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Aperte o cinto, o provedor sumiu

O que fazer quando o fornecedor de infra-estrutura da sua empresa vai para o buraco (sim, eles podem quebrar)

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h46.

O dia de trabalho mal havia começado no escritório do Ponto Frio, e o telefone tocou com a notícia: o provedor de Internet da empresa -- que mantinha a página de vendas online, uma das cinco lojas mais rentáveis entre 350 -- faliu. Fechou as portas. Vocês devem vir retirar os equipamentos até o meio-dia. Depois, os serviços serão interrompidos. Eram pouco mais de 10 da manhã de 20 de agosto, e outros 3 mil clientes do provedor PSINet, que encerrou a operação no Brasil por falta de dinheiro, foram surpreendidos com a ligação. E se fosse com você?

O mercado brasileiro de provedores de infra-estrutura de internet impressiona. São empresas que já nasceram grandes, com investimentos de dezenas, centenas de milhões de dólares, como Diveo, Optiglobe, AT&T, .comDominio, Originet, Global One, Matrix. Elas oferecem serviços que vão desde conexões à Web (os links) até hospedagem de máquinas e programas. Segundo o Yankee Group, instituto de pesquisa especializado em tecnologia, só os serviços de hospedagem devem faturar, em 2001, 221 milhões de dólares, contra 171 milhões no ano passado. Em 2002, a expectativa é de que esse faturamento suba para 289 milhões. Isso sem contar os centros de dados das operadoras de telefonia, outra opção para empresas que pensam em terceirizar seus servidores.

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As estatísticas são otimistas, mas a vida real é dura. Rumores sobre a fragilidade financeira de alguns provedores ganham força, e os fatos comprovam que nem tudo vai bem. A PSINet, a provedora do Ponto Frio, entrou no mercado brasileiro em 1999 e faliu em agosto deste ano. Também em agosto, a Embratel cortou os serviços de aluguel de linhas de internet da empresa argentina Impsat. O motivo: falta de pagamento (hoje, a situação está normalizada). O problema é que, embora crescente, a demanda por serviços de internet ainda não justifica o tamanho do parque de fibras ópticas, centrais de dados e a pulverização de provedores. São muitas as corporações que vêm investindo em tecnologia dentro de casa e ainda não enxergaram as vantagens da terceirização. As pequenas e médias não têm cacife para pagar tais serviços.

ESCOLHA DECISIVA

Diante disso, escolher um provedor de internet e ter garantias de que ele não irá deixar sua empresa fora do ar é uma tarefa cada vez mais importante. É preciso ter critérios rigorosos e avaliar desde o perfil financeiro do provedor até se o serviço oferecido por ele é realmente adequado à necessidade da empresa, diz Márcio Krug, diretor de negócios do Gartner Group. O conselho parece óbvio -- afinal, quem vai deixar seu site sob a responsabilidade de um provedor que não tem saúde financeira para manter a qualidade dos serviços? Mas não são poucos os que acreditam que apenas comparar preços é critério suficiente para tomar uma decisão (veja quadro abaixo). Não é, diz Osvaldo Mazzola, diretor de informática da DHL, empresa de logística que faz entregas nacionais e internacionais. Para escolher o provedor que hospeda seu site de comércio eletrônico, a empresa avaliou uma série de outros quesitos antes de chegar ao orçamento. Primeiro procuramos saber sobre a infra-estrutura dos provedores, se seus funcionários eram competentes e quais os equipamentos que seriam utilizados para manter a página funcionando, diz Mazzola.

Conhecer os ativos do provedor e sua procedência ajuda muito, mas o que vai escrito no contrato é o que realmente pode garantir se ele é descuidado com o cliente. A moda agora é o SLA, diz Krug, do Gartner. Explica-se: SLA é a sigla de service level agreement, ou acordo de nível de serviço. Ele pode ser entendido como o detalhamento das obrigações do provedor: o tempo de resposta da rede, quantas vezes a página pode cair em determinados dias e horários da semana, como a eficiência da rede será medida. O SLA foi a principal fase da escolha do provedor, afirma Mazzola, da DHL. Mas é bom lembrar: quanto mais obrigações o provedor assume, mais caro ele vai cobrar.

DESPLUGADOS

A seleção pode ter sido cuidadosa, o contrato, minuciosamente discutido, mas, se o provedor for à falência, não há critério nem minuta que mantenha um site no ar. É simples e trágico assim: alguém tira um plugue da tomada e tudo que era online vira offline. A empresa tem de estar preparada para o pior. Isso significa ter um plano B na gaveta, afirma Krug. Quando o Ponto Frio recebeu o telefonema fatídico da PSINet, a margem de manobra da empresa para não deixar os 25 mil clientes na mão era de duas horas, uma equipe interna que dominava a configuração do sistema e uma cópia doméstica de tudo o que estava no servidor ameaçado de ser desligado. Se esse arquivo não existisse e se não estivéssemos em contato constante com outros provedores, não sei o que teria acontecido, diz Pedro Roncisvalle, diretor de tecnologia do Ponto Frio.

A PSINet herdou o Ponto Frio da STI, um dos primeiros provedores comprados pela americana quando chegou ao país, no início de 2000. A STI era pequena, crescemos na internet juntos, diz Roncisvalle. Quando soubemos da compra, as metas de vendas estavam crescendo, e já tínhamos começado a procurar um provedor de maior porte. Ficamos aliviados com a notícia. Quem não ficaria? Tratava-se de uma empresa conhecida no mercado, com infra-estrutura invejável e considerada uma potência em seu país de origem. Chegamos a avaliar outros provedores, mas não tínhamos razão para deixar a PSINet, afirma ele.

Foi quando surgiram os rumores de que o provedor estava prestes a pedir concordata. As conversas com outros provedores se intensificaram. Quando a PSINet anunciou o encerramento das operações, as negociações estavam avançadas. A migração do antigo para o atual demorou uma semana, afirma Roncisvalle. E quanto ao contrato com a PSINet? Não sabemos se eles pagarão a rescisão. Há coisas que nem Deus consegue garantir.

Manual de verificação

O que sua empresa não pode deixar de fazer antes de escolher um provedor de infra-estrutura

  • Peça uma lista dos clientes. Entre eles, escolha um que seja do mesmo setor que a sua empresa e procure saber se ele está satisfeito com a qualidade do serviço.
  • Verifique a situação financeira do provedor e dos sócios. Essas empresas consomem muitos recursos e podem ficar sem fôlego de uma hora para a outra.
  • Inclua no contrato o maior número de detalhes possível sobre a qualidade do serviço. Pode parecer excesso de zelo, mas será sua única garantia caso haja problemas no futuro.
  • Mantenha sempre em casa uma cópia de segurança dos dados e pelo menos um funcionário que entenda do assunto. Na hora do corre-corre, isso pode salvar sua empresa.
  • Conheça os parceiros tecnológicos do provedor de infra-estrutura. Lembre-se: ele também depende dos serviços de empresas que podem estar com problemas -- como companhias de telecomunicações.
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