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Com a internet das coisas, as máquinas vão aprender a reclamar

Para Hubert Lienhard, presidente mundial do conglomerado industrial alemão Voith, a digitalização da indústria é irreversível

Lienhard, da Voith: mudança do modelo 
de negócios centenário não é uma opção (André Lessa/Exame)

Lienhard, da Voith: mudança do modelo de negócios centenário não é uma opção (André Lessa/Exame)

CM

Cristiane Mano

Publicado em 28 de junho de 2017 às 18h49.

Última atualização em 27 de setembro de 2017 às 18h58.

São Paulo – Dados da consultoria Boston Consulting Group mostram que o mercado de internet das coisas para máquinas industriais vai movimentar 40 bilhões de dólares em 2020, quatro vezes mais do que o montante atual. Empresas que só forneciam equipamentos agora se preparam para produzir softwares e aplicativos. Assim como GE e Siemens, o centenário conglomerado industrial alemão Voith está às voltas com a criação desse novo modelo de negócios. O grupo fatura 4,3 bilhões de euros no mundo, 15% dos quais no Brasil. Em visita ao país, Hubert Lienhard, presidente mundial da Voith, falou a EXAME.

EXAME – Qual será a relevância da digitalização das máquinas na indústria?

Hubert Lienhard – Para sobreviver, temos de ir nessa direção. Na prática, as máquinas vão ganhar a habilidade de “falar” coisas como “estou cansada” ou “tal peça está com defeito”. Com o uso do big data para processar informações, será possível antecipar a manutenção ou fazer ajustes. É uma mudança que vai permitir um salto de produtividade.

EXAME – E qual tem sido a rapidez com que os clientes abraçam as mudanças?

Hubert Lienhard – Temos alguns clientes iniciais com os quais desenvolvemos novas tecnologias. Mas a transformação apenas começou.

EXAME – Como mudar um modelo de negócios centenário?

Hubert Lienhard – Primeiro mudamos nosso comportamento. Não usamos mais gravata [risos]. Paramos de usar há um ano e meio. Temos também mais espaços abertos no escritório. E adotamos novas metodologias de trabalho, com mais colaboração entre as áreas e participação do cliente. Antes desenvolvíamos um produto e depois batíamos na porta do cliente para saber se ele tinha interesse. Gastávamos tempo e dinheiro para ouvir um “não, obrigado”. Hoje conseguimos lançar um produto bem-sucedido em um ano. Antes levávamos até o triplo desse tempo.

EXAME – Empresas como a alemã Siemens e a americana GE estão criando o próprio sistema operacional, à semelhança do iOS, da Apple, para os celulares. Vai ter espaço para mais de uma plataforma no futuro?

Hubert Lienhard – Sim. Além disso, acho que vai ter espaço para que outras companhias vendam aplicativos para as plataformas de outros fabricantes, assim como acontece com os celulares.

EXAME – Para desenvolver essas tecnologias, a empresa mudou o perfil dos profissionais contratados?

Hubert Lienhard – Sim. Há mais especialistas em análise de dados e engenheiros de software. Atualmente, temos 1.500 profissionais com esse perfil em todo o mundo, numa nova divisão de negócios criada no ano passado.

EXAME – Como ganhar velocidade nessa direção?

Hubert Lienhard – Pretendemos adquirir empresas na área de automação e software. Para isso, em 2016 vendemos a unidade de negócios que prestava serviços, como limpeza e segurança de áreas industriais, para investir mais em tecnologia.

EXAME – Como a crise afetou os negócios da Voith no Brasil?

Hubert Lienhard – Muito. Não temos um contrato local grande ou mesmo de médio porte há muito tempo — e não há nenhum em vista. Grandes projetos de infraestrutura exigem uma preparação de dois ou três anos. Até a economia engrenar, vamos ter de esperar alguns anos. A avaliação para 2018 é mais positiva. Rezo toda noite para que se concretize.

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