7 cidades que despoluíram seus rios e podem inspirar Brasil
Em São Paulo, ninguém aprecia passar ao lado dos rios Pinheiro e Tietê para sofrer com o mau cheiro. Mas várias cidades do mundo conseguiram despoluir suas águas
Da Redação
Publicado em 13 de dezembro de 2013 às 07h31.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 16h59.
O rápido crescimento dos centros urbanos trouxe um problema comum para várias cidades do mundo, em épocas diferentes: os rios poluídos. A falta de tratamento de esgoto e o descarte de poluentes industriais são os grandes vilões para esse quadro. Dados da Comissão Mundial de Águas dão conta de que os 500 maiores rios do planeta enfrentam problemas com poluição. Como exemplo, o mal cheiro não deixa os moradores de São Paulo esquecerem por um dia sequer a triste situação em que se encontram os rios Pinheiros e Tietê. Mas diversas cidades conseguiram transformar seus rios mortos em belos retratos de cartão-postal, como Paris e Londres, integrando-os à sua vida econômica e social. Veja alguns exemplos que podem inspirar as autoridades brasileiras para que alcancemos os mesmos resultados.
O Sena, em Paris, foi degradado por conta da poluição industrial, situação comum a outros rios europeus. Neste caso, porém, houve um agravante: o recebimento de esgoto doméstico. Por conta de seu estado lastimável, desde a década de 1920 o Sena é alvo de preocupações ambientais. Mas foi apenas em 1960 que os franceses passaram a investir na revitalização do local construindo estações de tratamento de esgoto. Hoje já existem 30 espécies de peixes no rio, mas o processo para que isso acontecesse foi lento. No começo, havia apenas 11 estações em funcionamento. Em 2008 já eram duas mil, mas a meta é que em 2015 o rio já esteja 100% despoluído. Como parte do processo de tratamento de esgoto, o governo criou leis que multam fábricas e empresas que despejarem substâncias nas águas. Além disso, há um incentivo entre 100 e 150 euros por hectar para que agricultores que vivem às margens do rio não o poluam.
O Tâmisa tem quase 350 km de extensão e um longo histórico de poluição. As águas deixaram de ser consideradas potáveis ainda em 1610, por conta da falta de saneamento básico da Inglaterra. Ocorriam até mesmo mortes por cólera. Em 1858, no entanto, reuniões parlamentares precisaram ser suspensas por conta do mau cheiro das águas, o que levou os governantes a resgatar a vida do rio apelidado como Grande fedor. Na época foi colocado em prática uma alternativa sem êxito, já que o sistema que coletava o esgoto despejava os dejetos recolhidos no rio a certa distância abaixo da cidade. Apenas entre 1964 e 1984 novas ações de revitalização surtiram efeito. Foram criadas duas estações de tratamento de esgoto com investimentos de 200 milhões de libras. Quinze anos depois, um incinerador passou a dar destino aos sedimentos vindos do tratamento das águas, gerando energia para as duas estações. Fora isso, hoje dois barcos percorrem o Tâmisa de segunda a sexta e retiram 30 toneladas de lixo por dia.
Para despoluir o famoso rio de Lisboa foram investidos 800 milhões de euros. A revitalização, que se encerrou em 2012, incluiu obras de saneamento e renovação da rede de distribuição de águas e esgotos, visto que os dejetos eram depositados diretamente nas águas do rio. Foram beneficiados com o projeto 3,6 milhões de habitantes. O Tejo é o maior rio da Europa ocidental e passou a ser despoluído com a criação da Reserva Natural do Estuário do Tejo, em 2000. O plano envolveu a construção de infraestrutura de saneamento de águas residuais e renovação de condutas de abastecimento de água. Hoje, até golfinhos voltaram a saltar nas águas do rio europeu.
Pode parecer mentira, mas os 5,8 km do rio que corta a grande metrópole de Seul foram totalmente revitalizados em apenas quatro anos. Hoje ele conta com cascatas, fontes, peixes e é ponto de encontro de crianças e jovens. Seu renascimento começou em julho de 2003, quando o governo da cidade implodiu um enorme viaduto (com cerca de 620 mil toneladas de concreto) que ficava sobre o rio e começou, em paralelo, um grande projeto de nova política de transporte público e construiu diversos parques lineares, ampliando a quantidade de áreas verdes nas ruas para uma cidade sustentável. Todo o processo teve um investimento de 370 milhões de dólares. Com as melhorias ambientais, a temperatura em Seul diminuiu 3,6°C, além de haver melhorias econômicas para a cidade. O rio sul-coreano era responsável pela drenagem das águas da metrópole com mais de 10 milhões de habitantes quando seu leito se tornou poluído. Hoje, as águas que correm por lá são bombeadas do Rio Han, outro que passou pelo processo de despoluição.
Formado pela confluência dos rios Namhan e Bukhan, ele passa por Seul e se junta ao rio Imjin, que em seguida deságua no Mar Amarelo. Com 514 km de extensão, sendo 320 navegáveis, o rio sempre teve papel fundamental para o desenvolvimento da região, visto que era fonte para a agricultura e o comércio, além de ajudar na atividade industrial e na geração de energia elétrica. No entanto, o Rio Han sofreu grande degradação durante a Segunda Gerra Mundial e Guerra da Coreia, além de receber o despejo de esgoto. Mas, em 1998, com o plano de Desenvolvimento e Implementação de Gestão da Qualidade da Água, o local mudou o seu destino. Com a revitalização do rio Cheonggyecheon, o Han também passou por mudanças e hoje é considerado limpo e já tem algumas espécies de peixe. O governo tem em prática, inclusive, o projeto Han Renaissance, que tem por objetivo revitalizar 12 parques à beira do rio.
