Revista Exame

A Honda é boa de carro, ruim de moto

Com o sucesso do Civic e do Fit, a participação da Honda no mercado de automóveis triplicou -- já no setor de motocicletas...

Honda Civic, sucesso de vendas (Divulgação)

Honda Civic, sucesso de vendas (Divulgação)

DR

Da Redação

Publicado em 15 de junho de 2012 às 11h17.

São Paulo - Nenhuma montadora simboliza tão bem o excelente momento do mercado brasileiro de carros quanto a japonesa Honda. Seus modelos estão entre os mais desejados do país em suas categorias: é preciso esperar até dois meses na fila para comprar o sedã Civic ou o compacto médio Fit.

Em cinco anos, a participação de mercado da Honda quase triplicou, e a montadora anunciou planos de expansão de sua fábrica, no interior de São Paulo. Tem-se assim um cenário que beira o idílico para uma montadora, justificativa para estourar garrafas de champanhe e fazer troça da concorrência. Não na Honda.

A subsidiária brasileira da montadora tem sido motivo de insatisfação para a matriz, em Tóquio. O problema está no mercado de motocicletas, disparado o mais importante para os japoneses, responsável por cerca de 65% de seu faturamento de 4,6 bilhões de dólares.

Aqui, o cenário é de preocupação. Do fim da década de 90 para cá, a montadora japonesa perdeu 18 pontos percentuais de participação no mercado brasileiro de motos -- e nada indica que a sangria esteja no final.

Por quase 40 anos, a Honda teve uma espécie de monopólio desse mercado. Nos anos 90, sua participação beirava incríveis 95%. Para aumentar a concorrência, o governo autorizou a instalação de outras montadoras na Zona Franca de Manaus.

A Honda, que antes disputava apenas com a também japonesa Yamaha, viu surgirem rivais como Sundown, Suzuki e Kasinski. "Com a chegada de outros fabricantes, o jogo começou a mudar", diz Rogério Scialo, diretor comercial da Sundown, que conquistou em quatro anos uma participação de mercado de quase 5%.


A Yamaha saiu de 12,6% para 13,2%. A Suzuki, de 0,72% para 6,5%. Numa conta matemática simples, pode-se constatar que todo esse crescimento dos concorrentes se deu à custa da perda de espaço da Honda.

Seria como se a Volkswagen desistisse de produzir o Gol 1.0 e apostasse tudo na versão 1.6. A moto de 150 cilindradas, 4,5% mais cara que a versão menos potente, não conquistou o consumidor de baixa renda. Um ano depois, a Honda lançou outra moto de 125 cilindradas.

Segundo os especialistas, o principal motivo para a perda de participação da Honda é uma série de erros em lançamento de novos produtos. Em 2004, a montadora decidiu lançar uma moto de 150 cilindradas e interromper as vendas de modelos de 125 cilindradas, de longe os mais comercializados no país (são as motos usadas por motoboys e equivalentes).

"Nosso objetivo era colocar no mercado um novo padrão de baixa cilindrada", diz Marcos Fermanian, executivo da área de vendas da Honda. "Paramos de fabricar a 125 cilindradas para não confundir o consumidor." Com o vaivém da Honda, os concorrentes ganharam mercado.

 E a montadora japonesa perdeu 4,5 pontos de participação em apenas um ano. Para recuperar o espaço, a Honda se meteu em outra trapalhada, o lançamento de uma moto de apenas 100 cilindradas, a Pop 100. Lançado com estardalhaço no início de 2007, o modelo foi uma decepção.

A Pop 100 custa 4 000 reais, 1 000 reais a mais que sua principal concorrente, a Hunter 90, da Sundown. Em dez meses, a Honda comercializou 75 800 unidades do produto -- metade das estimativas iniciais.

Os resultados colocaram a Honda em rota de colisão com seus 630 revendedores, insatisfeitos com a estratégia da empresa. Alguns deles entraram na Justiça contra a montadora. Segundo a acusação, a Honda se recusa a pagar indenização em caso de rescisão de contrato, como manda a lei.


O clima está tão azedo que a Honda não enviará representantes à convenção anual dos distribuidores, marcada para dezembro no navio MSC Opera.

"Os temas discutidos nesses encontros não nos interessam", diz Fermanian. De acordo com a montadora, os revendedores reclamam à toa. A companhia ainda é líder absoluta no mercado local, e as vendas de todo o setor vêm crescendo exponencialmente em 2007 (como acontece no mercado de automóveis).

A receita no Brasil aumenta cerca de 20% ao ano, enquanto o ritmo na China e na Índia está abaixo de 15%. O problema, para a Honda, é que sua fatia no bolo não pára de diminuir. E o crescimento do mercado faz com que o Brasil atraia o interesse de outras montadoras.

Seis novas marcas, cinco delas com capital ou tecnologia chinesas, vão começar a produzir motocicletas em Manaus a partir do ano que vem. Entre as novatas estão a Dafra (do grupo de concessionárias Itavema) e a Traxx (empresa do grupo China Jialing, líder no mercado chinês).

"Se o roteiro de países como Indonésia e Argentina se repetir por aqui, as concorrentes chinesas vão crescer muito. E rápido", diz Sérgio Reze, presidente da Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores. Ao que tudo indica, para a Honda, os desafios do antes cativo mercado brasileiro de motocicletas podem estar longe do fim.

Acompanhe tudo sobre:AutoindústriaCarrosEmpresasEmpresas japonesasHondaHonda CivicIndústriaIndústrias em geralMontadorasVeículos

Mais de Revista Exame

Linho, leve e solto: confira itens essenciais para preparar a mala para o verão

Trump de volta: o que o mundo e o Brasil podem esperar do 2º mandato dele?

Ano novo, ciclo novo. Mesmo

Uma meta para 2025