hero_Café, ESG e circularidade: como a Nespresso se protege das mudanças climáticas

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Café, ESG e circularidade: como a Nespresso se protege das mudanças climáticas

EXAME entrevistou o CEO global da empresa, Guillaume Le Cunff, que mostra o futuro da produção de café e como mitigar o risco do aquecimento

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Café, ESG e circularidade: como a Nespresso se protege das mudanças climáticas

EXAME entrevistou o CEO global da empresa, Guillaume Le Cunff, que mostra o futuro da produção de café e como mitigar o risco do aquecimento

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Por Marina Filippe

Publicado em 13/02/2023, às 15:59.

Última atualização em 09/08/2023, às 16:36.

Compromisso net zero e o desafio de reciclar as cápsulas

Em uma quente manhã de janeiro, o ritual de abertura da Nespresso no Shopping Rio Sul foi modificado. Um grupo de cerca de dez funcionários, de diferentes cargos, utilizaram o espaço para tomar café com Guillaume Le Cunff, presidente global da Nespresso, que estava acompanhado de Ignacio Marini, CEO da companhia no Brasil. “Algumas das pessoas aqui vejo online semanalmente, mas nada se compara com o momento em que você se conecta fisicamente, fala de planos e demonstra sua gratidão”, disse Le Cunff, que não visitava o Rio de Janeiro há vinte anos.

Nos quatro dias em que esteve no Brasil, além da agenda no Rio de Janeiro, o executivo visitou três fazendas parceiras na região de Uberlândia, em Minas Gerais. Todas são referência em baixa emissão de carbono, e uma delas é até negativa em carbono, além de não utilizar pesticidas.

A diminuição das emissões de carbono é uma das iniciativas do Programa Nespresso AAA de Qualidade Sustentável, iniciado há 20 anos para garantir a produção de café que contribua com a preservação do meio ambiente. O programa hoje é parte central da estratégia net zero da empresa que massificou o café em cápsulas e as 1.289 fazendas que fornecem para a companhia no Brasil fazem parte dele, o que faz do país um mercado estratégico.

Mas, há outros desafios além das emissões, cuja redução é fundamental para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. O aumento da reciclagem das cápsulas, o desenvolvimento de produtos mais sustentáveis e o engajamento dos consumidores nas pautas ESG são alguns deles. Confira os detalhes na entrevista exclusiva para a EXAME, a seguir:

Guillaume Le Cunff, CEO global da Nespresso: "A sustentabilidade é de fato uma jornada e temos de acelerar algumas frentes" (Leandro Fonseca / EXAME)

O programa de qualidade e sustentabilidade nas fazendas completa 20 anos em 2023. Quais são os aprendizados nessa jornada?

Estamos orgulhosos do que fizemos nos últimos 20 anos ao oferecer ferramentas e métricas para a melhoria das fazendas e da remuneração dos produtores de café. Mas, a sustentabilidade é de fato uma jornada e temos de acelerar algumas frentes. Por exemplo, planejamos ter zero emissão de carbono na produção de café até 2030, pois acreditamos que a economia de baixo carbono é o caminho a seguir, inclusive na produção das máquinas e em outros momentos do negócio para além das fazendas. Outro pilar importante é o da economia circular: reciclar o alumínio é uma forma, fazer cápsulas compostáveis é outra, e o desafio é ser totalmente circular.

De todo modo, nos últimos vinte anos muita coisa tem acontecido.

"Desde 2009, por exemplo, reduzimos a pegada de carbono de um copo de Nespresso em 25%. "
E nossas ações auxiliam a Nestlé no objetivo de ser net zero até 2050 a partir de metas alinhadas ao Science-based Targets Initiative (SBTi) em referência também ao Acordo de Paris. Isto significa que, ao mesmo tempo, aumentamos a ambição de onde queremos chegar.

Guillaume Le Cunff: "planejamos ter zero emissão de carbono na produção de café até 2030, pois acreditamos que a economia de baixo carbono é o caminho a seguir" (Nespresso / Divulgação)

Qual o impacto das mudanças climáticas na produção de café, e como a Nespresso trabalha com esse desafio?

A mudança climática se tornou o maior desafio do agricultor. No Brasil, estamos falando de questões como a variação de temperatura e das chuvas. Na Colômbia, por exemplo, chove muito. Por isso, temos um trabalho para reviver as plantações de cafés. Um exemplo aconteceu em Porto Rico, quando o furacão Maria, em setembro de 2017, atingiu mais de 80% dos cafezais. Desde então, um programa de regeneração da cafeicultura tem sido a força motriz por trás da linha Nespresso Reviving Origins, lançada em 2019. O programa visa oferecer treinamento para cafeicultores, a fim de aumentar a produtividade agrícola e o apoio às usinas de processamento, conseguindo aumentar a qualidade do produto e a sustentabilidade das operações.

Com o furacão Fiona impactando Porto Rico apenas cinco anos após o furacão Maria, estamos nos reunindo com parceiros para entender como podemos apoiar os esforços de socorro e recuperação, mas já percebemos menores danos desta vez. Objetivamente, não dá para dizer que o impacto atual foi 100% por conta do que fizemos, mas é inegável que a ação tem valor. Além disso, ao todo, cerca de 11.700 fazendas já foram, de alguma forma, beneficiadas pelo Reviving Origins.

