Revista Exame

O ano do caos ou um pouso suave? O que podemos esperar da economia em 2023

Com guerra e inflação, o próximo ano começa com debate sobre recessão na mira do mundo desenvolvido 

Sem-teto em Nova York: divisão entre economistas sobre a capacidade do Fed de combater a inflação e a recessão (Spencer Platt/Getty Images)

Sem-teto em Nova York: divisão entre economistas sobre a capacidade do Fed de combater a inflação e a recessão (Spencer Platt/Getty Images)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 15 de dezembro de 2022 às 06h00.

Última atualização em 20 de dezembro de 2022 às 14h28.

De guerra na Ucrânia a crises energéticas e inflacionárias, 2023 promete fortes emoções na economia. Em primeiro lugar, com a inflação persistente, bancos centrais pelo mundo seguirão subindo juros que antes estavam zerados: o Fed, banco central dos Estados Unidos, já levou os juros americanos à faixa de 3,75% a 4% (a projeção era de nova alta na semana do fechamento desta edição), e autoridades monetárias em todos os países desenvolvidos seguem essa toada.

As perspectivas para a inflação têm melhorado, com alguma resposta à alta de juros e o próprio risco de recessão derrubando os preços de commodities, como grãos e petróleo (o Brent beirou 130 dólares no início de 2022, mas ficou novamente abaixo dos 100 dólares). Ainda assim, a inflação nos países desenvolvidos termina 2022 acima de 8% ou 9%, a maior em 40 anos desde o período da chamada grande inflação, gerada pelas crises do petróleo nos anos 1970. 

Quer receber os fatos mais relevantes do Brasil e do mundo direto no seu e-mail toda manhã? Clique aqui e cadastre-se na newsletter gratuita EXAME Desperta.

Além disso, exatamente como nos anos 1970, parte da inflação vista hoje vem da oferta, primeiro com gargalos gerados pela ­covid-19 e falta de insumos como semicondutores, e também pela escalada nos preços de insumos, que aumentaram os custos de produção.

Como o Brasil sabe bem, inflação num ano pode gerar, inevitavelmente, inflação no outro com os ajustes retroativos de preço. E esse é o grande desafio para 2023. “O problema é que a inflação está crescentemente embutida nas expectativas, nos salários e na definição de preços. Então, mesmo uma recessão leve não seria necessariamente suficiente para trazê-la de volta aos 2% nos Estados Unidos, por exemplo”, diz o professor Jason Furman, da Universidade Harvard.

A OCDE, organização de paí­ses desenvolvidos, revisou a última projeção de crescimento na economia global em 2023 para 2,2%, e há casas com apostas pouco acima de 1%. A leitura é que o mundo vai evitar uma recessão generalizada “por pouco”, mas a projeção é diferente dependendo de para onde se olha.

Se a alta de juros fará de fato os Estados Unidos terem recessão em 2023 é a pergunta de mais de 1 trilhão de dólares. Parte dos economistas aposta em uma possível recessão moderada, enquanto outros acreditam que o Fed conseguirá o chamado pouso suave, evitando uma recessão de fato.

Para a União Europeia, porém, o cenário pode ser mais complicado, em meio à crise energética e à guerra na Ucrânia em seu quintal. O Reino Unido tem situação especialmente difícil, aponta Elias Papaioannou, professor na London Business School (LBS), com a guerra se somando aos impactos do Brexit, a saída da UE, e ao vaivém de primeiros-ministros nos últimos meses. 

Por fim, com uma inflação de oferta, as próprias limitações da política monetária também farão parte do debate. “Parte dessa inflação vem de custos, e a efetividade para combater a alta de custos com taxa de juro é muito baixa. O que faz com que as taxas talvez tenham de permanecer altas por um pe­ríodo maior para ter alguma efetividade”, afirma Juliana Inhasz, professora no Insper.

No caso dos emergentes, como o Brasil, o ciclo de aperto monetário começou mais cedo, com elevação da Selic acima dos 13% desde junho. Mas a incerteza global também é ruim por dois aspectos: os entraves ao fluxo de dólares e investimentos diante dos riscos internos e externos, e os desafios de exportação com a desaceleração global.

Além dos países desenvolvidos, olhares especiais estão voltados para a China, que relaxou as restrições em meio à insatisfação com as políticas de covid zero. Algum incentivo governamental para turbinar a economia por lá é aguardado — e ajudaria o mundo inteiro. “No fim, a resposta mais significativa contra uma recessão global pode vir da China”, diz Papaioannou, da LBS.

Tudo somado, o mundo será capaz de evitar o pior na economia? Seja como for, 2023 será lembrado nos livros de história econômica como uma mostra de quão efetivas foram as medidas para a crise desta década. Apertemos os cintos.

Acompanhe tudo sobre:BrasilChinaEstados Unidos (EUA)InflaçãoSelic

Mais de Revista Exame

Linho, leve e solto: confira itens essenciais para preparar a mala para o verão

Trump de volta: o que o mundo e o Brasil podem esperar do 2º mandato dele?

Ano novo, ciclo novo. Mesmo

Uma meta para 2025