Thomas Edison, ao criar a lâmpada elétrica, e Alexander Fleming, ao descobrir a penicilina, eram exploradores destemidos de um território desconhecido, moldando o destino da humanidade (Richard Drury/Getty Images)
CEO da Zamp
Publicado em 23 de novembro de 2023 às 06h00.
Última atualização em 16 de fevereiro de 2024 às 18h19.
Saber, deter conhecimento, é essencial para tomarmos decisões e obtermos sucesso nas coisas que fazemos, seja na carreira, seja na vida pessoal. Saber a temperatura e o tempo exatos de fritura permite servir batatas irresistivelmente crocantes, estimulando as vendas. Ter informações sobre produtores e histórico de safras das regiões vinícolas é determinante para fazer a melhor escolha em custo-benefício na hora de comprar um vinho. Falar sobre o conhecimento humano é algo fascinante, e avançaremos nesse tema em outras ocasiões. Neste artigo, o objetivo é compartilhar ideias, algumas geradas numa recente e inspiradora palestra de Olga Loffredi, sobre os três estágios do conhecimento.
O primeiro é o que “sabemos que sabemos”, representado pelas experiências adquiridas ao longo da vida. O segundo estágio é o que “sabemos que não sabemos”, e constitui os gaps de conhecimento dos quais temos consciência e que poderemos adquirir. No entanto, é o terceiro estágio que se destaca como o mais vital e enigmático: o que “não sabemos que não sabemos”. É o vasto e inexplorado território das oportunidades, das revelações extraordinárias, da geração de valor exponencial.
Nesse espaço do desconhecido, onde a mente humana se aventura sem mapas, surgem as maiores revoluções. Lembre-se dos pesquisadores da Pfizer que, ao buscar a solução para hipertensão e angina, tropeçaram — “não sabiam que não sabiam” — no inesperado: o citrato de sildenafila, dando origem ao famoso comprimido azul que redefiniu o cenário da saúde sexual global.
Thomas Edison, ao criar a lâmpada elétrica, e Alexander Fleming, ao descobrir a penicilina, eram exploradores destemidos desse território desconhecido, moldando o destino da humanidade.
Na gestão, esses estágios oferecem lições preciosas. O que “sabemos que sabemos” é a base sólida sobre a qual construímos nosso entendimento de mundo. É um conhecimento valioso que permite a tomada de decisões assertivas que podem resultar na sobrevivência ou no fim de um negócio. O que “sabemos que não sabemos” tem valor porque nos remete ao aprendizado constante. Eu arriscaria dizer que seria como incorporar a humildade e a sabedoria de Sócrates, “só sei que nada sei”, e estar sempre em busca de novos patamares.
Antes de ingressar na Espaçolaser, eu fui CEO da operação do McDonald’s no Brasil por seis anos, até agosto do ano passado. Mas, antes mesmo de liderar o Méqui (uma hora dessas vamos contar a história de como foi mudar o nome do McDonald’s), eu já tinha sido CEO de outra empresa, e o que eu já “sabia que sabia” era fazer gestão de P&L e demonstrativo de resultados e “eficientizar” organizações. Entretanto, para ser CEO do Méqui, uma posição que eu desejava, teria de ir mais além.
Por exemplo, algo que “sabia que não sabia” era que teria de aprender a fazer o Big Mac e a batata frita mais famosa do mundo (190 segundos de fritura a 168 graus Celsius, com validade de 7 minutos). Também “sabia que não sabia” falar com a imprensa com a fluidez e a naturalidade desejadas para o cargo. Consciente desse gap, superei minhas barreiras e medos e me preparei para lidar com jornalistas (e olha que eu sou extremamente tímido). Deu certo! E a nossa área de comunicação se orgulhava dos prêmios que recebíamos e por ter um dos CEOs que mais se comunicavam bem com os jornalistas.
Por outro lado, eu “sabia que sabia” que o delivery era um negócio em que meus antecessores não acreditavam muito (tem baixas margens e uma operação complexa). Também “sabia que não sabia” como rentabilizar o canal e estava buscando alternativas para maximizar a cadeia de valor da operação. Obviamente, não sabia que viria uma pandemia, mas ela veio.
O que não fazia ideia era que, quando focássemos toda a energia nos 3Ds (delivery, drive e digital), sairíamos da pandemia mais fortes ainda. Resumindo, a empresa aumentou sua liderança e melhorou seus resultados de maneira espantosa e que se mantém até hoje.
Antes do Méqui fui CEO da Iron Mountain, e o que eu “sabia que sabia” era que estava indo para uma empresa B2B (business to business), e a minha vida toda tinha trabalhado em B2C (business to consumer), então havia muito a aprender. Sabia que era uma empresa que fazia proteção de informação e que seu principal negócio era a gestão daquelas caixas de arquivo morto (odiava chamar assim... gostava mais de chamar de arquivo inativo, mas é assim que todo mundo chama aquelas caixas grandonas de documentação).
O que eu “não sabia que não sabia” era que, abrindo as caixas, descobriríamos inúmeras oportunidades de gestão documental, que fariam a empresa dobrar o seu faturamento a cada ano. Documentos que passaram a ser digitalizados para facilitar a pesquisa, processos automatizados, com reconhecimento de caracteres, e até mesmo todo o processo de abertura de contas de um grande banco passaram a ser terceirizados para a Iron Mountain. Isso foi tão legal que o famoso slogan think outside the box virou think inside the box.
Na Espaçolaser, depois de um ano de empresa, a gente já pode ter encontrado várias oportunidades que “não sabia que não sabia”, mas isso fica para outra conversa, para não ser considerado insider information.
Aceitar essas vastidões desconhecidas é a chave para desbloquear nosso potencial máximo, um convite para transcender as fronteiras do que sabemos e explorar o vasto e inexplorado universo do que ainda não sabemos. Nessa jornada, encontramos não apenas crescimento profissional mas também uma profunda satisfação pessoal. Portanto, mergulhe de cabeça nesses territórios desconhecidos e experimente a deliciosa sensação de desvendar o que você ainda “não sabe que não sabe”, pois é lá que reside a verdadeira magia da descoberta, da realização e, especialmente, da felicidade.