"Sabemos da importância da reciclagem das cápsulas e que ainda não somos perfeitos nessa missão: reciclamos cerca de 25% do total produzido no mundo" (Nani Rodrigues / Nespresso)

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O senhor disse que a circularidade é tão importante quanto o acompanhamento das fazendas. Como tem sido o trabalho nesta frente?

Sabemos da importância da reciclagem das cápsulas e que ainda não somos perfeitos nessa missão: reciclamos cerca de 25% do total produzido no mundo, mas a circularidade é uma obsessão. Para se ter ideia, 40% das emissões de carbono são da produção do café, 20% da energia ao se utilizar a máquina e 10% das embalagens das cápsulas -- o restante vem da produção da máquina, distribuição e mais. Todos os clientes Nespresso têm opção de reciclagem das cápsulas usadas, seja em 300 pontos de coleta no Brasil e 100.000 no mundo, logística reversa ou via correios. Para aumentar os indicadores de reciclagem, precisamos que as pessoas sejam leais no retorno do resíduo. Outra questão sobre as cápsulas é que com elas não há café desperdiçado, diferentemente de outras formas de se consumir a bebida, por exemplo. Isso é importante ao considerar os dados de emissões de carbono na produção.

Como tornar o consumidor leal no processo de reciclagem?

O desafio é engajar o consumidor. Fazemos comunicações, promoções e ações que incentivam a devolução, pois temos um potencial grande para melhorar. Pensando nisso, fazemos parcerias também com governos. Um exemplo é recém-anunciado programa “SP+B”, que é parte de um movimento para acelerar o desenvolvimento sustentável e engajar o setor privado nos desafios da cidade de São Paulo. Este é o primeiro ano de operação efetiva do SP+B e o foco será convidar empresas para a autoavaliação do Sistema B, do qual já fazemos parte e, neste caso, participamos com foco em abraçar o pilar de economia circular para entender como acelerar mais essa agenda na cidade e reciclar tudo o que vendemos.

Para além da reciclagem, a Nespresso está testando formatos como a cápsula de papel. Como é essa novidade?

No fim de 2022 anunciamos o lançamento de cápsulas compostáveis, feitas de papel. Inicialmente, as vendas são na França e na Suíça. Começamos esse projeto em 2020 e levamos esse tempo para desenvolver tecnologias, máquinas e tudo mais que fosse necessário para manter a qualidade da Nespresso em uma cápsula de papel.

Apesar de 80% do material da cápsula tradicional ser reciclado, percebemos essa demanda a partir de dados como: cerca de 45% dos franceses fazem compostagem doméstica de um ou mais tipos de resíduos biodegradáveis. Assim, fizemos pesquisas para definir o formato ideal da cápsula, os materiais utilizados e mais. Agora, entre o primeiro e o segundo trimestre deste ano, vamos começar a ouvir os feedbacks dos consumidores, especialmente a partir das conversas com os times nas boutiques. Escolhemos fazer o piloto em dois países na Europa, mas assim que pudermos, vamos ampliar para outras regiões.

Os consumidores, globalmente, estão realmente interessados na sustentabilidade?

Sim, e estamos aqui para prover mais opções para os consumidores. Além disso, não queremos que produtos como sustentáveis sejam mais caros do que o modelo até então tradicional.

"Muitos consumidores esperam que as marcas façam a coisa certa e essa é mais uma oportunidade para engajar e explicar quem somos e como trabalhamos."

A partir deste ano, o Índice de Igualdade de Gênero medirá o progresso também nas fazendas (Nespresso / Divulgação)

Quando falamos dos pilares ESG e dos impactos climáticos, não podemos deixar de considerar temas como diversidade e inclusão. Como a Nespresso trabalha esse aspecto?

Este é um assunto muito importante para nós. Não há como fazer a diferença no mundo sem abraçar a diversidade. Há uma prática diária que considera os desafios locais, visto que o Brasil tem uma realidade diferente da Suíça, por exemplo. No Brasil, 60% dos funcionários se identificam com o gênero feminino, e 74% da liderança é feminina. Além disto, fazemos parte de políticas da Nestlé, como uma revisão anual para o pagamento justo, eliminando diferenças ocasionadas exclusivamente por gênero. Outro ponto é que são 113 nacionalidades diferentes nas operações da marca.

"A diversidade é considerada também nas fazendas. Assim, a partir de 2023, o Índice de Igualdade de Gênero medirá o progresso em relação a 10 principais indicadores, como o percentual de mulheres na agricultura e o percentual de mulheres liderando esses negócios."

De modo geral, neste tema e nos demais do ESG, nossa meta para este ano é ser melhor do que fomos nas últimas décadas. Estamos orgulhosos do que fizemos, mas ainda não é o suficiente para termos o mundo que almejamos. Estamos atentos à economia mundial, continuamos inovando e lançando produtos, sempre pensando em como superar momentos desafiados e gerar impacto positivo.

Entre o lançamento de cápsulas compostáveis e a reciclagem, a Nespresso quer manter o preço dos produtos inalterados

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Créditos

Marina Filippe

Marina Filippe

Repórter de ESG

Mestre em Ciência da Comunicação pela USP. Na EXAME, desde 2016, escreveu em negócios, gestão e sustentabilidade. Foi finalista dos prêmios de Jornalismo Inclusivo e Comunique-se, e reconhecida entre os Mais Admirados da Imprensa.

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