Com cerca de 1,3 mil km de extensão, o rio nasce nos Alpes Suíços e banha seis países europeus até desaguar no Mar do Norte, na Holanda. Durante muitos anos recebeu dejetos de zonas industrias, o que o levou a ser conhecido, em 1970, como a cloaca a céu aberto da Europa. Um dos principais casos a contaminação aconteceu em 1986, quando 20 toneladas de substâncias altamente tóxicas foram despejadas no rio por uma empresa suíça. Com o ocorrido, o governos das cidades banhadas pelo Reno se reuniram e criaram o Programa de Ação para o Reno em 1987, investindo mais de 15 bilhões de dólares em sua recuperação, que contou com a construção de estações de tratamento de água monitorado. O resultado são 95% dos esgotos das empresas tratados e a existência de 63 espécies de peixes vivendo por ali hoje.
Localizado no estado de Ohio, ele conta com 160 km de extensão, passando pelo Parque Nacional do Vale Cuyahoga e desaguando no Lago Eire. Hoje ele é parte fundamental do ecossistema da região, sendo lar e fonte de sustento de diversos animais. No entanto, a história era bem diferente em um passado não muito distante. Devido à atividade industrial maciça e o esgoto residencial da região entre Akron e Cleveland, o rio era bastante poluído. Para piorar a situação, em junho de 1969, uma mancha de óleo e outros produtos químicos incendiaram o rio. Por conta desses fatores, em 1970 foi assinado o Ato Nacional de Proteção Ambiental, que viabilizou a criação do Ato Água Limpa, em 1972, estipulando que todos os rios do país deveriam ser apropriados para a vida aquática e para o lazer humano. Assim, Cleveland investiu mais de 3,5 bilhões de dólares para a purificação da água do Cuyahoga e dos seus sistemas de esgoto. E a previsão é de investir mais 5 bilhões nos próximos 30 anos para manter o bom estado de suas águas.
Provavelmente você conhece a capital dinamarquesa por ser referência no assunto meio ambiente. Hoje ela possui uma meta muito clara: quer chegar em 2025 como a capital a primeira capital do mundo a neutralizar suas emissões de carbono. Mas nem sempre foi assim. Antes os canos que levavam a água da chuva para os rios e canais muitas vezes se misturavam com a rede de esgoto, transportando os dejetos para as águas. Além disso, o entorno do rio era uma área industrial, o que fazia com que boa parte do lixo da região fosse para os canais e rios. Em 1991, no entanto, surgiu o plano de despoluição das águas e a remoção da área industrial ao redor do rio. Assim, as galerias pluviais foram reconstruídas, os reservatórios de água foram estabelecidos em pontos estratégicos da cidade para que a água da chuva se armazenasse em caso de tempestade e o encanamento dos esgotos foi melhorado. O lixo, por sua vez, passou a ser reciclado e incinerado. Hoje os habitantes e turistas podem, até, tomar banho nas piscinas públicas artificiais criadas pelo governo.
Para que a Lagoa Rodrigo de Freitas, as lagoas da Barra da Tijuca e a Baía de Guanabara cheguem cristalinas à Olimpíada de 2016 a Cidade Maravilhosa deve gastar R$ 2 bilhões. Para tanto, o governo do estado de Maryland, nos Estados Unidos, vai colaborar com o programa de despoluição da cidade. O Brasil não vai copiar o modelo da Baía de Chesapeake, implantado no nordeste dos Estados Unidos, mas quer aprender como funciona a gestão do modelo de sucesso. A parceria consiste na formação de quadros técnicos e uma metodologia de monitoramento para cada parâmetro, como a água, a terra e o ar. O Plano Guanabara Limpa tem como meta o fim dos lixões que despejam chorume na baía, o aumento de 12% para 40% da população atendida por saneamento básico e a instalação de Unidades de Tratamento de Rio que vão retirar um terço da poluição despejada nas águas.
O Rio Tietê nasce na Serra do Mar e percorre mais de um km até o rio Paraná. Foi em 1930 que suas terras começaram a ser poluídas, quando ele assumiu a função de vazão para os esgotos da cidade. Apenas na região urbana, ele recebe cerca de 400 toneladas de esgoto diariamente. Hoje, é considerado morto biologicamente, sendo casa apenas para fungos e bactérias. Em 1992, a Sabesp começou um projeto para melhorar a qualidade da água no rio, tratando o esgoto de 18 milhões de pessoas. O projeto está em sua terceira etapa, que custou R$ 3,9 bilhões, e ainda não apresentou melhoras significativas. Vale lembrar que a primeira etapa teve investimento de R$ 2,16 bilhões; a segunda, de R$ R$ 982 milhões. De acordo a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, a meta é despoluir o Rio Tietê até 2025, por meio das obras de coleta e tratamento de esgoto desenvolvidas pelo Projeto Tietê. Para que o projeto seja finalizado, porém, serão gastos mais R$ 4 bilhões.