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Hackers exigem cuidado redobrado das empresas em tempos de home office

A tendência de manutenção do trabalho remoto após a pandemia vai exigir investimentos em segurança de dados e em treinamento dos funcionários

Funcionários da Microsoft analisam dados de um ataque digital: grandes empresas também são vulneráveis | Fotoarena (Kyle Johnson/The New York Times/Fotoarena)

Funcionários da Microsoft analisam dados de um ataque digital: grandes empresas também são vulneráveis | Fotoarena (Kyle Johnson/The New York Times/Fotoarena)

A pandemia da covid-19 continua avançando em vários países, mas pelo menos em um lugar ela começou a perder força: no mundo­ do crime cibernético. Dados da Check Point, empresa israe­lense especializada em segurança digital, mostram que as tentativas de crimes eletrônicos relacionados à covid-19 começaram a disparar em março, após a Organização Mundial da Saúde reconhecer a pandemia, e atingiram o pico no fim de abril. Depois, à medida que a pandemia se estabilizou em alguns países, sobretudo na Europa, os ataques cibernéticos ligados ao coronavírus diminuíram (veja quadro abaixo).

Não se pode, porém, baixar a guarda. Uma das características dos cibercriminosos é que eles estão sempre antenados em relação aos acontecimentos que podem gerar ansiedade nas pessoas — e às oportunidades de novos golpes. Nas últimas semanas, por exemplo, surgiram notícias de ­malwares (softwares mal-intencionados) distribuídos em anexos de e-mails que pediam apoio ao movimento antirracista Black Lives Matter. Também cresceu o número de tentativas de golpes digitais visando às pessoas em busca de emprego ou de auxílio financeiro do governo devido às dificuldades causadas pela pandemia.

Os golpes ligados à covid-19 são apenas parte ínfima do cibercrime, um negócio lucrativo que movimenta em torno de 1,5 trilhão de dólares por ano. Esse valor é superior ao PIB da Espanha e corresponde a três vezes a receita anual da rede varejista Walmart, empresa com o maior faturamento do mundo. Os criminosos digitais ganharam ainda mais terreno com a adoção em larga escala do trabalho remoto durante a pandemia. “Muitas empresas tiveram de implantar o home office às pressas, sem a estrutura tecnológica necessária para garantir a segurança dos dados”, diz Wanderson Castilho, presidente da Enetsec, empresa de segurança digital com base na Flórida. “Com mais gente acessando as redes de casa, os bandidos digitais podem agir à vontade num ambiente que já conhecem bem.”

Especialista em crimes virtuais, Castilho diz que, com a tendência de manutenção do trabalho à distância depois da pandemia, as empresas precisarão investir em ferramentas para proteger os dados e monitorar seus funcionários remotamente sem violar a privacidade, assim como promover treinamentos — os empregados podem abrir a porta para um ataque digital ao inadvertidamente baixar um programa ou abrir um arquivo que não deveriam.

Não faltam exemplos de que até mesmo grandes empresas são vulneráveis aos criminosos digitais. No início de junho, a montadora japonesa Honda teve de suspender temporariamente suas operações globais depois de sofrer um ataque de hackers. Acredita-se que a Honda tenha sido alvo de um ­ransomware — criminosos exigem o pagamento de um “resgate” para restaurar um sistema que bloquea­ram com um software malicioso. Por aqui, o Hospital Sírio-Libanês, um dos principais centros médicos do país, sofreu um ciberataque no início de julho. Segundo a instituição, seus sistemas de segurança identificaram a tentativa de ataque e desconectaram o servidor da internet antes que a invasão se concretizasse. “Os criminosos agem em quadrilhas e estão cada vez mais sofisticados”, diz Castilho. “A pandemia vai obrigar as empresas a pôr uma pá de cal no amadorismo. Não há mais lugar para improvisação no espaço digital.”

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