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Todo o poder ao investidor: a revolução pela educação financeira

O investidor brasileiro nunca teve tanta informação à disposição. É um fenômeno que acelera a revolução do mercado 

Gustavo Cerbasi: redes sociais deram impulso para o salto da educação financeira | Foto: Divulgação (Divulgação/Divulgação)

Gustavo Cerbasi: redes sociais deram impulso para o salto da educação financeira | Foto: Divulgação (Divulgação/Divulgação)

BA

Bianca Alvarenga

Publicado em 15 de julho de 2021 às 05h03.

Última atualização em 16 de julho de 2021 às 13h43.

Primeiro veio a quantidade. O número de investidores pessoas físicas na bolsa brasileira aumentou sete vezes em cinco anos, para 3,8 milhões, na esteira da queda dos juros básicos para os menores níveis da história e do avanço tecnológico.

Em fundos de investimento, o número de contas subiu quase 150%, para 28,3 milhões. Depois veio a mudança gradual de perfil. Na renda variável, o investidor começa mais cedo e estreia no mercado com valores mais baixos.

Até 2017, a maior parte dos investidores na B3 estava na faixa de 39 a 59 anos. Hoje, está entre 25 e 39 anos. Já o aporte médio de entrada caiu de cerca de 3.000 reais há três anos para menos de 500 reais atualmente.

A transformação do mercado brasileiro passa agora pela disseminação do conhecimento, de estudar como investir e tomar melhores decisões. É o empoderamento do investidor pela informação. 

Não é um fenômeno exatamente novo, mas ele ganha força inédita à medida que se multiplica pelos crescentes canais de distribuição de conteúdo — de redes sociais e sites especializados a instituições de ensino, com milhares de cursos, muitos deles gratuitos.

Um estudo recém-concluído da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (­Anbima) deu a dimensão de uma face desse universo. A entidade identificou 260 “grandes influenciadores” que levam conteúdo de educação financeira e investimentos para mais de 74 milhões de seguidores, sem contar os milhões que trafegam no YouTube, Instagram, Facebook, Twitter, TikTok e outras redes sociais e são igualmente impactados. 

“A indústria evoluiu com as plataformas abertas de investimento e com a quantidade de informações que hoje são acessadas com facilidade muito maior”, afirma Felipe Paiva, diretor de relacionamento e pessoa física da B3. Paiva descreve o movimento como a democratização do mercado financeiro.

Os influenciadores que falam sobre investimentos produziram mais de 160.000 vídeos e postagens entre setembro do ano passado e fevereiro deste ano, com engajamento médio de 937 interações por publicação. No período de análise, as buscas por assuntos de investimentos superaram as relacionadas à saúde, mesmo com a pandemia.

(Arte/Exame)

O escritor e consultor Gustavo Cerbasi foi um dos pioneiros na prática de levar educação financeira para as massas, há quase 20 anos. Eram tempos em que nem existia o termo “influenciador”. Cerbasi aponta o que considera um divisor de águas para a popularização do tema de finanças pessoais no país.

“O ­YouTube teve um papel fundamental nesse processo, dando aos usuá­rios das redes a oportunidade de fazer contato com quem estava disposto a falar sobre investimentos. Foi um grande impulso para o investidor buscar conhecimento no mundo das finanças”, conta o autor de best-sellers como Casais Inteligentes Enriquecem Juntos, de 2004.

André Bona, educador financeiro do BTG Pactual digital (do mesmo grupo que controla a EXAME), aponta outro fator que ajudou não só na explosão do número de investidores como na busca pela informação. “Hoje, investir é quase como pedir comida no iFood”, afirma, referindo-se à facilidade dos apps no celular. É algo que também se aplica ao conteúdo para quem quer aprender a investir. 

Os benefícios do alcance crescente da educação financeira são inequívocos e se refletem no comportamento do investidor. Um dos efeitos é a busca pela diversificação dos ativos, uma recomendação que é dada por dez em cada dez especialistas.

Até 2017, cerca de 70% dos investidores da B3 possuíam apenas ações na carteira. Hoje, esses investidores correspondem à metade da base. “Investidores pessoas físicas passaram a escolher também outros produtos, principalmente fundos imobiliários e fundos que replicam índices de mercado, os ETFs”, conta Paiva.

Atenta à evolução da demanda, a B3 passou a adotar medidas como a redução do tamanho do lote-padrão para a negociação de ETFs, de dez para uma unidade. Ou seja, tornou o ativo mais acessível. O mesmo foi feito com os BDRs, os recibos de ações de empresas listadas no exterior. O empoderamento do investidor se dá também por um fenômeno dos novos tempos, que se tornou possível graças à tecnologia: o cliente no centro das atenções das empresas.

A multiplicação das plataformas abertas de produtos financeiros tornou muito mais fácil a vida do investidor, que pode comparar taxas, preços e ofertas com poucos cliques. “Ficou muito fácil sair de uma plataforma. Bancos e corretoras precisaram correr para baratear o custo e trazer qualidade para não perder o cliente”, diz Bona. 

O caminho do aprendizado financeiro, porém, é longo e cheio de armadilhas. Isso significa que uma das lições básicas e ao mesmo tempo fundamentais é saber evitar o excesso de confiança, que, em tempos em que o mercado só sobe, é alimentado facilmente de forma enganosa. “É preciso que o investidor se conheça, tenha disciplina e saiba lidar com as adversidades sem se impactar”, afirma Bona.

“O iniciante deve desenvolver a parte técnica, mas a parte comportamental tem um papel muito importante. É a combinação das duas habilidades que vai permitir solidez aos investimentos”, acrescenta. Cerbasi, por sua vez, alerta para o “efeito manada” do conteúdo das redes sociais, em posts que eventualmente são campeões de audiência.

“É necessário separar o conteúdo que é mera curiosidade do conteúdo que pode ajudar a tomar decisões consistentes, decisões que levam ao resultado de longo prazo”, pondera o consultor. 

 

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