Ratan Tata: o dono da Land Rover continua à procura de oportunidades no exterior (Miguel Villagran/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 7 de outubro de 2011 às 16h09.
São Paulo - À primeira vista, o que está acontecendo na economia indiana não faz o menor sentido. Há cinco anos, o PIB registra uma expansão anual média de 8,5%, um desempenho, entre os grandes países, só inferior ao da China. Em 2010, o ritmo de crescimento chegou aos 2 dígitos (ficou em 10,3%), e a previsão é fechar este ano com um resultado de cerca de 8%.
Mesmo com a economia aquecida e as perspectivas de retorno mantidas num patamar elevado, os investidores locais e estrangeiros estão reticentes. Nos 12 meses anteriores a abril de 2011, as aplicações feitas por empresas indianas fora da Índia chegaram a 44 bilhões de dólares, um aumento, sem precedentes, de 150% em relação ao período anterior. Dá para entender?
Ratan Tata, dono de um conglomerado com faturamento de 67,5 bilhões de dólares e que já controla a Jaguar e a Land Rover, investiu 4 bilhões de dólares no exterior e apenas 200 milhões na Índia no ano passado.
Nos últimos 12 meses, o bilionário Anil Ambani, o oitavo homem mais rico do país, destinou 3 bilhões de dólares para empreendimentos fora da Índia e, no mercado local, meros 400 milhões de dólares. Ao mesmo tempo em que os indianos dão ênfase às aplicações no exterior, dos Estados Unidos à Austrália, os estrangeiros estão reduzindo o montante enviado para a Índia.
O investimento estrangeiro na construção, compra ou expansão de empresas indianas teve uma queda de 25% e fechou os 12 meses terminados em 31 de março em 27 bilhões de dólares.
Um recente editorial da revista India Today, semanal de maior circulação no país, examinou o aparente contrassenso e chegou a um diagnóstico: a paralisia do governo do primeiro-ministro Manmohan Singh, atolado em acusações de corrupção. Casos de roubalheira não são novidade na Índia nem algo estranho em outros grandes países emergentes (que o digam os brasileiros).
O problema na Índia dos últimos tempos é que o medo de ser acusado de corrupção fez com que o governo entrasse numa espécie de operação tartaruga.
Isso num país no qual o Executivo já era destaque pela lentidão com que promovia reformas e tomava decisões, o que dava origem até a anedotas (The Chinese roll out the red carpet, Indians roll out the red tape, ou “Os chineses estendem o tapete vermelho, e os indianos estendem a burocracia”).
No estudo Doing Business, do Banco Mundial, ranking que mede o grau de facilidade de empreender, a Índia ocupa o 134o lugar, ainda abaixo do Brasil, na posição 127. Para complicar, a inflação acumulada em 12 meses está em 9,4%, e a disposição do governo de adotar uma política fiscal responsável é colocada em xeque.
Êxodo
Diante desse quadro, os empresários parecem ter tomado a decisão de deixar seu país para depois. Até recentemente, eles aplicavam na Europa e nos Estados Unidos em busca de empresas capazes de agregar novas tecnologias. Hoje entraram para valer na briga por fatias de mercado nos países ricos, num claro movimento de diversificação.
“Nos últimos anos, os indianos aprenderam a lidar com a dura competição global. Nesse processo, descobriram que, em muitos casos, as vantagens competitivas estão fora da Índia”, diz Tarun Khanna, professor de desenvolvimento da Universidade Harvard e autor de Bilhões de Empreendedores, sobre os avanços de China e Índia.
Nessa nova fase, não deve faltar capacidade gerencial para as empresas. Os executivos indianos estão em alta. Depois dos americanos, eles são a principal nacionalidade entre os presidentes das 500 maiores companhias abertas dos Estados Unidos.
Mantida a situação atual, de investimentos em queda e imobilismo governamental em alta, o sonho indiano de manter taxas chinesas de crescimento pode virar pó.
Aos poucos, os indianos estão aprendendo que altos índices de crescimento não são uma bênção e que nenhum país está predestinado a desfrutá-los indefinidamente — uma lição que, cá entre nós, também cairia bem no Planalto Central brasileiro.