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Líderes mulheres são a chave para enfrentarmos a crise climática

Os grupos minorizados serão os mais afetados pelas crises ambientais no planeta. Como dar voz para os que não desfrutarão das novas políticas ambientais? 

Txai Suruí, indígena brasileira: aos 24 anos de idade, ela foi encarregada de abrir a Conferência Climática da ONU em 2021 (Karwai Tang/Divulgação)

Txai Suruí, indígena brasileira: aos 24 anos de idade, ela foi encarregada de abrir a Conferência Climática da ONU em 2021 (Karwai Tang/Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 30 de junho de 2022 às 06h00.

Última atualização em 30 de junho de 2022 às 15h09.

“Quanto mais alto você vai, menos mulheres há.” Essa observação da Prêmio Nobel da Paz e pioneira ambiental Wangari Maathai reflete uma realidade familiar a todas as mulheres que aspiram a posições de liderança, e vem ganhando novo significado para mim à medida que a crise climática se intensifica.

Embora já esteja claro que mulheres e meninas enfrentarão mais riscos e encargos por causa das mudanças climáticas, elas permanecem significativamente sub-representadas nas negociações climáticas e ambientais.

Em 2019, o Relatório de Composição de Gênero das Nações Unidas observou que o número de mulheres representadas na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla original em inglês) não estava de acordo com os esforços para criar equilíbrio de gênero.

Em resposta, os Estados-membros adotaram um plano de ação de gênero na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP25) em 2019. O plano reconhecia que “a participação plena, significativa e igualitária e a liderança das mulheres em todos os aspectos do processo da UNFCCC e nas políticas e ações climáticas em níveis locais e nacionais são vitais para atingir metas climáticas de longo prazo”.

No entanto, quando chegou a época da COP26, dois anos depois, pouca coisa tinha mudado na prática. A presidência da COP26 do Reino Unido era predominantemente composta de lideranças masculinas, e apenas 11 dos 74 representantes nacionais africanos eram mulheres. O problema não ficou restrito à conferência.

A Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica parece estar exibindo tendência semelhante, com negociadores do sexo masculino superando em torno de 60 o número de mulheres negociadoras.

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O fracasso em assegurar representação justa e participação das mulheres em esforços para abordar as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade é míope, no melhor dos casos, além de potencialmente irresponsável. O problema também é cada vez mais urgente.

No mês passado, delegados de todo o mundo se reuniram em Genebra para uma das últimas rodadas de negociações para concluir o novo quadro global de biodiversidade da ONU. Com o objetivo de acelerar as ações para impedir mais perdas de espécies e enfrentar as mudanças climáticas, esses encontros darão forma à resposta global a ambas as crises pelos próximos anos.

Os últimos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla original em inglês) vêm demonstrando a escala dessas crises. O IPCC tem documentado de modo inequívoco que as atividades humanas estão aquecendo a superfície do nosso planeta, levando a mudanças rápidas nos sistemas climáticos, à perda de biodiversidade e ao aumento da insegurança de recursos.

Até 2100, 50% das espécies de aves e mamíferos da África podem desaparecer. Estamos potencialmente entrando em uma sexta extinção em massa, e, se o problema for deixado sem controle, nossas fontes de alimentos, água e remédios estarão cada vez mais em risco.

As mulheres constituem a maioria das populações pobres do mundo, e são desproporcionalmente afetadas por essas crises. No mundo desenvolvido, elas são esmagadoramente responsáveis por fornecer alimentos e água para a família, e muitas vezes assumem a liderança na coleta de combustível e na gestão do lar. As mulheres também representam quase metade dos pequenos agricultores do mundo, produzindo 70% de todo o alimento do continente africano.

Por isso, mulheres e meninas são em geral as primeiras a experimentar as realidades agressivas das mudanças climáticas. Mas, devido a desigualdades generalizadas que limitaram o acesso delas à educação e aos cuidados de saúde, a taxas desiguais de emprego e a baixas taxas de representação em cargos públicos, elas são menos propensas que os homens a participar dos processos de tomada de decisão.

A jovem ativista Greta Thunberg: novas gerações são as maiores interessadas nas mudanças climáticas (Matteo Rossetti/Mondadori Portfolio/Getty Images)

Se os últimos dois anos nos mostraram alguma coisa, foi que a liderança feminina é crucial em tempos tumultuados. Segundo estudo recente em 194 países, as respostas imediatas à pandemia de covid-19 foram sistematicamente melhores em países com mulheres líderes.

De modo semelhante, pesquisas têm concluído que “a representação feminina leva os países a adotar políticas mais rigorosas de mudança climática”, e que um alto grau de representação feminina no Parlamento torna mais provável que um país ratifique tratados ambientais internacionais.

Mulheres trazem não só ambição mas também perspectivas e experiências diferentes ao debate. Como resultado, suas contribuições acabam levando a políticas ambientais mais variadas e inclusivas.

Na África, a importância da liderança feminina diante das mudanças climáticas e da perda de biodiversidade é evidente para quem quiser ver. Na Nigéria, a ministra de Estado do Meio Ambiente, Sharon Ikeazor, tem defendido a Coalizão de Alta Ambição para a Natureza e os Povos, e pressionado para que os subsídios aos combustíveis fósseis sejam substituídos por investimentos em desenvolvimento sustentável e de baixo carbono.

Em Ruanda, a ministra do Meio Ambiente, Jeanne d’Arc Mujawamariya, ganhou elogios por seus esforços inclusivos de conservação da floresta tropical. No Chade, a ativista ambiental Hindou Oumarou Ibrahim continua a representar as comunidades locais e os povos indígenas da África nos mais altos escalões da ONU. E, aqui em Freetown, estamos plantando 1 milhão de árvores ao longo de três estações chuvosas para promover a resiliência climática e a criação de empregos verdes.

Todas essas mulheres, incluindo eu, defenderam o “30x30”, campanha global para proteger 30% da superfície do mundo até 2030. Atingir esse objetivo impediria mais destruição do ecossistema, e o esforço poderia levar ao primeiro acordo mundial para brecar a destruição da natureza.

Muitas outras mulheres estão enfrentando a perda da bio­diversidade e as mudanças ambientais, inclusive mulheres indígenas que vêm usando seu conhecimento único da terra para praticar um cultivo de modo mais sustentável e proteger ecossistemas frágeis. Aqueles que já ocupam posições de liderança devem garantir que essas mulheres tenham uma chance de contribuir.

Muito mudou desde 2004, quando Wangari Maathai ganhou o Prêmio Nobel da Paz por sua contribuição ao desenvolvimento sustentável, à democracia e à paz. As emissões cresceram, e os eventos meteorológicos extremos vêm aumentando em fre­quên­cia e intensidade. Mas muito também continuou igual: mulheres continuam a ser excluídas de posições de liderança, e o mundo continua a pagar o preço disso.

À medida que as negociações finais para o novo Quadro Global da Biodiversidade continuam, e à medida que nos aproximamos da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB COP15) deste ano em Kunming, na China, temos o dever de lidar com essas falhas. Se não trouxermos mais mulheres para essa discussão, um desastre climático está quase garantido.

(Arte/Exame)


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