Revista Exame

Engenharia demais no Google?

Um ex-funcionário do Google expõe detalhes sobre os anos que forjaram a cultura da companhia — e que influenciam seus rumos até hoje

Sergey Brin e Larry Page, do Google:  novas histórias sobre os primeiros anos da companhia reveladas (Michael Grecco/Getty Images)

Sergey Brin e Larry Page, do Google: novas histórias sobre os primeiros anos da companhia reveladas (Michael Grecco/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 3 de setembro de 2011 às 08h00.

São Paulo - Para promover o lançamento de um novo soft­ware de e-mails, a Microsoft colocou no ar em agosto um vídeo que fez fama rápida na rede.

No filme, um carteiro vestindo as cores e o símbolo do Gmail, serviço de e-mails do Google, é visto lendo correspondências enquanto caminha pela rua. A certa altura, ele é interpelado por uma garotinha: “Você está lendo nossas cartas? Você não pode fazer isso!” “É claro que posso”, diz ele. “Eu sou o carteiro do Gmail!”

O vídeo é uma crítica ao sistema de publicidade do e-mail do Google, conhecido, entre outras coisas, por mostrar anúncios com base no conteúdo das mensagens dos usuários. A prática vem sendo questionada desde o lançamento do serviço, em 2004. Nem por isso o sistema sofreu alguma modificação até hoje. 

Capítulos controversos da história do Google já foram abordados por diversos autores. Poucas companhias, afinal, foram tema de tantos livros.

Mas uma publicação recente sugere um novo ângulo para a apreciação dos primeiros anos do Google, aqueles que foram os mais importantes para forjar a celebrada — e por vezes polêmica — cultura da companhia. I’m Feeling Lucky (“Estou com sorte”, numa tradução livre), de Douglas Edwards, é o primeiro livro lançado por um ex-funcionário.

Aos 40 anos, o autor se tornou o primeiro diretor de marketing do Google. O ano era 1999, e Edwards havia acabado de largar um emprego em um jornal para estrear no Vale do Silício. Escritos e vividos em primeira pessoa, episódios como o lançamento do Gmail ganham novas versões.

Edwards esteve lá, por exemplo, para ouvir Sergey Brin, um dos fundadores, bater o pé e ordenar aos funcionários que simplesmente repetissem a todos que não havia nenhum problema de privacidade com o serviço. Traços dessa postura arrogante em relação a questões que atingem em cheio os usuários podem ser reconhecidos até hoje.

Mais do que simples revelações sobre os primeiros dias do Google, o conjunto de experiên­cias de Edwards nos seis anos em que esteve na companhia serve como uma espécie de mapa astral para tentar prever rumos futuros.


O Google foi fundado por dois engenheiros. Relatos sobre a obsessão dos fundadores com dados, informações e estatísticas pintam a imagem de uma companhia pouco disposta a entender as operações que não envolvam algoritmos em alguma medida.

Números e cálculos devem ser a base de todas as decisões. Mas, como defende Edwards, nem sempre os algoritmos são capazes de dar respostas completas aos problemas existentes. 

Para o bem e para o mal, efeitos desses primeiros contornos de personalidade corporativa permanecem vivos. Em 2004, o Google lançou o Orkut, sua primeira rede social. Com a exceção do sucesso no Brasil, a empreitada se revelou um fracasso. No mesmo intervalo, o Facebook cresceu para se tornar a maior rede social da história, com mais de 750 milhões de usuários.

Edwards atribui o fracasso do Orkut em parte à confiança cega do Google em seus cálculos. Como se algoritmos, sozinhos, fossem capazes de criar um serviço de adoção global baseado na relação entre humanos, o Orkut foi durante um bom tempo um projeto de uma pessoa só, o engenheiro Orkut Büyükkökten.

Enquanto isso, o Facebook cresceu muito com base em estudos sobre o comportamento de usuá­rios e suas interações em grupo. Em junho, a empresa trouxe a público o Google+, serviço bastante parecido com o Facebook.

Apesar de trazer evoluções em relação ao Orkut, os deslizes do passado ainda mantêm de pé a dúvida sobre se a companhia é capaz, finalmente, de fazer web social. O Google+ foi vendido como um contraponto ao excesso de exposição a que os usuários do Facebook se submetem.

Mas logo surgiram os críticos afirmando que o Google não oferecia tanto controle assim à freguesia; quem entrava no Google+ arriscava, sim, ver seus dados expostos de maneira inesperada. Larry Page, que assumiu a presidência em abril, colocou seus melhores engenheiros para tentar resolver o problema.

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