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A estratégia chinesa do Peixe

Depois de meses de negociação, o Peixe Urbano voltou atrás e desistiu de comprar a operação brasileira do concorrente Groupon

Escritório do Peixe Urbano (Germano Lüders/Exame)

Escritório do Peixe Urbano (Germano Lüders/Exame)

GK

Gian Kojikovski

Publicado em 9 de março de 2017 às 17h33.

Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h24.

Foram meses de negociação entre dois concorrentes históricos que acabaram em um “não” inesperado. EXAME Hoje apurou que o site de compras coletivas Peixe Urbano namorou por um longo período a aquisição da operação brasileira do americano Groupon, mas decidiu não comprar o rival. A resposta negativa veio diretamente do Baidu, gigante da internet chinesa e dono do Peixe, que acha que o melhor momento das compras coletivas ficou para trás. E que é hora de pensar em novos negócios.

Estava tudo encaminhado até fevereiro, quando o executivo Liu Wei foi escolhido como presidente do Baidu Ventures, responsável pela política de investimentos da companhia e pelos fundos de investimento regionais que a empresa possui. Wei assumiu o cargo chacoalhando toda a operação – inclusive o recém-criado Easterly Venture, fundo do Baidu com 60 milhões de dólares para investimento em startups brasileiras. Wei é o principal responsável pelo não à negociação tupiniquim.

O planos dos executivos que tratavam da aquisição do Groupon era consolidar o mercado nacional de compras coletivas. Com faturamento de 500 milhões de reais, o Peixe Urbano controla mais de 70% do mercado e o restante fica dividido entre o Groupon e empresas regionais.

Depois, o Peixe poderia continuar seguindo o caminho traçado quando o Baidu decidiu comprar sua operação, em 2014, em troca do pagamento da dívida de 60 milhões de reais que a startup brasileira tinha: criar uma plataforma online para consumidores contratarem serviços off-line – como táxi, hotel e passagens aéreas e o que mais for possível. Wei decidiu que o melhor caminho para a empresa é focar direto no objetivo final. Procuradas, as empresas não quiseram comentar o assunto.

O caminho do Peixe

A estratégia do Peixe Urbano no Brasil é tentar se aproximar do que o Baidu faz na China, se tornando em uma grande plataforma para que os usuários contratem online tudo o que precisarem – o conceito tem o nome de “online para off-line”. Nessa área, especialistas concordam que os asiáticos estão muito à frente de empresas do ocidente. Já com esse objetivo em mente, o Baidu tentou, sem sucesso, negociar a fusão entre 99 e Easy para criar uma grande companhia nacional no mercado de transporte. O negócio fracassou e a 99 recebeu investimento de outra chinesa, a Didi Chuxing.

Ainda pensando nesse conceito, o Peixe também se envolveu em uma disputa judicial com o Hotel Urbano pelo direito ao uso do nome “Urbano”. A disputa só começou depois da aquisição do Baidu e aconteceu porque, além do site de compras coletivas sempre ter se incomodado com o sucesso da agência de viagens, haveria um potencial conflito de interesses caso o Peixe venha a ter alguma parceira no ramo de venda de pacotes de viagem.

O fundo de 60 milhões de dólares do Baidu no Brasil surgiu para investir em startups que possam vir a ser interessantes para essa plataforma. Por enquanto, o Easterly Ventures ainda não realizou nenhum investimento. Entre as primeiras investidas deve estar pelo menos uma empresa de meios de pagamento. “A melhor maneira de monetizar é ter uma empresa de pagamentos para intermediar todas as transações. Esse é o objetivo final”, diz um executivo do setor.

O modelo de plataforma de ‘online para off-line’ só faz sentido se forem oferecidos muitos serviços, para que o consumidor a utilize com frequência. No Brasil, isso ainda é pouco comum. O Baidu faturou 8 bilhões de dólares em apenas nove meses de 2016 – está, portanto, acostumado a pensar grande. E, para o Brasil, o plano está traçado.

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