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A lição do fim da Ford no Brasil: as montadoras precisam valorizar os carros elétricos

O fim das operações da Ford no Brasil reafirma o que já era sabido: as montadoras precisam mudar e abraçar a demanda global por carros elétricos

 (AFP/AFP)

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Juliana Estigarribia

Publicado em 11 de fevereiro de 2021 às 05h14.

Mais de 2.000 componentes harmoniosamente orquestrados compõem um automóvel, que além de permitir mobilidade também é, para muitos, símbolo de independência e até de status. Produzidos há mais de 100 anos no mundo todo, os veículos estão cada vez mais modernos, mas com os dias contados da forma como são vendidos atualmente: no lugar do motor a combustão, entra o elétrico. O número de peças cai drasticamente, para algo em torno de 200. O veículo do futuro trará ganhos significativos para o meio ambiente e para seus proprietários, que terão menos custos com manutenção. Do lado da indústria, porém, os desafios são enormes.

As montadoras estão revisando suas estratégias para conseguir viabilizar o carro elétrico com escala e custo acessível e, nessa dinâmica, as mudanças já começam a afetar as operações das empresas ao redor do mundo. 

O caso mais recente no Brasil aconteceu com a Ford, que decidiu fechar todas as suas fábricas no país — quatro no total. A companhia americana informou que a medida visa “a criação de um negócio saudável e sustentável”. Com a decisão, crescem as incertezas acerca do futuro da indústria automobilística no país, que hoje amarga quase 50% de ociosidade. “Toda a cadeia automotiva vai se transformar e teremos de retreinar todos os funcionários. Temos 20 anos para promover essas mudanças, mas precisamos começar já”, afirma Pablo Di Si,­ presidente da Volkswagen Brasil e América Latina. 

Enquanto as montadoras passam por uma profunda reestruturação, por aqui a indústria automotiva tenta achar seu caminho. O Brasil já ostentou por muitos anos o título de quarto maior mercado automotivo do mundo, com recorde, em 2012, de 3,8 milhões de unidades vendidas. A produção, naquele ano, alcançou 3,4 milhões de unidades. Todas as empresas do setor queriam estar aqui. No entanto, diante de sucessivas crises econômicas, o país foi perdendo destaque até cair para a nona posição do ranking global em 2020, ano em que foram produzidos pouco mais de 2 milhões de unidades.

Além dos desafios para recuperar os volumes perdidos na pandemia, a indústria nacional terá de garantir investimentos em um mercado global cada vez mais voltado para modelos “verdes”. Segundo levantamento da Euromonitor nos 45 mercados automotivos mais relevantes do mundo, em 2020 as vendas de elétricos e híbridos somaram 6,4 milhões de unidades. Cerca de 2 milhões foram vendidos somente na China e 770.000 nos Estados Unidos. No Brasil, o varejo comercializou apenas 11.000 veículos eletrificados no período.

Hoje, apenas a fábrica da Volkswagen Caminhões em Resende, no Rio, está apta a produzir veículos elétricos no país. Lá, há um polo de fornecedores dedicados ao desenvolvimento de peças e do coração do veículo elétrico: a bateria. Justinas Liuima, consultor sênior de pesquisa da Euromonitor, alerta para a capacidade de produção limitada de baterias no Brasil e na América Latina, o que deve prejudicar os investimentos futuros em eletrificação na região. “Sem isso, a competitividade da indústria automotiva no Brasil ficará prejudicada e mais empresas podem optar por fechar as operações brasileiras.”  

(Arte/Exame)

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