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"Só voltaremos ao nível pré-crise em 2020", diz economista

Para o economista e diretor da consultoria Euromonitor no Brasil, a retomada do consumo no país será lenta e começará pelos setores que dependem de crédito

Motta, da Euromonitor: “O mercado consumidor caiu para um nível similar ao de 2010” (Foto:/Divulgação)

Motta, da Euromonitor: “O mercado consumidor caiu para um nível similar ao de 2010” (Foto:/Divulgação)

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Filipe Serrano

Publicado em 24 de maio de 2017 às 05h55.

Última atualização em 24 de maio de 2017 às 11h12.

São Paulo – O economista Marcel Motta acompanha há quase 15 anos o mercado de consumo brasileiro. Ele é o diretor no Brasil da consultoria britânica Euromonitor, especializada em pesquisas sobre o mercado de bens e serviços em mais de 100 países. Para Motta, o mercado consumidor brasileiro caminha para uma recuperação, mas ela será lenta. “Na nossa previsão, a maioria das indústrias só voltará ao nível pré-crise em 2020 ou depois”, diz.

EXAME - Já dá para dizer que o mercado consumidor caminha para uma retomada?

Marcel Motta - Sim. Há três mudanças que terão um impacto grande sobre o consumo já neste ano. Uma é o fato de a inflação ter caído e, consequentemente, espera-se uma redução dos juros. Isso ajuda os segmentos que dependem de crédito, como o de automóveis. A segunda é que, com a queda da inflação, podemos ver um ganho real nos rendimentos das famílias. Isso porque os dissídios salariais tiveram entre 6% e 9% de aumento no ano passado. Com a inflação de 4% ao ano, a expectativa é que esse dinheiro extra seja colocado na economia de novo. O terceiro ponto é a melhora da expectativa do consumidor.

EXAME - Qual é o peso de cada um desses três pontos?

Marcel Motta - O mais importante é a mudança de expectativa. As pessoas passam a sentir segurança para voltar a consumir.

EXAME - Isso será o suficiente para que a economia brasileira volte a crescer?

Marcel Motta - Sim, mas será algo gradual. No começo, a retomada virá desse aumento do consumo porque as empresas não precisam fazer investimentos. Elas já têm uma capacidade ociosa e têm espaço para crescer.

EXAME - A recuperação das empresas de bens de consumo será lenta?

Marcel Motta - Sim. Acompanhamos 30 segmentos e vemos que alguns deles tiveram uma queda muito expressiva durante a recessão. A indústria de higiene pessoal, por exemplo, perdeu um mercado anual de 4 bilhões de dólares. É o mesmo tamanho do mercado inteiro do Chile nesse segmento. O varejo encolheu 27 bilhões de dólares, o tamanho de todo o varejo do Peru. As vendas de eletroeletrônicos caíram 9 bilhões de dólares, o mesmo valor do mercado de eletroeletrônicos do Canadá. Um mercado do tamanho do Canadá simplesmente desapareceu de uma hora para a outra.

EXAME - Quando esses setores vão recuperar o nível que  tiveram no passado?

Marcel Motta - Será uma recuperação muito lenta. O mercado consumidor brasileiro caiu para um nível equivalente ao de 2010. Na nossa previsão, a maioria das indústrias só voltará ao nível pré-crise em 2020 ou depois disso.

EXAME - Qual é sua estimativa para este ano?

Marcel Motta - Para este ano, trabalhamos com a previsão de um aumento de 1,8% no consumo. Claro que muitas empresas terão um resultado superior a esse. No ano que vem, a previsão é de um aumento um pouco maior, de 2,2%.

EXAME - De onde virá esse crescimento?

Marcel Motta - Principalmente dos segmentos que têm produtos mais caros e que dependem de crédito. Os setores de eletrodomésticos e de automóveis são alguns exemplos. Há um consumo reprimido atualmente nesses segmentos. Se o crédito ficar mais barato nos próximos 12 meses, esses serão os primeiros mercados a sentir a retomada.

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