Brasil recua em planos de energia nuclear e favorece eólica
Leia entrevista com o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim.
Da Redação
Publicado em 15 de setembro de 2013 às 07h37.
Rio de Janeiro - O Brasil provavelmente recuará em seus planos de novas usinas nucleares devido a preocupações com segurança após o vazamento de 2011 no Japão, e promoverá por outro lado uma "revolução" na energia eólica, disse o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim.
Tolmasquim disse à Reuters que era "improvável" que o governo mantenha seus planos de construir quatro novas usinas nucleares até 2030 para atender a crescente demanda por eletricidade.
Ele se recusou a informar quantas usinas serão construídas.
Os comentários de Tolmasquim, parte de uma avaliação mais ampla dos planos estratégicos de longo prazo do país para geração de energia elétrica, ressaltaram as dúvidas globais quanto à energia nuclear mais de dois anos depois do terremoto seguido de tsunami que levou a um acidente na usina de Fukushima, no Japão.
"Depois do Japão, as coisas foram colocadas em espera", disse Tolmasquim em entrevista na semana passada. "Não abandonamos (os planos)... mas eles também não foram retomados. Não é uma prioridade para nós neste momento."
O Brasil ainda não iniciou o processo das unidades projetadas que estarão finalizadas em 2030. A usina atualmente em construção, Angra 3, está sendo construída com tecnologia alemã da Siemens-KWU.
O Brasil permanece como um local relativamente atrativo para a energia nuclear, disse Tolmasquim, já que é um dos poucos países que possui todos os elementos naturais necessários para sua produção. Além das duas usinas nucleares existentes no Rio de Janeiro, uma terceira está em fase de construção, e deve entrar em operação em 2018.
Depois de um crescimento econômico robusto na última década, o Brasil é o mercado para novas fontes de eletricidade confiáveis, limpas e baratas. A rede de energia do país atualmente se baseia em usinas hidrelétricas para cerca de 75 por cento de sua demanda. Isso tem benefícios ambientais evidentes, mas também deixou o país vulnerável durante eventuais períodos de seca.
Em janeiro, o tempo seco no Nordeste causou temores de escassez de energia, o que abalou os mercados financeiros e causou dor de cabeça para a presidente Dilma Rousseff. A última grande crise havia ocorrido em 2001, quando a escassez de energia derrubou em cerca de 1 ponto percentual o crescimento econômico brasileiro e deixou milhões de pessoas à luz de velas.
MOMENTO DA ENERGIA EÓLICA
Atualmente, a energia nuclear representa pouco mais de 1 por cento da geração de energia elétrica no Brasil, mesma porcentagem das usinas eólicas. A geração termoelétrica movida a gás natural responde pela maior parte do restante.
Apesar da desaceleração da economia desde 2011, a demanda por eletricidade continuou a crescer enquanto muitos brasileiros migram para a classe média e compram geladeiras, TVs e outros bens de consumo movidos a energia elétrica pela primeira vez. O consumo de eletricidade subiu 3,5 por cento em 2012, comparados ao crescimento de apenas 0,9 por cento da economia como um todo.
Tolmasquim, que foi o principal assessor de Dilma quando ela foi ministra da Energia no início dos anos 2000 e ainda é próximo à presidente, disse ver potencial para a expansão da energia eólica graças ao aumento da competição e aos avanços tecnológicos que reduziram os preços.
A média de preços da energia eólica no Brasil caiu de 148 reais por megawatt-hora no fim de 2009 para 110 reais por megawatt hora este ano.
"Este é o momento da energia eólica", disse. "Houve uma revolução em termos de custos."
Diversas empresas internacionais estão investindo em energia eólica no Brasil, incluindo Enel Green Power, General Electric Co., Alstom e Gamesa Corporacion Tecnologica.
O sucesso da energia eólica reduziu a ambição pela expansão da energia solar, ao menos por enquanto, disse Tolmasquim. Ele disse que a eólica é atualmente mais barata que a energia solar no Brasil, apesar ser provável que os avanços tecnológicos mudem isso.
"É uma quesão de tempo", disse Tolmasquim. "A energia solar está vindo, cedo ou tarde."
Qualquer coisa que reduza o preço da energia elétrica será bem-vinda. Apesar da abundância de sol e de vento e de outras formas de energia limpa, o Brasil ainda tem um dos preços de energia mais altos do mundo, principalmente por conta dos altos impostos.
(Reportagem de Brian Winter; Edição de Kieran Murray e Andrew Hay)