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Carta de EXAME | Estado de alerta

Apesar de estarmos muito mais aptos a lidar com surtos virais do que no passado, uma pandemia severa pode resultar em milhões de mortes

Desabamento devido à chuva em Ibirité, Minas Gerais: há 8,3 milhões de brasileiros em situação de risco de inundações e enxurradas (Alexandre Mota/O Tempo/FuturaPress)

Desabamento devido à chuva em Ibirité, Minas Gerais: há 8,3 milhões de brasileiros em situação de risco de inundações e enxurradas (Alexandre Mota/O Tempo/FuturaPress)

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Da Redação

Publicado em 30 de janeiro de 2020 às 05h18.

Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 15h45.

Minas Gerais, neste início de ano, representa o encontro de múltiplas preocupações. Um ano depois do pior desastre ambiental da história do país, a queda da barragem de Brumadinho, que deixou 270 mortos e prejuízos de vários bilhões de reais, o estado sofreu com chuvas recorde que mataram mais de 50 pessoas e obrigaram a decretação de estado de emergência em 101 cidades. Além disso, o primeiro caso de coronavírus no Brasil surgiu lá.

Os três episódios têm em comum o signo da fatalidade — um acontecimento imprevisto, não intencional, que acarreta perdas de dimensão trágica. Mas a fatalidade não pode mais ser encarada como um sinal divino ou como um lance do destino que atinge uma parcela da humanidade. Hoje sabemos que ela é a consequência dos riscos que assumimos por nossas escolhas; que é impossível eliminar os riscos, mas é factível controlá-los.

No caso das chuvas, não há como impedi-las. Mas há como investir em instrumentos de alerta, e há como realocar ou ajudar na precaução de desastres os estimados 8,3 milhões de brasileiros em situação de risco de inundações e enxurradas. No caso de barragens, há como investir em tecnologias mais modernas de acúmulo de detritos, há como investir em fiscalização, há como melhorar o monitoramento de estruturas com alto dano potencial.

E no caso de doenças? Hoje estamos muito mais aptos a lidar com surtos virais do que no passado. Cerca de 60% de todos os patógenos nocivos à humanidade têm origem animal. As condições de higiene melhoraram, mas é preciso fiscalizar as áreas onde há contato humano com corpos de animais.

Há um século, antes da invenção dos antibióticos, calcula-se que a gripe espanhola tenha matado 50 milhões de pessoas, 3% da população mundial na época. Hoje, além de remédios melhores, há um grande avanço na capacidade de diagnosticar os problemas, com testes moleculares capazes de detectar com mais rapidez e acurácia a difusão de novas cepas de vírus. Isso permite realizar ações rápidas, como a quarentena, para impedir que as novas doenças se alastrem. Essa rapidez é imperiosa num mundo muito mais populoso e muito mais conectado. Claro, isso é mais fácil quando as autoridades se preocupam mais em conter a epidemia do que em salvar a própria reputação. Não foi o que ocorreu em Wuhan, na China. Nas duas semanas entre a confirmação do primeiro caso de coronavírus e a decretação da quarentena, 5 milhões de pessoas deixaram a cidade.

Uma pandemia severa pode resultar em milhões de mortes e destruir até 1% do PIB global, algo comparável a outras ameaças de primeira linha, como o aquecimento global. Não quer dizer que isso vá acontecer agora. Mas os vírus são altamente mutáveis e os surtos recentes de ebola, HIV, sars e mers demonstram que eles estão sempre a postos para aproveitar qualquer brecha. Devemos estar preparados.

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