Após escândalo, Facebook encerra em parte programa que espionava celulares
Para evitar reação da Apple, o Facebook disse que o app será removido da App Store - não disse, porém, se será deletado da Play Store, do Google
Estadão Conteúdo
Publicado em 31 de janeiro de 2019 às 14h34.
Após protagonizar um novo escândalo de violação de privacidade, o Facebook decidiu encerrar parcialmente o programa que oferecia US$ 20 mensais para pessoas entre 13 e 35 anos em troca da permissão de monitorar seus smartphones.
O projeto, revelado na noite desta terça, 29, pelo site TechCrunch, oferecia desde 2016 vale-compras nos EUA e na Índia para quem instalasse o app Facebook Research no iOS e no Android - o programa, então, era capaz de ver mensagens privadas em redes sociais, mensagens trocadas por apps, bem como buscas e atividades de navegação.
Com essas informações, o Facebook tomava decisões sobre a implantação de novas ferramentas em sua plataforma e até a compra de empresas emergentes que estivessem ganhando popularidade.
Além de invasivo, o sistema violava as regras de aplicativos e testes da Apple. Uma das infrações é a de que o "app espião" só podia ser instalado com uma rotina específica, liberada pela fabricante do iPhone a desenvolvedores internos - e não a qualquer usuário recrutado pela internet aleatoriamente.
Para evitar uma reação da Apple, o Facebook comunicou que o app será removido da App Store - não disse, porém, se será deletado também da Play Store, do Google.
Além disso, a companhia rebateu de que o programa espionava seus participantes. "Importantes pontos sobre este programa de pesquisa de mercado estão sendo ignorados. Apesar das recentes matérias, não havia nada de secreto sobre o aplicativo chamado Facebook Research App. Ele não estava espiando as pessoas que se cadastraram para participar.
Elas passaram por um processo claro: foi solicitado a elas a permissão e elas foram remuneradas por participar da pesquisa", diz o comunicado da empresa.
A rede social também se defendeu da acusação de que estaria espionando adolescentes. "Menos de 5% das pessoas que decidiram participar desse programa de pesquisa de mercado são adolescentes e todos eles tiveram o consentimento formal de seus pais", completa o documento.
Para recrutar usuários, inclusive menores de idade, o programa veiculou anúncios no Instagram e no Snapchat.
Violação
Uma das coisas que chamou a atenção na reportagem do TechCrunch é o fato de que o Facebook praticamente reutilizou a infraestrutura e o código do app Onavo, aplicativo banido da loja de aplicativos oficial da Apple em agosto do ano passado por permitir acesso total aos dados do smartphone.
O app do Facebook Research alterava apenas alguns aspectos visuais e de interface. O Onavo foi criado por uma startup homônima, comprada por US$ 120 milhões pela empresa de Mark Zuckerberg em 2013.
O serviço também foi utilizado pela rede social para descobrir, por exemplo, que o fluxo de mensagens do WhatsApp era o dobro do Facebook Messenger - munindo a empresa de argumentos para pagar US$ 16 bilhões pelo app de mensagens mais popular do Brasil hoje em dia.
Apesar do banimento pela Apple, o Onavo Protect continua disponível para download no Android - e contabiliza mais de 10 milhões de usos.
Antes de ser banido pela Apple, o Onavo já havia sofrido críticas: reportagem feita pelo Wall Street Journal em 2017 mostrou que o aplicativo foi vital para o Facebook espiar o rival Snapchat, antes de lançar ferramentas de mensagens efêmeras como Instagram Stories e WhatsApp Status.