em 2021, o Alibaba faturou ao todo US$ 84,5 bilhões, um aumento de 8,5% em relação a 2020, no entanto, o menor já registrado.
O sumiço dos números recordes também ocorreram no relatório da rival JD.com, que disse apenas que as vendas atingiram uma nova alta e que o crescimento foi mais rápido do que a média do setor.
De acordo com o provedor de dados de mercado Syntun, as vendas online na China na quinta, 10, e sexta-feira, 11, totalizaram US$ 43 bilhões nos principais varejistas, com base em transações em dezenas de plataformas. A Syntun atribuiu 61% do total de vendas à plataforma principal do Alibaba, a Tmall, e 27% ao JD.com. Mas segundo dados divulgados pelos varejistas chineses, no ano passado o valor arrecado internamente foi deUS$ 74 bilhões.
O temor em revelar os números, além de apontar o fim de período explosivo de crescimento, deve-se também por entregar que a abordagem de tolerância zero de Pequim para sufocar os surtos de covid-19 está prejudicando a atividade comercial como um todo na China.
Em uma tentativa de mitigar os efeitos, o governo aliviou alguns controles de pandemia na sexta-feira, 11, mas pode ter sido tarde.
Junto das vendas amenas, corroboram com a tese de que o comércio começa a ir mal os números do desemprego urbano que subiu para 5,5% em setembro, ante 5,3% em agosto.
Os ventos econômicos contrários e a pandemia que não dá trégua levaram muitos consumidores chineses a ajustar a maneira como vivem, abandonando o foco em bens de luxo e concentrando-se em itens essenciais.
Uma pesquisa do serviço de pesquisas do Southern Metropolis Daily, um jornal com sede na cidade de Guangzhou, descobriu que 24% dos entrevistados não iriam aproveitar os descontos do Dia dos Solteiros deste ano, em comparação com 12% no ano passado e 6% em 2020. Um terço dos que passaram no Dia dos Solteiros deste ano citou reduções de renda.
Mas não significa que a data caminha para o fracasso. Segundo o próprio Alibaba, mais de 300 milhões de compradores assistiram a programas de transmissão ao vivo hospedados no Taobao Live durante todo o período de vendas. Mesmo que isso não signifique uma conversão em vendas, há o indicador de que os consumidores ainda se interessam por novos produtos e promoções.
Contudo, é preciso levar em conta também que o Dia dos Solteiros evoluiu de apenas um dia de compras para um evento de uma semana e hoje gera oito vezes mais receita do que as contrapartes americanas Black Friday e da Cyber Monday combinadas. Além disso, a experiência chinesa em logística e tecnologia já se infiltrou no comercio de importação de outros países e, nesse quesito, é certo que a China não retrocede.