(Arte/BLOOMBERG BUSINESSWEEK)
Bloomberg Businessweek
Publicado em 25 de janeiro de 2024 às 06h00.
Em um laboratório a cerca de 1 hora de carro a noroeste de Londres, o químico Matthew Coulshed derrama um líquido cor de vinho forte em um grande jarro plástico. Frascos com minibotões de rosa, manjericão santo e outras ervas ficam na bancada, prontos para ser processados. Ele está mexendo nos ingredientes do Sentia, uma bebida destilada à base de plantas e sem álcool, que promete proporcionar “aquela sensação de dois drinques”, melhorando o humor de uma pessoa e tornando-a extrovertida e falante, sem as desagradáveis espirais de ansiedade, dores de cabeça e náuseas que a bebida alcoólica pode trazer. Além disso, contém apenas nove calorias por porção, bem como vitaminas.
A Gaba Labs é uma entre várias startups que surgiram em resposta a uma maior conscientização sobre os danos que o consumo de álcool representa: os jovens preocupados com a saúde estão bebendo menos do que os millennials ou os baby boomers quando tinham a mesma idade.
Com um valor de vendas global inferior a 1 bilhão de dólares, as bebidas sem álcool representam apenas uma fatia do mercado de bebidas alcoólicas, avaliado em 650 bilhões de dólares, mas estão em franca expansão. Elas deverão crescer cerca de 30% ao ano nos próximos anos, ante 6% das bebidas convencionais, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado Euromonitor. Portanto, não é surpresa que a categoria esteja atraindo o interesse de empresas multinacionais de bebidas alcoólicas, como a Diageo e a Pernod Ricard.
Sejam grandes, sejam pequenas, todas essas empresas buscam clientes mais jovens. Entre aqueles de 18 a 26 anos nos Estados Unidos e no Japão, mais de metade afirmou não ter consumido álcool nos seis meses anteriores, de acordo com o instituto de pesquisa IWSR. Num estudo separado da Gallup Poll, 62% dos adultos americanos com menos de 35 anos disseram que bebem, ante 72% dez anos atrás.
“A rápida mudança está sendo impulsionada por uma geração que realmente questiona tudo”, afirma David Orren, CEO da Gaba Labs, cujo produto, Sentia, está disponível em duas variedades, vermelha e preta, em 15 países. “Eles leem tudo, verificam tudo e querem saber tudo o que contém.”
Como diz Orren, o Sentia não é o carro-chefe da Gaba Lab. Seu cofundador, o cientista David Nutt, passou décadas desenvolvendo um substituto do álcool totalmente sintético chamado Alcarelle, que é ainda mais eficaz na criação de um burburinho agradável sem nenhuma desvantagens. Seu objetivo final é vender o composto a outros fabricantes de bebidas alcoólicas. Mas antes que isso aconteça, eles precisam arrecadar aproximadamente 15 milhões de libras (19 milhões de dólares) para submeter o Alcarelle ao processo de aprovação da FDA americana.
A formulação do Alcarelle está envolta em segredo, mas os ingredientes ativos do Sentia estão listados no frasco e incluem extratos botânicos, como magnólia e tília, muitos dos quais já são conhecidos por terem propriedades relaxantes. A Leilo, uma startup de Nova York, usa extrato de uma planta conhecida como kava, usada há centenas de anos no Pacífico Sul por suas propriedades psicoativas, para preparar coquetéis não alcoólicos prontos para beber nos sabores pina colada, amora-preta, laranja, entre outros.
Os adaptógenos — nome dado às ervas que podem aliviar o estresse ou a ansiedade — ainda representam uma pequena parcela do mercado de bebidas não alcoólicas. E eles não estão isentos de controvérsia. O Kratom, derivado de uma planta encontrada no Sudeste Asiático que produz um leve efeito estimulante, causou preocupações sobre suas propriedades viciantes; alguns estados americanos estão tentando regulamentá-lo.
A Diageo, a Pernod Ricard e outras empresas têm até agora evitado substâncias psicoativas não alcoólicas, apostando em especiarias e plantas que dão sabor. A Diageo, que fabrica versões não alcoólicas do gim Gordon’s, comprou em 2019 uma participação majoritária na Seedlip, uma marca de bebidas não alcoólicas que fazia parte de seu programa acelerador, a Distill Ventures.
Dados compilados pela Euromonitor mostram que o preço médio por litro de bebidas não alcoólicas, de 38 dólares, excede agora o das opções alcoólicas — sugerindo que podem ser mais lucrativas para as empresas. A Lyre’s, empresa britânica de quatro anos e meio, cobra cerca de 35 dólares por uma garrafa de 700 mililitros de seu gim sem álcool nos Estados Unidos, o que equivale a cerca de 13 dólares a mais do que uma garrafa de Tanqueray, que também inclui impostos sobre o álcool.
O cofundador da Lyre’s, Carl Hartmann, diz que 90% de seus clientes desejam moderar o álcool ou as calorias, em vez de eliminá-los completamente. Por exemplo, 100 mililitros de seu gim fake tem apenas dez calorias, em comparação com cerca de 200 do produto normal.
Os medicamentos para perda de peso, Ozempic e Wegovy, representam um desafio para os fabricantes de bebidas não alcoólicas, pois parecem aliviar a atração de substâncias viciantes, incluindo o álcool. As empresas focadas no mercado americano estão em maior risco, segundo uma pesquisa da Morgan Stanley, que prevê queda de 2% no consumo até 2035.
Mas, de acordo com Hartmann, a rotulagem de calorias já está conscientizando e afastando os consumidores. (Na Europa, alguns produtores começaram voluntariamente a imprimir essa informação nos rótulos, mas os reguladores poderão em breve tornar esse passo obrigatório.) Hartmann diz: “Não creio que as pessoas tivessem qualquer noção sobre as calorias vazias do álcool”.
Dasha Afanasieva, da Bloomberg Businessweek
Tradução de Anna Maria Dalle Luche