ESG: os melhores do setor farmacêutico e de beleza do prêmio da EXAME (Exame/Catarina Bessell) (Catarina Bessell/Exame)
Rodrigo Caetano
Publicado em 24 de junho de 2022 às 06h00.
O grupo fabricante de cosméticos Natura &Co tem apostado em inovação e engajamento do consumidor para garantir a sustentabilidade. Exemplos disso são os lançamentos de produtos como o perfume Kaiak Oceano, cujas tampas são produzidas à base de mais de 10 toneladas de plástico retiradas dos oceanos, e da Natura Biōme, uma marca de produtos em barra e zero plástico.
A companhia investirá 4,87 milhões de dólares em soluções regenerativas, como a repartição de benefícios para garantir a valoração da biodiversidade com a formação de renda e o desenvolvimento das cadeias. “Esse pagamento pelo uso do conhecimento foi de 8,7 milhões de reais em 2021, gerando melhorias nas comunidades”, diz Denise Hills, diretora global de sustentabilidade do grupo.
Entre os compromissos para 2030 estão ações como emissões líquidas zero e expansão da influência na conservação da Amazônia de 1,8 milhão para 3 milhões de hectares. “Estamos atuando na produção e nas cadeias com metas, mas também entendemos a importância de envolver o consumidor e as consultoras nesses processos”, diz Hills. Em 2021, a marca Natura chegou a 90% de produtos veganos em todo o portfólio e a 93% de fórmulas de origem natural.
Em relação ao trabalho com os funcionários, há o incentivo à inclusão, com objetivos como ter 30% de pessoas negras em cargos de liderança até 2030 e eliminar lacunas salariais entre homens e mulheres. “A lacuna no setor chega a 13%, enquanto a nossa foi constatada em cerca de 0,9%. A partir disso estamos eliminando, até 2030, as diferenças injustificadas”, afirma Hills.
O Grupo Boticário, de cosméticos, reforçou em 2021 as práticas ESG ao anunciar 16 compromissos socioambientais para serem cumpridos até 2030. Entre eles está mapear e solucionar 150% de todo o resíduo sólido gerado pela cadeia e neutralizar o impacto ambiental focando temas como água, gases de efeito estufa e energia (para isso, irá além dos resíduos de sua própria cadeia). Para atingir o objetivo, são realizadas ações como o uso de energia 100% proveniente de fontes renováveis nas fábricas e nos centros de distribuição, além de programas como o Boti Recicla, com 4.000 pontos de coleta de embalagens pós-consumo de cosméticos e de higiene pessoal de todas as marcas do mercado entregues pelos consumidores.
“ESG não é uma agenda nova na companhia, e sim um trabalho contínuo para sermos cada vez mais sustentáveis por meio de um plano estratégico”, diz Fabiana de Freitas, vice-presidente jurídico, compliance e assuntos institucionais. Em 2022, somente no Paraná, serão destinados cerca de 14 milhões de reais para a gestão sustentável dos recursos hídricos da fábrica. Atualmente, 22% dos recursos hídricos utilizados são de água de reúso, e a meta é chegar a 50% até 2023, zerando assim o balanço hídrico industrial.
De acordo com Freitas, as metas são relacionadas à remuneração variável dos executivos. Outro ponto importante nos compromissos do Grupo Boticário é a gestão de pessoas e ação social. Há cinco grupos de trabalho de diversidade e inclusão com cerca de 300 funcionários participantes em cada um. Em busca da equidade de gênero, por exemplo, são 180 dias para as mães e 120 dias obrigatórios de licença para os pais. No segundo semestre do ano passado, 519 pessoas usaram a licença. “Essa é uma medida obrigatória para os pais e necessária para que todos entendam a importância desse período em família, e com um reflexo seguro no ambiente de trabalho”, diz Freitas. Para fora de casa, na frente social, há a meta de reduzir a desigualdade, transformando a vida de 1 milhão de pessoas. Para tanto, há ações como o programa Empreendedoras da Beleza, que já profissionalizou 5.000 mulheres; o projeto Bazar Gerando Falcões, com lojas sustentáveis de plástico reciclado; e o Polo do Vidro, com projeto piloto em Carapicuíba, São Paulo, que busca ressignificar a importância do vidro no processo de reciclagem, remunerando de forma justa os trabalhadores dessa cadeia.
A estratégia ESG entrou na Eurofarma, fabricante de medicamentos, em 2008. Na época, é bem verdade, a companhia não usava a sigla, que ganhou notoriedade apenas a partir de 2020. A maneira como a fabricante estruturou seus planos de sustentabilidade, no entanto, era avançada para o momento. O primeiro passo foi criar uma diretoria de sustentabilidade e, para isso, a Eurofarma buscou inspiração em empresas estrangeiras.
A estratégia foi construída a partir de um tripé social, ambiental e econômico. No primeiro, ficaram o instituto, os patrocínios e a comunicação institucional. A área ambiental concentrou o dia a dia das fábricas, com foco na antecipação de regulamentações que pudessem afetar o negócio. Mas foi no aspecto econômico que a Eurofarma inovou. A diretoria de sustentabilidade assumiu as áreas de planejamento e fusões e aquisições. “Foi inédito para a época”, afirma Maria del Pilar Muñoz, vice-presidente da companhia. “O objetivo era inserir fortemente a sustentabilidade na organização.”
A Eurofarma foi a primeira farmacêutica brasileira a instituir um programa de logística reversa para medicamentos e embalagens primárias. Mais recentemente, teve início um projeto para ensinar os consumidores a descontaminar as embalagens usando itens domésticos, como removedor de esmalte. A empresa até lançou um título verde atrelado a esse programa. Com a inclusão das fusões e aquisições na estratégia ESG, a empresa reduziu os riscos. Muñoz explica que o objetivo era estabelecer limites. “Nosso modelo é sustentável e precisamos ter certeza de que, ao replicá-lo na empresa adquirida, não vai inviabilizar o negócio”, diz ela.